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Levantamento de árvores individuais nas pastagens do estado do Rio de Janeiro*



Sebastião Manhães Souto

A presença de árvores em pastagens é enfatizada em função, entre outros muitos benefícios, àqueles relacionados ao solo, as plantas forrageiras e aos animais.

Para evitar que oscilações extremas de temperaturas prejudiquem as respostas produtivas, é benéfica a presença de árvores, fornecendo sombra aos animais no pasto. Nas condições brasileiras, quando a temperatura do ar ultrapassa a 270C, as vacas leiteiras entram em estresse térmico e a produção de leite declina. Daí, recomendar-se para essas condições, que nas horas mais quentes do dia, das 10 às 16 horas, as vacas leiteiras tenham acesso a áreas sombreadas.

Se por um lado a presença de sombra proporcionada pelas árvores beneficia os animais, por outro lado, ela pode afetar o comportamento dos capins sob suas copas. Embora se saiba que o efeito de sombreamento na produção dos capins forrageiros depende da espécie ou mesmo da cultivar da planta, alguns pesquisadores já mostraram que o capim Marandu (Brachiaria brizantha) e algumas cultivares de capins das espécies Panicum maximum e Brachiaria decumbens apresentam tolerância ao sombreamento moderado (40% de sombra).

Os solos predominantes nas áreas reservadas para formação de pastagens com as espécies de capins forrageiros são geralmente ácidos e de baixa fertilidade natural. O baixo nível de N nos solos de pastagens é uma condição que pode ser muitas vezes observada através da coloração amarela das pastagens nas épocas do ano mais propícias ao crescimento das plantas. Pesquisas têm demonstrado maior teor de proteína e potássio nos capins crescendo sob a influência das copas de árvores de diversas espécies de leguminosas nativas, do que naquelas em áreas sem influência destas. Esses resultados indicam o potencial da utilização das espécies de árvores leguminosas, fixadoras de N2 atmosférico. Desta forma, uma densidade de árvores promovendo apenas sombreamento moderado às forrageiras, poderia contribuir significativamente para aumentar a produtividade e a sustentabilidade das pastagens e ajudar no controle de erosão, aspecto de grande importância, principalmente em terrenos ondulados e montanhosos, como são as áreas onde se encontram as pastagens no estado do Rio de Janeiro.

Outro efeito benéfico esperado da associação de pastagens com árvores é o aumento da fertilidade deste solo sob influência das árvores. E este efeito parece ser também maior com árvores das espécies leguminosas fixadoras de N atmosférico do que com as não-leguminosas.

Um aspecto que concorre para o sucesso da integração de árvores visando a sustentabilidade de pastagens cultivadas de capins é a existência de espécies arbóreas de crescimento rápido, nativas ou exóticas, adaptadas às condições edafo-climáticas de determinada região. A leguminosa arbórea Acacia mangium é um exemplo de espécie de crescimento rápido que apresenta excelente adaptação aos vários ecossistemas no Brasil, tem várias utilidades, o que a torna de grande potencial para uso em sistemas silvipastoris. No entanto, mais estudos são necessários na procura de espécies arbóreas com as características de crescimento e arquitetura favoráveis à integração com pastagens, principalmente espécies nativas.

A maioria das espécies arbóreas nativas apresenta uma relativa baixa demanda por nutrientes, uma alta tolerância a acidez do solo e ao estresse ambiental.

Em geral, os sistemas silvipastoris têm maior produtividade primária, o que implica em maior seqüestro de carbono, uma menor emissão de N20 e um abrandamento da emissão do gás metano pelos ruminantes, que é uma conseqüência de sua maior captação de luz e maior ciclagem de nutrientes. A função primordial de equilíbrio ambiental e ecológico proporcionado pelas árvores nativas, jamais poderá ser comparada a culturas homogêneas de espécies exóticas.

As árvores nativas absorvem o excesso de água das chuvas que eventualmente escorrem pela superfície dos solos, evitando que cheguem até os córregos e rios. Desta forma, a água é devolvida à atmosfera pela transpiração das árvores, indo formar novas chuvas.

Devido a todas essas informações é que o presente trabalho visou cadastrar e selecionar árvores individuais de pastagens localizadas nos municípios do estado do Rio de Janeiro, visando identificar aquelas com características de crescimento e de influência sobre as gramíneas forrageiras mais adequadas para utilização em consórcio e com isso, aumentar o conhecimento sobre espécies arbóreas nativas com potencial para arborização de pastagens na região da Mata Atlântica.

Entre os meses de junho de 2001 e outubro de 2002, em 44 propriedades distribuídas em 16 municípios das regiões norte, noroeste, serrana, litorânea, centro-sul e sul do estado do Rio Janeiro, se realizou junto com os técnicos da EMATER-RJ, o cadastramento de 612 árvores individuais em um sistema silvipastoril. Destas árvores, foram selecionadas 350 plantas, que sob suas copas cresceram capins forrageiros e deixavam passar pelo menos menos 40% de luz, não havia ervas daninhas nem tão pouco raízes expostas. Das plantas selecionadas, 308 foram identificadas ( uma parte delas pelo Instituto de Biologia da UFRRJ) e nelas foram observadas variações na riqueza relativa das espécies (porcentagem espécies diferentes em cada município) e na freqüência de espécies leguminosas (porcentagem de espécies diferentes de leguminosas em cada município). As famílias de espécies mais frequentes foram: Leguminoseae/Mimosoideae (27%), Bignoniaceae (19%), Leguminoseae/Cesalpinoideae (17%), Leguminoseae/Papilionoideae (15%), y Meliaceae (6%). As espécies com maior número de árvores selecionadas foram "farinha seca"- Peltophorum dubium (10%), "jacarandá-branco"- Platypodium elegans (10%), "angico-branco"- Anadenanthera peregrina (7%), "ipê-amarelo"- Tabebuia ochracea (6%) e "garapa"- Apuleia leiocarpa (6%). Os municípios que apresentaram maior diversidade de espécies foram Campos (86%) e Cordeiro (67%). Os demais municípios apresentaram diversidade menor que 40%. Com relação a freqüência de leguminosas, Vassouras (89%), Bom Jardim (86%), Itaocara (78%), Duas Barras (78%), Araruama (76%) e São Fidelis (73%), foram os municípios que apresentaram mais leguminosas em suas pastagens. A identificação das espécies de capins indicou que os de maior freqüência sob a copa das árvores, foram B. brizantha cv. Marandu, B. humidicola e B. decumbens, com 70% de ocorrência e o de menor ocorrência (25%), foram Paspalum maritimum e P. notatum.

As observações visuais mostraram, que de uma maneira geral, existem poucas árvores individuais nas pastagens do estado do Rio de Janeiro e também um baixo impacto das árvores individuais no desenvolvimento das pastagens, pois somente 350 plantas foram selecionadas das 612 cadastradas, e das 308 identificadas somente 181 pertencem a família das leguminosas e 136 são fixadoras de nitrogênio. Apesar disso, é importante mencionar que entre as árvores selecionadas e predominantes encontram-se espécies de valor madeireiro para as construções rurais, como é o caso da garapa, ipê e o angico branco, e que das espécies de árvores encontradas nas pastagens do estado, muitas têm aproveitamento não convencional (como medicamento natural, na alimentação humana e animal, como planta ornamental, etc...), que deve ser também considerada nos sistemas voltados para uma agricultura sustentável.

(Trabalho de parceria da Embrapa Agrobiologia, EMATER-RJ e Instituto de Biologia da UFRRJ)

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