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Principais cuidados com novilhas leiteiras em recria e pré-parto


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Danielle Azevedo

Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte

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Parnaíba, 18 de dezembro de 2009. O principal objetivo de criar/recriar novilhas na propriedade leiteira é repor adequadamente as fêmeas adultas a partir de fêmeas com histórico já conhecido. Secundariamente, as últimas podem ser vendidas e contribuir para a redução dos custos na propriedade. Percebe-se, portanto, que o investimento na cria/recria tem um retorno em longo prazo e que cabe ao produtor aproveitá-lo, mesmo porque, as fêmeas em cria/recria, não trazem rendimentos financeiros à propriedade, pois não produzirem leite, até aproximadamente os trinta meses de idade.

Este hiato entre o nascimento da bezerra e o início de sua contribuição efetiva para a geração de renda para a propriedade inclui  as fases de cria e de recria. Neste texto, daremos ênfase à fase de recria, porém, tendo em mente que, na prática, é necessário haver coerência entre as duas fases, pois de nada adianta investir em um sistema de cria cuidadoso e caro (instalações, aleitamento, mão-de-obra específica) e conseguir fêmeas de boa qualidade ao desaleitamento, se esses animais serão recriados em pastos ruins e sem suplementação adequada.

Infelizmente essa prática ocorre com freqüência em algumas propriedades leiteiras: o produtor e o manejador têm todo o cuidado com a bezerra, tratando-a com todo o carinho, porém, ao desaleitar o animal, que é relegado ao segundo, ou ainda ao terceiro plano na propriedade (primeiro: vacas em lactação; segundo: bezerras; terceiro: novilhas), são “esquecidas” nos piores pastos da fazenda e crescem quase que sem nenhum acompanhamento técnico. Em consequência, a idade ao primeiro parto dessas novilhas é retardada, o que pode ocasionar  maiores prejuízos ao produtor, por passar mais tempo com “animais improdutivos” em seu rebanho.

Considerando os fatores expostos acima, torna-se importante, dentro da propriedade leiteira, minimizar os custos de criação das novilhas de reposição, reduzindo a idade ao primeiro parto destas fêmeas. Para que isso aconteça, a novilha deve atingir a puberdade o mais cedo possível e os primeiros estros desse animal devem ser aproveitados, tendo como ponto primordial a ser observado o peso da novilha (em relação à sua raça) e não à sua idade. Assim, o produtor deverá adotar um plano de nutrição econômico, mas que permita que as novilhas atinjam o mais cedo possível o peso adequado à puberdade e, então, o peso ideal para cobertura.

Nesse ponto faz-se necessário um esclarecimento: puberdade significa que a fêmea iniciou a manifestação de estros (cio ou calores), visualizados, na prática, por aspectos comportamentais, que podem vir ou não acompanhados de ovulação, que nas fêmeas bovinas tem uma particularidade: ocorre após o final do estro, quando as mesmas já não mais aceitam a cobertura pelo macho. Já a maturidade sexual relaciona-se com a capacidade de manifestar o estro, ovular, emprenhar e parir a termo.

Em vacas de raças grandes, como a Holandesa, por exemplo, pode-se considerar como ideal, um peso vivo à puberdade de 280 kg para uma cobertura ou inseminação artificial aos 340 kg; em raças pequenas, como a Jersey, a puberdade ocorre por volta dos 200 kg e a cobertura poderá ser realizada aos 230 kg. Já para mestiços Holandês-Zebu, a puberdade ocorre por volta dos 300 kg, sendo um peso adequado para a cobertura, 330 kg.

Em propriedades onde não há balança disponível, o peso pode ser estimado por meio da fita de pesagem, que tem uma margem de erro de apenas 5 a 7%. Ainda na falta da balança, equipamento caro para o poder aquisitivo de alguns produtores, pode-se também utilizar o escore de condição corporal (ECC), que varia de 1 (muito magra) a 5 (muito gorda), aliando este parâmetro, logicamente, à idade da fêmea, evitando a cobertura de fêmeas muito jovens, mas com ECC favorável.

Considerando-se a condição corporal, uma novilha deve ser inseminada ao manifestar estro e apresentar um ECC mínimo de 3,0 esperando-se que a mesma ganhe peso durante a gestação (em decorrência do seu crescimento e do desenvolvimento do bezerro) e venha a parir entre 22 e 24 meses, com ECC de 3,5  a 4,0 – o que  possibilita que a fêmea utilize a gordura corporal acumulada (extra) no início de sua lactação, quando estiver em balanço energético negativo (BEM). Esclarecendo, o BEN é decorrente do descompasso entre a ingestão de alimento, reduzida após a parição que leva à perda de peso pelo gasto das reservas energéticas do animal principalmente até alcançar o pico de lactação, por volta dos dois meses pós-parto. Após o pico de lactação, a fêmea aumenta novamente o consumo de alimentos, voltando a ganhar peso, o que estimula, inclusive, a manifestação de um novo estro.

Um dos cuidados primordiais que se deve ter com a novilha em recria é o fornecimento de alimento em quantidade suficiente para que a glândula mamária não seja prejudicada por subalimentação ou superalimentação. No período da pré-puberdade (até os 280 kg na raça Holandesa), o crescimento da glândula mamária é bem mais acelerado do que do restante do corpo do animal (tecnicamente chama-se crescimento alométrico), destacando-se a proliferação de tecido adiposo e dos ductos neste tecido, formando o parênquima da glândula mamária. Na prática, isto indica que a glândula mamária tem prioridade em receber nutrientes em detrimento ao restante dos tecidos corporais. Sendo assim, dietas que levem a superalimentação (ganhos acima de 900 g/dia) podem ocasionar acúmulo de gordura no úbere, superior ao de novilhas com ganhos de peso de moderado (600 a 700 g/dia). Como resultado deste manejo de superalimentação a produção de leite futura da fêmea pode ser prejudicada pelo surgimento de células adiposas onde deveria haver tecido secretor de leite.

Resumidamente, para novilhas de raças grandes, o ganho de peso por dia não deve ultrapassar os 700 g/dia e, este ganho pode ser conseguido apenas com o fornecimento de volumosos de boa qualidade a vontade, ou se necessário, com o fornecimento de suplementação com até 2 kg de concentrado por dia. Para novilhas mestiças Holandês-Zebu, o ganho diário não deve ultrapassar os 400 g/dia, podendo chegar aos 600 g/dia, caso o produtor queira acelerar a puberdade.

Sendo as novilhas cobertas ou inseminadas aos 15 meses, em raças grandes, ou aos 24 meses em fêmeas mestiças, espera-se que o primeiro parto ocorra, respectivamente aos 24 e 33 meses.

Outros cuidados com a novilha já gestante, além de sua alimentação, estão relacionados ao seu manejo. Em primeiro lugar as novilhas devem ser manejadas conjuntamente às vacas secas, ou seja, àquelas há dois meses ou menos do parto e que não estão mais sendo ordenhadas, em piquetes-maternidade próximos ao centro de manejo da propriedade.

É importante lembrar que as novilhas ainda não têm seu porte totalmente desenvolvido e, em decorrência da hierarquia social forte em bovinos leiteiros, podem sofrer o efeito da dominância das vacas mais velhas e/ou pesadas, o que ocorre mais freqüentemente com vacas antes dos sete meses de gestação, por não estarem ainda tranquilas pela proximidade do parto e por serem constantemente manejadas, principalmente para a ida à ordenha pelo menos duas vezes ao dia.

As “lutas” por dominância dentro de lotes podem ser minimizadas com tamanho adequado nos cochos e bebedouros disponíveis, ou se possível manejando as novilhas em separado. A última alternativa depende da quantidade de novilhas em gestação na propriedade e também está sujeita a ocorrência de lutas dentro do grupo, mas pela uniformidade em tamanho e peso das novilhas, levará ao estabelecimento de uma hierarquia social mais rapidamente, evitando um número maior de contatos antagônicos que poderão estressar as fêmeas submissas, reduzindo o consumo de nutrientes e chegar até mesmo, a um aborto ou a partos de natimortos.

Como dito antes, a novilha deve parir com 3,5 a 4,0 de ECC para ser capaz de manter sua lactação mesmo em balanço energético negativo. Cerca de duas a três semanas antes da data prevista para o parto as novilhas devem ser colocadas em um piquete-maternidade menor e bem mais próximo do centro de manejo para que o tratador possa acompanhar e identificar os sinais de parto. Tendo identificado que a novilha está em trabalho de parto, o tratador deve apenas acompanhar discretamente o desenrolar do mesmo, evitando ao máximo a interferência neste momento de relação tão íntima entre mãe-cria.  A interferência deve acontecer apenas em casos extremos, como dificuldade de expulsão do bezerro até quatro horas após do início do parto, ou falta de cuidado da fêmea com a cria – abandono (lembre-se que a novilha é uma mãe de primeira viagem, sem experiência anterior e, apesar do instinto, pode não cuidar adequadamente de sua cria, ou mesmo, estar extenuada após o parto, não conseguindo manifestar o comportamento normal de uma fêmea recém-parida: limpar o bezerro através de lambidas que estimulam a respiração do recém nascido, cortar o cordão umbilical quando preciso, estimular o bezerro a levantar e a procurar suas tetas para a primeira mamada do colostro...).

É importante também que as novilhas, nas últimas quatro semanas antes do parto, comecem a se acostumar com o ambiente da sala de ordenha. Para isso, o tratador deve “passar” a novilha pela sala de ordenha todos os dias, pelo menos uma vez, após a finalização da ordenha das vacas. Assim, quando a novilha parir e começar a ser ordenhada diariamente não sofrerá tanto estresse pela “novidade”, pois já conhecerá o ambiente e o ordenhador com maior intimidade.

Mesmo com a necessidade de todos esses cuidados para com as novilhas recriadas na propriedade, as vantagens (1. tratamento cuidadoso das novilhas e, portanto, conhecimento do histórico do animal; 2. minimizar a entrada de doenças na propriedade; 3. maximizar as sobras de alimento, utilizando o repasse das novilhas nos piquetes, após a saída das vacas em lactação e, 4. obtenção de alguma renda com a venda de boas novilhas de reposição), superam as desvantagens. Aqueles criadores que compram novilhas de recria para repor vacas em seu rebanho, precisam examinar com moderação, visto que, apesar de poderem focar suas atividades em produção de leite (especialização na atividade)  precisam confiar na fonte fornecedora de novilhas, ou poderão comprar novilhas de genética inferior às vacas de seu rebanho, o que pode ocasionar um “pioramento genético” ou problemas sanitários.

Vê-se então que a recria é uma parte importante das atividades da propriedade e que deve ser bem mais valorizada pelos produtores de leite, a fim de minimizar os custos de produção e, consequentemente incrementar os lucros com a atividade leiteira.

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