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Crescimento da população mundial e a disponibilidade de terras no mundo


Dante Scolari

Nos últimos anos a produção mundial de alimentos e fibras foi suficiente para atender a demanda mundial de uma população crescente. Em 1970 o mundo tinha 3,693 bilhões de pessoas e produzia 1,225 bilhões de t de grãos em 695 milhões de hectares, com uma produtividade de 1.493 kg/ha., produção per capita de 0,306 t em uma área colhida per capita de 0,205 hectares. Em 2.005 a população mundial já era de 6,453 bilhões, a produção mundial de grãos alcançava 2.219,4 bilhões de t em uma área colhida de 681,7 milhões de hectares, a produção per capita foi de 0,344 t e a área colhida per capita de 0,106 hectares. Neste período, o mundo conseguiu aumentar a oferta per capita de grãos sem grandes aumentos na área cultivada e colhida.

As projeções da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) sinalizam para 2.025 uma população de 7,851 bilhões, com 58% (4,579 bilhões) vivendo nas cidades e 3,272 bilhões (42%) nos campos. Nos países desenvolvidos a população será de 1,380 bilhões (17,58% do total) e no resto do mundo de 7,556 bilhões (84,7%). Neste ano, a população do continente africano será de 1,293 bilhões, da Ásia como um todo de 4,742 bilhões, da Europa 724,7 milhões, da América do Norte 332 milhões e da América do Sul 372 milhões.

China e Índia, os dois países mais populosos do mundo em 2.025 terão 36% da população mundial, com um total de 2,826 bilhões (1,457 bilhões e 1,369 bilhões respectivamente). Nestes países, com baixas taxas de migração rural urbana, a população rural ainda será elevada, com 52 % do total morando nos campos e 48% nas cidades. Estes dados indicam que nos próximos vinte anos 1,398 bilhões de pessoas serão incorporados ao mercado de consumo. Deste total, só 44 milhões (3,15% do total) estarão sendo incorporados no mercado nos países desenvolvidos. O restante de 1,354 milhões estará nos países pobres ou em desenvolvimento.

O atendimento das necessidades dos países ricos por alimentos e fibras vegetais mais funcionais e mais elaborados e da grande população de baixa renda nos demais países deve feito de modo sustentável e harmônico, isto é, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de também atender suas necessidades.

A produção de alimentos e fibras no mundo depende fundamentalmente da disponibilidade de terras apropriadas para a exploração agrícola e pecuária em quantidade e qualidade, uma vez que a produção em água (hidropônica) ainda é muito incipiente. Além dos alimentos, há necessidade de produção de fibras e madeiras e de animais de serviços, da preservação da vida selvagem e da manutenção das florestas e ecossistemas específicos em diferentes pontos do planeta.

Em 1961, década que deu início a grandes transformações tecnológicas na agricultura mundial com o surgimento da revolução verde, a área total mundial de terras era de 13.055,5 bilhões de hectares. Deste total a agricultura utilizava 4.513,31 bilhões, representando 34,5% da área global, com 3.147,09 bilhões de hectares utilizados com pastagens permanentes, (70% da área agricultura), 1.276,31 bilhões de hectares com cultivos anuais (28%) e o restante da área de 89,66 milhões de hectares (2%) com culturas permanentes. As florestas naturais e plantadas ocupavam 4.374,16 bilhões (33,5%) e o restante para todos os outros usos era de 4.168,03 bilhões de hectares (32%).

Em 2.000, a área mundial foi ajustada para 13.066,70 bilhões de hectares e 5.006,56 bilhões (38,3%) são utilizados na agricultura - os cultivos anuais utilizavam uma área de 1.396,28 bilhões, as pastagens permanentes ocupavam 26,60% da área com 3.475,20 bilhões de ha. e as culturas permanentes 135,08 milhões. As florestas naturais e plantadas utilizavam 4.270,10 bilhões (32,7% do total mundial) e em outros usos eram usados 3.790,04 bilhões de hectares (29% do total mundial). Houve um aumento percentual de 10,9% na área utilizada pela agricultura, um acréscimo de 493 milhões de hectares, passando a utilizar 38,3% da área total existente no mundo. Ocorreu uma redução de 2,37% nas áreas de florestas, que perderam 104,06 milhões de hectares e redução de 9,06% na área sob outros usos, ou seja, uma redução de 377,99 milhões de hectares.

Os alimentos básicos, fonte de carbohidratos e de proteínas são basicamente os mesmos, sejam de origem vegetal (grãos, raízes e tubérculos, oleaginosas e frutas) ou animal (carnes de suínos, aves e bovina, leite, ovos e peixes). Os mais importantes são os grãos (principalmente arroz, trigo, milho, centeio, sorgo, cevada, milheto e triticale) que ocupam uma grande área de cultivos, responsáveis por 66% da alimentação mundial e largamente produzido em vários países, desde os tempos mais remotos. Dos alimentos raízes e tubérculos o mais importante é a mandioca, com área colhida mundial de mais de 18 milhões de hectares. Das oleaginosas utilizada na alimentação, tanto humana como animal, as mais importantes são soja, dendê, girassol, algodão e coco. Os alimentos de origem animal, principais fontes de proteína na dieta alimentar são as carnes (suína, bovina e de aves), peixes, leite e ovos.

Para alimentar, ofertar fontes de energia e moradias e vestir adequadamente toda esta população adicional é necessário encontrar espaços geográficos (onde produzir) e novas formas racionais de produção sustentável (como produzir) de fibras vegetais, madeira e alimentos calóricos e protéicos, mais nutritivos e mais baratos, com o uso de novas tecnologias de produção.

Com o conhecimento existente a única saída seria expandir a fronteira agrícola, aumentando a área cultivada através da derrubada de mais florestas para produção de madeira e transformação em lavouras. Mas, na maioria dos países grande parte das florestas já foi derrubada e praticamente não existem mais áreas de reserva para serem utilizadas. Grande parte deste capital natural já foi utilizada. Em vários países asiáticos e africanos onde existe uma demanda reprimida muito grande por alimentos, a oferta de terras apropriadas para cultivos é baixa. Em muitas situações, já houve enorme degradação e o saldo ambiental é uma enorme poluição de resíduos e rejeitos ambientais. A capacidade de absorção e de regeneração do meio ambiente (também chamada de resiliência) pode estar seriamente comprometida, pois é muito difícil controlar a degradação ambiental em países de baixa renda e com forte crescimento populacional.

Seria utópico imaginar que seja possível aos países pobres alcançar o nível de consumo e desenvolvimento atual dos países ricos. O capital natural existente não é suficiente para atender uma demanda tão grande e a disponibilidade de capital humano, social e econômico é muito limitada. Mas, haverá maior consumo agregado de bens e serviços florestais, alimentos, vestuários, moradias e energia a nível mundial. Neste contexto o aumento na produção mundial de fibras vegetais e madeira passa a desempenhar papel relevante, não somente para vestuário e moradias, mas também para suprir uma demanda mundial crescente para uso industrial (móveis, utensílios domésticos, revestimentos de veículos, etc.) mesmo considerando-se que as inovações tecnológicas na indústria petroquímica foram marcantes nos últimos quarenta anos.

 

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