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Comportamento parental: implicações no manejo de rebanhos


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Danielle Azevedo – Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte

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Parnaíba, 18 de fevereiro de 2008 - O comportamento reprodutivo divide-se, teoricamente, em comportamento sexual e comportamento parental. O primeiro, como a própria terminologia já indica, refere-se às práticas de corte e acasalamento entre o macho e a fêmea de uma dada espécie. Já o comportamento parental relaciona-se aos cuidados direcionados aos filhotes desde o nascimento até que eles desenvolvam habilidades que assegurem sua sobrevivência.

Ao contrário do que muitos imaginam, o comportamento parental não é somente materno. Apesar da fêmea, a mãe, ser mais freqüentemente identificada como apresentando um comportamento parental (conhecido por comportamento materno), este cuidado com os jovens pode ser dispensado pelo pai, outros membros da família, ou mesmo outros membros do grupo ao qual o jovem pertence.

As condutas mais freqüentemente relacionadas ao cuidado parental são o preparo do local para a postura/parto, o cuidado com os ovos e com o recém-nascido até que ele tenha capacidade de sobreviver sozinho naquele ambiente, o que permite um aumento da sobrevida do animal e da taxa reprodutiva do grupo em questão.

Dentre os fatores que influenciam o investimento no comportamento parental, alguns atuam diretamente no sentido de seu estímulo, como: o reconhecimento da cria pela mãe/grupo, o tamanho da ninhada (quanto maior o número de crias maior o investimento), a distância entre as ninhadas sucessivas, a idade e qualidade dos filhotes,  os recursos alimentares disponíveis e a experiência prévia da mãe. A disponibilidade de parceiros, ao contrário, atua inversamente, ou seja, quanto maior o número de parceiros disponíveis menor o investimento da mãe no cuidado parental com suas crias. Exemplo comum deste último caso é o que acontece com felinos domésticos – a gata em presença de muitos machos pode abandonar sua ninhada e entrar em reprodução novamente. Principalmente se sua ninhada não for de gatinhos fortes e em bom número.

Em ambiente natural, a qualidade de vida dos filhotes está relacionada ao que conhecemos como Teoria da Otimização, isto é, quanto maior o número de descendentes deixado por um animal para a próxima geração, mais justificados estarão os custos ou estratégias utilizadas para manutenção de sua vida. Daí a ocorrência de infanticídio em algumas populações de animais em liberdade – o pequeno número de crias ou crias fracas, estimula o abandono pela mãe, ou mesmo o “assassinato” das crias.

Em relação à disponibilidade de alimentos, alguns casos têm sido relatados em ovinos sob restrição alimentar. A ovelha, ao parir dois ou mais borregos, “escolhe” aquele mais forte para acompanhá-la, abandonando o mais fraco à sua própria sorte. Daí a importância de realização de estação de monta em época que permita que os nascimentos ocorram sem que haja deficiência alimentar ou então que o produtor tenha o cuidado de utilizar suplementação alimentar.

A experiência prévia da mãe também está relacionada ao investimento parental. Mães de primeira cria, ou seja, sem experiência, tendem a apresentar maior possibilidade de rejeição de sua cria. Este fato agrava-se se a fêmea não sentir as dores do parto, como ocorre quando da realização de cesariana. Assim percebe-se que além de onerar os custos na propriedade com veterinário e medicamentos, a cesariana pode afetar o comportamento entre mãe-filhote, aumentando os casos de rejeição de crias. Em caso de rebanhos leiteiros, onde a cria é separada da mãe logo após o parto e alimentada artificialmente, isto não significa problema, porém em rebanhos de corte este fato pode ocasionar um transtorno para o manejo na fazenda.

Neste sentido, é também importante considerarmos que a mãe deve ter a possibilidade de externar um comportamento parental normal (ou comportamento materno normal), antes, durante e logo após o parto. Isso deve ser frisado, pois alguns tratadores não permitem que a própria mãe cuide da cria após o nascimento. É comum vermos tratadores apressando o parto – ou “ajudando” no parto, sem que isso seja necessário. Da mesma forma, também é comum encontrarmos propriedades em que a fêmea pare, mas o tratador se encarrega de dar os primeiros cuidados à cria: como limpeza, estimulação da respiração, corte do umbigo e estímulo à primeira mamada...

Em relação ao cuidado do tratador para com a cria, devemos considerar a ocorrência de duas situações diferentes em rebanhos de produção, sejam de leite ou, principalmente, de corte. A primeira delas quando a cria é separada da mãe nas primeiras horas após o parto, como ocorre geralmente na bovinocultura leiteira – não é importante o estabelecimento dos laços materno-filiais, pois a cria será aleitada (em geral no balde) e não amamentada. A responsabilidade para com a cria, após o nascimento, pode ser deslocada para o tratador, contanto que as práticas iniciais relacionadas ao corte do umbigo e à mamada do colostro sejam realizadas.

Na segunda situação, quando a cria permanece com a mãe nas primeiras 24 horas após o parto (em rebanhos leiteiros) ou até a apartação aos seis a oito meses (em rebanhos de corte) é imprescindível que a mãe tenha a responsabilidade total por sua cria, sob pena de rejeitar o seu filhote. Neste sentido, mesmo considerando que o “cuidado” do tratador pode possibilitar a redução das taxas de mortalidade de bezerros e os prejuízos econômicos decorrentes desta, é necessário frisarmos que a rejeição do filhote pode ocasionar a modificação no manejo dos animais na propriedade, o que implicará em maior custo com mão-de-obra qualificada, medicamentos e sucedâneos, representando redução na lucratividade do rebanho.

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