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Deseja entrar na atividade agropecuária?



Eugênio Libreloto Stefanelo
O agronegócio é uma das vocações do Brasil. É o responsável por 40% do PIB e das exportações brasileiras e por 35% dos empregos. A produção ocorre em aproximadamente 4,5 milhões de propriedades espalhadas por todo o território nacional, exceto a Amazônia legal e as áreas de preservação ambiental e reservas indígenas. No Paraná existem 350 mil propriedades, a maioria de pequeno tamanho.
As noticias sobre o agronegócio variam conforme a época: de altas produções ou significativos lucros a frustrações físicas e econômicas.
Nas épocas favoráveis, muitos desejam entrar na atividade, atraídos pelas informações favoráveis.
Antes dos novos entrantes se arriscarem na atividade, seria aconselhável entenderem algumas características específicas da produção e do mercado agropecuário.
Os princípios econômicos aplicados às empresas dos setores industriais e de serviços são também, em geral, válidos para as empresas rurais. No entanto, estas tem algumas características especiais a seguir descritas.

1-A terra, sua posse e o tamanho do empreendimento.

Para a indústria este fator de produção é um local para abrigar as construções. Para a agropecuária é o meio onde se desenvolve um processo biológico de crescimento das plantas ou animais, como na pecuária de corte e de leite. Este processo depende da qualidade da terra, ou seja, das condições físicas e químicas que a mesma apresenta e de sua topografia.
O acesso a terra pode se dar por meio da compra, de herança, de arrendamento ou de parceria estabelecida com o proprietário. A compra envolve alta disponibilidade financeira. Por outro lado, as atividades agropecuárias requerem inversões permanentes que o ocupante (arrendatário ou parceiro) nem sempre está disposto a efetuar, a não ser que o contrato de ocupação seja por um longo período de tempo.
A manutenção e melhoria da fertilidade da terra e de suas condições físico-quimicas implicam em sacrificar lucros atuais em benefício de lucros futuros. Por exemplo, a prática do plantio direto provoca maior conservação do solo, mas gera menor produtividade nos primeiros anos e maior ao longo dos anos futuros.
Quanto ao tamanho, cada atividade exige um tamanho adequado de propriedade ou de economias de escala.
A produção comercial de grãos e a pecuária de corte só são vantajosas economicamente em médios e grandes estabelecimentos. A pecuária leiteira, de suínos e aves, de hortigranjeiros e frutas, de flores e a produção em estufas pode ocorrer em pequenas propriedades.
Nas grandes propriedades os agricultores buscam, normalmente, a especialização e as economias de escala (redução do custo unitário de produção com os maiores tamanhos) e nas pequenas, as vantagens da diversificação. Estas duas estratégias são absolutamente complementares num mesmo espaço territorial e não mutuamente excludentes como alguns buscam erroneamente divulgar.

2-O clima e as estações do ano.

Para a produção industrial estas duas variáveis têm pouca importância, mas assumem um papel vital na produção agropecuária, condicionando praticamente todas as atividades. O clima, juntamente com o solo e a localização da propriedade em relação ao mercado, determina o tipo de exploração dentre as quais o agricultor pode escolher e as épocas para realizar as práticas inerentes ao ciclo da cultura ou criação, como o preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita, ou a colocação dos animais em cria, práticas sanitárias, de alimentação e manejo.

Assim, a sucessão das estações do ano assinala as épocas propicias para o produtor agropecuário realizar seus trabalhos e determina um espaço de tempo entre a realização dos investimentos e a efetiva disponibilidade dos produtos para a venda. O desenvolvimento de novas variedades de plantas e animais e a inovação tecnológica tem reduzido a dependência da produção agropecuária da natureza, mas está longe do controle do tempo, da quantidade e da qualidade da produção industrial. Tais fatos devem ser levados em consideração ao agricultor planejar o uso da mão-de-obra,  máquinas e instalações.

3-Produção associada.

Na agropecuária é normal a produção de mais de um produto proveniente de um mesmo indivíduo biológico, planta ou animal. Não há produção de leite sem a produção simultânea de carne, ou de ovos sem a produção de esterco, ou de grãos sem a produção de palha. Este fato interfere na oferta de outros produtos e no cálculo do custo de produção de cada produto.

4-Riscos

A atividade industrial e de serviços está sujeita ao risco do mercado e apresenta baixo risco de calamidades (fogo, vendaval, inundação). A atividade agropecuária esta exposta a alto risco de perdas por calamidades imprevisíveis de clima (seca, granizo, excesso de chuva) e biológicos (insetos, doenças e plantas invasoras), além da incerteza do mercado, discutida num próximo item.
A redução do risco pelo seguro rural é uma prática pouco empregada, devido a carência da política oficial e a pouca abrangência dos programas de seguro privados.

5-Perecibilidade dos produtos e matérias-primas.

Os produtos agropecuários são normalmente matérias-primas e perecíveis em diferentes graus.
Alguns exigem rápida logística entre o momento da colheita ou coleta e de seu consumo ou processamento industrial, como o leite, frutas e legumes, flores, aves e suínos. Também, por serem matérias-primas, requerem processamento industrial, alguns simples e outros mais complexos, para coloca-los na forma que os consumidores os demandam. Isto implica na não existência do produtor independente. Ele está vinculado a uma cadeia de produção agroindustrial e somente será eficiente e competitivo se ele e toda a cadeia for eficiente e competitiva.

6-O mercado

Os produtos agropecuários apresentam oferta sazonal (ocorre em determinadas épocas do ano) e com flutuação aleatória devido aos riscos de clima e biológicos. A qualidade e o tipo dos produtos não pede ser garantida antecipadamente, são matérias-primas, perecíveis, com alto volume e baixo valor unitário. Tais características têm implicações significativas na logística de suprimento, no transporte, na armazenagem, no beneficiamento e na industrialização.
A demanda de mercado destes produtos é razoavelmente constante durante todo o ano, exceto os produtos com demanda também sazonal; pouco sensível as variações de preços, ou seja, se os preços variam a quantidade demandada varia muito pouco; e normalmente pouco sensível as variações da renda. Os produtos já processados, no entanto, são mais sensíveis as variações de preços (elásticos a preço) e da renda.
Diante destas características da oferta e da demanda, os preços aos produtores apresentam grandes flutuações se ocorrerem aumentos ou reduções da oferta ou da demanda. Por exemplo, uma frustração ou um aumento da produção devido ao clima desfavorável ou favorável pode provocar grande variação do preço de mercado. Basta lembrar o que ocorreu com a soja, onde em dois anos o preço variou de R$ 20,00 para mais de R$ 50,00 a saca e baixou para os atuais R$ 30,00 a saca.
Outra situação importante é a de cada produtor individual. Como eles operam em estruturas muito competitivas de mercado (concorrência pura), tanto na compra dos insumos quanto na venda dos seus produtos, cada produtor não apresenta nenhum poder de mercado. Em outras palavras, não afetam individualmente o preço do que compram (insumos) ou do que vendem (produtos agropecuários), sendo, portanto, tomadores de preços (recebe o preço do mercado e nada pode fazer a respeito a não ser aguardar melhor época para a venda, quando isto for possível, dada a característica do produto e a existência de infra-estrutura).
Assim, cada produtor individual só tem uma estratégia par aumentar o seu lucro ou reduzir o seu prejuízo: baixar seu custo unitário de produção e de venda, aumentando sua produtividade mediante a adoção das melhores tecnologia no processo de produção.
Os produtores em conjunto podem recorrer a outras estratégias, como o cooperativismo, as associações, para efetuar a compra dos insumos, a venda da produção ou sua agroindustrialização e a prestação dos serviços de apoio à produção e à comercialização.
Com o advento da globalização, o fluxo de mercadorias e informações entre os paises é cada vez mais intenso e as mercadorias consumidas mundialmente cada vez mais são submetidas a um padrão internacional, que deve ser atendido.
Em resumo, ao planejar entrar na atividade você deve ter em mente, de forma clara, seus objetivos, e responder as seguintes questões ao organizar antecipadamente seu Plano de Produção:

· Que produtos ou combinações de produtos produzir e que espécies ou combinações de espécies de animais criar?
· Qual o melhor tamanho de propriedade ou da linha de exploração?
· Qual a disponibilidade de recursos e qual a quantidade necessária por hectare ou por animal?
· Quais as tecnologias e as práticas a serem adotadas?
· Qual a disponibilidade e a necessidade de pessoas e de máquinas e implementos e que programa de trabalho e de uso de máquinas serão adotados?
· Quais as construções e edificações necessárias, seu tamanho e tipo?
· Quais os recursos financeiros disponíveis e a necessidade de crédito?
· Que programas de conservação e de recuperação do solo devem ser adotados?
· Qual a distribuição da produção e da entrada de receita no tempo?
· Quais os mercados existentes para os produtos?
· Quais as políticas agrícolas oficiais disponíveis?

Alguns órgãos podem fornecer informações valiosas, como a EMATER, a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, o Ministério da Agricultura, a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, a Federação da Agricultura do Paraná, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, a Organização das Cooperativas do Paraná – OCEPAR e muitos outros. O tempo usado na busca das informações e o Planejamento antecipado fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso.

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