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Lagarta preta: uma ameaça a cultura da soja!



José Luis da Silva Nunes*

A mariposa Spodoptera cosmioides (Walker) apresenta importância agrícola devido ao fato de que suas lagartas alimentam-se de plantas de diversas famílias de valor econômico, como gramíneas e leguminosas. Esta espécie apresenta grande variação de coloração na fase larval, o que dificulta a identificação específica. As mariposas de S. cosmioides depositam os ovos em massas sobre as folhas baixas da planta ou sobre o solo. Após a eclosão, as lagartas possuem cor geral marrom, modificando a coloração para preta, com listras longitudinais brancas e marrons.

No Brasil, são citados como seus hospedeiros o pimentão, o tomateiro, o algodoeiro (maçãs), o feijão caupi, mudas de abacaxizeiro, a ameixeira do Japão, o arroz, begônia, a cebola (partes verdes), mudas de eucalipto, o mamoneiro, a mangueira, a pimentão doce, o poejo, a berinjela e as hortaliças em geral.  Além disto, constituem, juntamente com S. eridania (Cram.), o principal grupo de lagartas que atacam vagens de soja.

Até o início da década, não havia registros da ocorrência de danos da praga em níveis econômicos para a cultura da soja. Porém, em algumas fazendas do Brasil, principalmente nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ocorreram surtos de S. cosmioides, causando severos danos à cultura. A provável causa dos surtos seria a aplicação frequente de inseticidas químicos de amplo espectro, que teriam eliminado os inimigos naturais que mantinham a população da espécie em equilíbrio. Um exemplo semelhante ocorreu em Honduras, no ano de 1996, quando a praga causou danos significativos em lavouras de milho e sorgo em estágio inicial de desenvolvimento, quando se fazia o controle de ervas daninhas com herbicidas. Isto ocorreu porque o inseto apresenta uma estreita relação com a vegetação não cultivada presente na área.

Além disto, as condições climáticas de uma região podem ser fatores determinantes para a ocorrência desta praga, pois afetam diretamente o desenvolvimento e o comportamento do inseto e indiretamente a sua alimentação. De modo geral, a faixa ótima para o desenvolvimento e atividade dos insetos situa-se entre 15°C e 38°C. Dentro dessa faixa favorável, a temperatura influencia, entre outros fatores, a velocidade de desenvolvimento, que é maior em condições de temperatura mais elevada.

A associação destes fatores, relacionados ao manejo das culturas e as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da praga, proporcionam o crescimento da população do inseto. Soma-se a isto a necessidade das fêmeas desta espécie, que precisam de reservas protéicos para realizar a postura, consumidas durante a fase larval. Além disto, recentemente foi demonstrado que, para obter longevidade e fecundidade ótimas, as fêmeas adultas requerem sais minerais, lipídios e vitaminas, em adição aos aminoácidos ou proteínas consumidas pelas lagartas. Neste aspecto, as plantas de soja fornecem estes elementos em quantidades excelentes para a produção de várias gerações sucessivas durante uma safra.

Como inseto praga que passou a ser encarado recentemente como um problema mais sério, não existem produtos na cultura da soja registrados para o controle desta espécie. Normalmente o produtor lança mão de defensivos para outras lagartas que atacam a cultura. Associado a falta de moléculas registradas para o controle do problema, a ação da praga ocorre em vários momentos do desenvolvimento da cultura. Quando as plantas já se encontram com maior porte, a eficácia da pulverização de qualquer inseticida fica comprometida, já que é tratorizada, com o emprego de hastes a 40 cm acima das plantas.  Com isso, o composto não consegue cobrir totalmente a biomassa da planta, deixando locais sem proteção e suscetíveis ao ataque da praga. Além disto, as lagartas agem de baixo para cima porque iniciam o ataque assim que os ovos depositados pelas mariposas eclodem, tendendo a manterem-se protegidas dos inimigos nos locais mais escondidos das plantas.

Para os produtores, o aumento dos ataques desta praga passa a ser a maior preocupação para a safra de 2009/2010, já que os inseticidas tradicionais não trazem bons resultados no seu controle. Sob este ponto de vista, a praga torna-se muito prejudicial para a cultura da soja.
 
*Dr. em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, atua como Engenheiro Agrônomo para o Portal Agrolink.

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