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Brasil 2 X Argentina 3


Amado de Olveira Filho
E foi de virada e em Mato Grosso! Mas não foi no futebol. Ocorre que o grupo “El Tejar” braço econômico de uma organização denominada de “Consórcio Regional de Experimentação Agrícola – CREA”, de nacionalidade Argentina, ultrapassou em volume, os dois maiores produtores de soja do Estado de Mato Grosso e do Brasil. Em tese, isto não seria relevante, afinal, o modo de produção brasileiro é o capitalista e os ideários econômicos asseguram que para o capital não existem fronteiras. Porém, ao refletir a respeito, algumas perguntas não são respondidas.

O grupo El Tejar, já atua em terras arrendadas e próprias na Argentina, no Uruguai, no Paraguai, na Bolívia e, em Mato Grosso no Brasil. Segundo divulgação em sua página na Internet (www.eltejar.com), a administração dos riscos e a construção de preços, a escolha de áreas com clima e solos adequados à produção, a escala, a organização, além da escala, são os fatores que tornam possíveis a obtenção de resultados positivos.

Para se obter os resultados projetados na produção de soja no Brasil, o grupo argentino terceiriza todas as atividades agrícolas, ou seja, os fatores de produção como máquinas e equipamentos e a mão-de-obra, que chamam de “serviços agrícolas” e tidas como a chave da competitividade do negócio, via de regra são dos brasileiros que já lhes arrendam a terra.

Em fevereiro de 2009, com o artigo intitulado: Propriedade da terra e fusões rurais discuti este tema nesta coluna. Na época, ouvi de produtores mato-grossenses que se tratava de um excelente negócio, pois, descapitalizados, a parceria permitia a sua manutenção na atividade além de permitir a necessária obtenção de renda. Alertava, no entanto, que quem arrenda suas terras deve ter muito cuidado ao recebê-las de volta, sob pena de ter que investir pesado para voltar a produzir.

Mas o que fazem os argentinos que os mato-grossenses não fazem? Muito! Liguei para o principal executivo do grupo que possui sede no Brasil no município de Primavera do Leste, o cidadão não atendeu ao telefone, mas na internet, explicam que são capazes de reduzir riscos financeiros e maximizar a produção e a rentabilidade produzindo com os custos mais baixos por unidade produzida, operando em mais de um País e selecionando áreas onde produzir.

Assim, podemos entender que arrendam terras oferecendo ao proprietário um valor financeiro pelo uso do solo, equipamentos, mão-de-obra, etc, que assegurará o lucro esperado em função da produtividade elevada que a produção de soja no Estado oferece e, principalmente, em função de que o arrendatário detém larga experiência no cultivo da soja.

Portanto, a grande diferença entre “Los Hermanos” e os nossos tradicionais produtores rurais é que os argentinos estão capitalizados. Aqui, com dinheiro consegue exercer a principal premissa da comercialização, a barganha. Já na Argentina, o setor produtivo rural vive às turras com a Casa Rosada e sua Presidente Cristina Kirchner. Porém aqui, conseguem impor aos nossos produtores os seus preços. Portanto, para eles, produzir no Brasil é um grande negócio.

Por outro lado, um dos temas mundiais que está e continuará sendo debatido é a produção e preços dos alimentos, onde as grandes potências já se movimentam no sentido de controlar os preços das commodities. Assim, considerando a possibilidade de estrangeiros aumentarem este modelo de produção no Brasil, o governo brasileiro deve se ater ao aspecto de transferência de renda a outros países de uma atividade que para ser exercida obrigatoriamente gerou passivos ambientais.

Não se trata de inibir tais parcerias, pois se elas existem é porque foram necessárias, mas avaliar as causas que levam um significativo número de proprietários rurais mato-grossenses a arrendarem suas terras e fazer com que tenham plenas condições de eles mesmos, continuar a exercer a sua vocação, a produção de alimentos.

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