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Grau de instrução dos suinocultores catarinenses e sua relação com o seu efetivo animal


Julio Cesar Pascale Palhares

Grau de instrução dos suinocultores catarinenses e sua relação com o seu efetivo animal, vínculo produtivo e manejo ambiental - Palhares, J.C.P.; Guidoni, A.L.
A suinocultura catarinense atingiu níveis de especialização e tecnificação muito elevados, comparando-se com os das suinoculturas européias e norte-americanas. Em decorrência deste processo o suinocultor, seja ele integrado ou independente, tem que utilizar uma série de novos conhecimentos para realizar o manejo diário de sua produção.
Estes conhecimentos envolvem desde tecnologias de ponta, como instalações computadorizadas, até as ciências básicas, como a física, a química e a biologia, fundamentais no manejo diário dos dejetos de suínos.
Considerando esta nova realidade produtiva e a tendência, cada vez maior, da necessidade de ganhos de escala na suinocultura, o que conduz a sistemas mais tecnificados e consequentemente mais dependentes do conhecimento, pode-se questionar: o suinocultor catarinense possui a escolaridade necessária para acompanhar o avanço tecnológico da produção?
Caso a resposta a esta pergunta seja positiva, então será de responsabilidade dos governantes, órgãos de extensão rural, universidades, agroindústrias, associação e sindicato de produtores aprimorar os conhecimentos destes suinocultores para que possam avançar, paralelamente, ao avanço tecnológico da produção de suínos.
Mas se a resposta for negativa, estes mesmos responsáveis, terão que delinear e implementar programas de escolaridade e capacitação emergencias para os suinocultores, a fim de garantir a médio e longo prazo os níveis de especialização e tecnificação exigidos pela cadeia produtiva.
O objetivo desta pesquisa foi avaliar o grau de instrução dos suinocultores catarinenses, relacionando este com seu efetivo animal e tipo de vínculo produtivo, bem como com o manejo ambiental da produção.
Os dados trabalhados neste artigo foram obtidos da base de dados do Levantamento Agropecuário de Santa Catarina (LAC-2002/2003), através de contrato de parceria firmado entre Embrapa/Epagri no 200.1778/05.
Optou-se, para fins deste estudo, trabalhar somente com os suinocultores que apresentassem um efetivo de animais maior do que 51 cabeças, sendo os outros planteis desconsiderados, apesar de representarem um grande número de suinocultores, mas com baixa representatividade no total de cabeças no estado de Santa Catarina. Portanto quanto ao efetivo animal, os suinocultores foram classificados em: de 51 a 100 cabeças, de 101 a 500 cabeças, de 501 a 1.000 cabeças e mais de 1.000 cabeças.
Para classificação do vínculo produtivo considerou-se as seguintes realidades: integrado da agroindústria, parceiro da agroindústria, integrado de particular e independente.
Para todas as variáveis e respectivos cruzamentos obteve-se os parâmetros populacionais no Estado de Santa Catarina: o número de estabelecimentos e respectiva porcentagem por categoria da reposta. Destaca-se que as respostas fornecidas pelos entrevistados tiveram caráter declaratório.
As consultas à base de dados e os cálculo foram realizados através do pacote SAS 2002-2003, versão 9.1.3.
O universo de suinocultores pesquisados correspondeu a 7.258, distribuídos pelo território catarinense da seguinte forma: 59%, com efetivo de 101 a 500 animais; 16,8% de 501 a 1.000; 14,9% de 51 a 100; 9,3% com mais de 1.000 cabeças. Importante destacar que 98% dos respondentes declararam ser os responsáveis pelo manejo da suinocultura e 69% responderam utilizar serviços de assistência técnica.
Na Figura 1, pode-se observar a distribuição do nível de escolaridade dos suinocultores. A porcentagem de 80% com o primeiro grau incompleto é um indicativo que deve suscitar preocupação nos diversos agentes da cadeia produtiva por várias razões: fragilidade destes produtores frente a oportunistas que têm a única intenção de vender tecnologias, muitas vezes não adaptadas as suas realidades produtivas; dificuldade de entender as regras de mercado e consequentemente negociar contratos, preços e serviços o que é fundamental em uma realidade de estreitas margens de lucro; dificuldade de entender as obrigações legais da produção, principalmente as ambientais e sanitárias; dificuldade em absorver novos conhecimentos e tecnologias e/ou de fazer com que estes sejam eficientes, devido ao baixo nível de instrução.
Relacionando o grau de instrução ao efetivo de animais, o melhor nível de escolaridade foi observado entre os suinocultores que possuíam mais de 1.000 animais os quais representavam a menor porcentagem da população, 9,3% dos produtores entrevistados. Isto demonstra uma correlação positiva entre a grande escala de produção; que exige tecnologias, elevados índices de produtividade e maior necessidade de negociações mercadológicas consequentemente maior conhecimento da cadeia produtiva e do sistema de produção e; o grau de instrução do produtor. Como a produção em escala é uma tendência na suinocultura, este processo deve ser acompanhado pela melhora da escolaridade dos produtores. Neste grupo de efetivo de animais se detectou a maior porcentagem de integrados a agroindústria (52,8%) e expressiva presença de independentes (20,4%).
Neste efetivo de produção a porcentagem de produtores com terceiro grau completo ou mais (4,4%) foi o dobro da segunda maior ocorrência para este nível de escolaridade, verificada na escala entre 501 e 1.000 animais.
O grupo de suinocultores com menor efetivo foi o que apresentou os piores índices de escolaridade, 87% com primeiro grau incompleto, 0,2% com terceiro grau incompleto e 1,2% com terceiro grau completo ou mais.
Quanto as vínculo, os integrados as agroindústrias possuem um nível de instrução melhor dos que os integrados a parceiros. Enquanto, no vínculo com a agroindústria a porcentagem dos que possuem primeiro grau incompleto é de 80%, nos vinculados a parceiros esta porcentagem é de 84,8%. Esta superioridade está presente em todos os níveis de instrução avaliados. Para o terceiro grau completo, os integrados a agroindústria apresentaram um índice de 1,3% enquanto os parceiros 0,7%.
O tipo de vínculo possuidor do melhor nível de instrução foram as independentes, no qual 78,7% possuíam o primeiro grau incompleto, 8,1% o segundo grau completo, 1,0% o terceiro grau incompleto e 1,8% o terceiro grau completo ou mais.
Estes resultados demonstram a importância da assistência técnica para o avanço da suinocultura catarinense, seja ela fornecida pela agroindústria ou parceiro ou seja governamental ou contratada, pois sozinhos os suinocultores dificilmente conseguirão implementar novas tecnologias e se adequar as regras dos mercados nacionais e internacionais.
Considerando a delicada questão ambiental da suinocultura catarinense, os contratos de integração e parceria que estipulam que o manejo dos dejetos é de responsabilidade do produtor e a falta de conhecimento em ciências ambientais dos produtores, pode-se afirmar que os problemas ambientais da suinocultura catarinense somente serão resolvidos com intensos programas de educação ambiental voltados para os produtores e técnicos, pois sem os conhecimentos necessários, as soluções para estes problemas serão sempre pontuais e de curto prazo.
A análise dos dados gerados pelo LAC permitem concluir que o grau de instrução dos suinocultores catarinenses é extremamente baixo, o que pode ser um limitante ao avanço da suinocultura no estado devido as constantes necessidades de adesão à novas tecnologias e manejos nesta cadeia produtiva. Como a grande maioria dos suinocultores possuía o primeiro grau incompleto, estes não têm conhecimentos integrais de ciências básicas tão pouco de aplicadas. Esta realidade verificada para o grau de instrução tem consequências diretas no manejo ambiental da produção, pois para isto, o produtor tem que ter entendimentos sistêmicos de sua atividade o que é praticamente impossível diante do nível de escolaridade vigente. Os resultados explicitados por esta pesquisa devem servir de subsídio para o delineamento de políticas educacionais que tenham como objetivo o aumento da escolaridade dos suinocultores, bem como a capacitação ambiental destes.

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