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De gigantes a titãs


Amado de Olveira Filho

            São grandes as movimentações dos mais altos executivos dos grupos Pão de Açúcar, Carrefour e Casino, envolvendo ainda o Governo brasileiro, com o objetivo de se realizar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. No meio de todo este turbilhão de notícias sobre o tema, estão os consumidores, em sua maioria alheia às conseqüências que poderão atingí-los, se a operação for realizada.

            Apenas a posição do Carrefour já nos é suficiente para olharmos esta operação como risco para o grau de concentração que se consolidará. O Conselho de Administração do Grupo noticiou que: "Esta transação, se completada, vai levar à criação de uma grande empresa de varejo no Brasil, o terceiro maior mercado do mundo em termos de gastos com alimentos" e ainda, já se sabe que esta estratégia elevará as vendas em mercados em crescimento em até 40%.

            O cenário atual é o seguinte: o Carrefour topa o negócio, o Pão de Açúcar também, porém o Grupo Casino, acionista do Pão de Açúcar, avisou o Governo Brasileiro, via Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que a operação é ilegal. O BNDES tem demonstrado que pode investir até R$ 4,5 bilhões para viabilizar a negociação.

            Por outro lado o Ministro da Fazenda Guido Mântega em curta entrevista de Londres, afirmou que as negociações em curso não são questões de Governo, portanto, se concretizadas, não terão recursos públicos, mas disse também que o seu Ministério não está envolvido nas conversas entre o BNDES e o Pão de Açúcar.

            Não pensa da mesma forma o Ministro Fernando Pimentel do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que tem o BNDES como empresa pública vinculada. Em Minas Gerais ele afirmou não ver nada de excepcional na participação do BNDES na operação, classificou as críticas de "tsunami em copo d’água".

            Do lado de cá e na posição de simples cidadão, imagino que tamanho será este copo d`água para comportar financiamento que deverá oscilar, se concretizado o negócio, entre R$ 2,5 e 4,5 bilhões. Mas quais as conseqüências econômicas deste processo de fusão de grupos que possuem diversas outras empresas como Ponto Frio, Atacadão, Pão de Açúcar e Extra?

            Claro que não se pode afirmar que uma fusão como a pretendida pode ter apenas aspectos negativos, ou seja, o aspecto de concentração pode não oferecer tão somente prejuízos a livre concorrência. Certamente que, além de novos mercados, especialmente internacionais serão buscados e ainda, a soma de investimentos em novas tecnologias e reengenharias poderão reduzir custos.

            O risco que poderá afetar diretamente o consumidor é o de a nova sociedade desaguar em alguma forma de monopólio que certamente a concentração permitirá. Porém, mesmo os Ministros da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio afirmarem que é um negócio tão somente privado, os procedimentos jurídicos devem ser objeto de cuidadosa avaliação governamental, afinal, o Brasil possui uma legislação moderna a respeito do tema.

            Aos consumidores que somos todos nós brasileiros e brasileiras, que dificilmente conseguiremos algum nível de organização, resta-nos acreditar no Conselho Administrativo de Direito Econômico (CADE), vinculado ao Ministério da Justiça, a quem compete orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico.

            Da mesma forma, devem se preocupar os fornecedores da gigante que poderá ser a nova empresa, vez que, certamente as negociações de preços serão extremamente mais complicadas que atualmente, implicando em significativa redução de margens.

            Este é um tema que não se conclui rapidamente, assim, surgem perguntas que aguardam respostas: É necessário que os gigantes se associem e se transformem em titãs para alcançar novos mercados? Neste caso, até onde vão os interesses empresariais e as vaidades pessoais?

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