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Tecnologia gera economia e produtividade em camarão

TCP é definida como um ecossistema perfeito, onde os microrganismos presentes não competem


Foto: Pixabay

O Brasil produziu aproximadamente 90 mil toneladas de camarão no ano passado, de acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC). Isso representou um crescimento de praticamente 17% as contra 77 mil toneladas produzidas em 2018, e a expectativa é de que esse número suba para 120 mil em 2020, 150 mil em 2021 e 200 mil toneladas em 2022. Dentre os estados, o Ceará é o grande destaque, com 35 mil toneladas produzidas ano passado, seguido pelo Rio Grande do Norte (26 mil), Paraíba e Pernambuco – com sete mil cada.

Entretanto, os especialistas do setor afirmam que esse desempenho tem potencial para ser muito maior do que já é. Para que isso aconteça, porém, são necessárias soluções para aumentar a produção e diminuir os custos dos produtores. Uma alternativa que tem chamado a atenção pelos resultados é a Tecnologia de Consórcio Probiótico (TCP).

A TCP é definida como um ecossistema perfeito, onde os microrganismos presentes não competem entre eles. Pelo contrário, a combinação desses microrganismos produz metabólitos (ácidos orgânicos, enzimas, aminoácidos, vitaminas e açucares) que multiplicam os microrganismos benéficos quando atuam diretamente sobre a matéria orgânica existente, recuperando e restaurando o meio em que se aplicam.

As soluções resultantes dessa tecnologia podem ser apenas com metabólitos do nosso ecossistema, podem ser metabólitos com os microrganismos vivos ou simplesmente os microrganismos vivos. Várias soluções são produzidas a partir dessa tecnologia. Desenvolvida por meio de uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem o diferencial de ser focada não somente no animal, pois além de produtos de fermentação aplicados no indivíduo, também possui elementos benéficos ao ambiente. Isso é essencial, uma vez que a saúde do animal depende do equilíbrio com a limpeza e com a qualidade microbiológica do ambiente em que ele vive, explica o pesquisador Geraldo Alberton, da UFPR. 

Estudo confirma desempenho, saúde e qualidade

Um estudo sobre essa aplicação está sendo realizado pelo professor Doutor Eduardo Ballester, do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Aquicultura Sustentável (NPDA), do Laboratório de Carcinicultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele fez um experimento para avaliar a utilização da TCP durante a produção de juvenis de camarão em sistema de bioflocos.

A espécie utilizada no estudo foi o camarão branco do Pacífico, Litopenaeus vannamei, que é a principal espécie de camarão marinho produzida em cativeiro no Brasil e no mundo. “Devido a problemas sanitários e impactos ambientais, a produção deste camarão tem sido desenvolvida em sistemas fechados com a tecnologia de bioflocos (BFT)”, comenta o pesquisador.

“A sobrevivência dos animais nos diferentes tratamentos avaliados ficou entre 92 e 96 %. Os camarões produzidos com a tecnologia TCP apresentaram maior peso e comprimento em relação aos camarões cultivados no tratamento controle. Além disso, foram feitas avaliações para determinar o índice escalonado de massa, que é uma medida relacionada com o bem estar e saúde do animal produzido. Também para esta variável os camarões produzidos com a TCP tiveram desempenho superior”, completa.

Como conclusão, ele constatou que os resultados do trabalho apontaram para um melhor desempenho zootécnico, melhor índice de saúde e melhores condições de qualidade de água nos tratamentos onde foi utilizado o TCP, comprovando a eficácia deste produto para a produção de camarões marinhos, em sistemas de bioflocos durante a fase de berçário.

Produtores comprovam na prática

O produtor e pesquisador Giovanni Chasin, que é especialista em criação de camarão, fez um experimento com a TCP comparando os resultados da tecnologia com similares nos quesitos Mineralização de Matéria Orgânica e Antagonismo ao Víbrio – uma doença que acomete muitos viveiros. “Devido que existem muitas marcas de produtos bioremediadores para uso em viveiros e se faz impraticável uma comparação destes ao mesmo tempo em fazenda, a primeira opção debe ser feita a maneira de bioensaio com uma mesma amostra para todos os produtos”, diz ele.

Comparando produtos intitulados A, B e C, ele concluiu que o produto A teve um melhor desempenho que os outros produtos. No entanto, ao comparar o produto A com a TCP, esta última teve um desempenho ainda melhor.

“Nesta avaliação a produção de CO2 correspondente as amostras do biorreator [fonte do produto A],e à TCP [produto] foram substraidas das leituras finais que resultaram dos tratamentos. Nesta avaliação a TCP mostrou um desempenho 14,54% acima que o produto A que tinha sido selecionado anteriormente”, conclui em seu artigo.

Outro produtor que está acompanhando de perto o desenvolvimento e os benefícios da TCP no cultivo de camarão é Emiliano Medeiros, Supervisor da CELM Aquicultura. Ele explica que o probiótico está contribuindo, junto com outras alternativas, para o aumento dos lucros em sua produção.

“Eu realmente tive aumento de lucros, pois consegui substituir a fonte de carbono, que inicialmente era açúcar cristal, que é mais caro que o melaço. Quanto que eu consegui em média reduzir? Falando em percentual, daria em torno de 40% a 65%. Em relação ao probiótico a gente se manteve praticamente com o mesmo custo entre R$ 800,00 a R$ 1.100,00 reais por ciclo, e isso foi um ponto bastante importante”, conta Medeiros. 

Isso porque, mesmo que tenha resultado no mesmo custo, a TCP agrega soluções aos probióticos utilizados anteriormente, otimizando algumas tarefas. “Eu reduzi as limpezas que fazemos: por exemplo, as limpezas de fundo. Entramos nos viveiros para retirar sólidos que ficam no fundo. Com a aplicação da TCP eu consegui reduzir essa frequência. Existia sujeira, mas era mineralizada, então ela não estava distribuída como nitrogenados. O total de amônia nitrogenada na água chegava a dois ou três, o que é alto, significa um descontrole, e eu consegui manter no máximo em 0,50 com o uso da TCP”, completa.

“A TCP proporcionou mais qualidade, principalmente de água, na qual eu vi um equilíbrio nesse tocante. A qualidade de água melhorou muito. Esse controle de nitrogenados, indiretamente, trouxe também um controle de alguns organismos como cianobactérias, que já são bem presentes no meio e eu consegui controlar e, você tendo um equilíbrio, acaba convertendo em produtividade”, conclui o produtor.

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