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O atraso na inovação tecnológica no agronegócio


Dante Scolari

O principal insumo gerador de riquezas e bem estar é o capital intelectual, responsável pela geração permanente de novos produtos e processos. Nas nações desenvolvidas, líderes no comércio mundial de produtos de alta tecnologia, os investimentos em ciência, tecnologia e inovação (C,T & I) são elevados (até 5% do PIB), a legislação é adequada, os modelos de gestão proativos, há forte participação financeira estatal e privada, esta principalmente na inovação, predomina uma cultura empresarial empreendedora e a maioria dos cientistas e engenheiros trabalha na iniciativa privada. São líderes no ranking internacional de competitividade (GCI) e em 2.005 os primeiros colocados foram Finlândia, Estados Unidos, Suécia, Dinamarca e Taiwan.

No Brasil o arcabouço legal ainda é inadequado, há pouca participação privada e a gestão pública é ineficiente. Segundo a ANPEI (Associação Nacional de P, D & E das Empresas Inovadoras), o Brasil é responsável por 1,9% do PIB mundial e por 1,7% da produção científica mundial, mas é detentor de apenas 0,2% das patentes. O investimento em pesquisa e desenvolvimento é baixo: o setor público investe 0,6% do PIB e as empresas privadas 0,4%, percentual muito menor do que ocorre nas empresas privadas em países como Coréia (1,9%) e Estados Unidos (1,8%). A produção científica nacional cresce 8% ao ano, a formação de doutores evolui a 14% ao ano, mas a taxa de inovação tecnológica na indústria brasileira não chega a 1% ao ano. Em 2.005 o país caiu oito posições no ranking internacional de competitividade ficando em 65º lugar: apresentou baixo desempenhos em inovação(50º lugar), instituições públicas (70ª posição) e ambiente macroeconômico (79º lugar). Em 2005 a exportação de produtos industriais por nível de intensidade tecnológica revela que 9,1% das exportações são de bens de alta tecnologia (componentes eletrônicos, computadores, aviões) 30,9% são de médio-alta tecnologia (automóveis, componentes mecânicos) 23,9% são médio-baixa tecnologia (como confecções, calçados, couros trabalhados, suco de laranja) e 36,2% são de baixa tecnologia (matéria primas como soja e café).

No meio empresarial há uma visão limitada da importância estratégica da inovação para a competitividade. Sondagem feita pela FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) em outubro de 2005 em empresas de diferentes tamanhos e setores industriais em SP, revelou que mais de 90% tinha pouca ou nenhuma informação sobre as atividades e o desempenho dos órgãos de fomento para as atividades de pesquisa e desenvolvimento e 64% das empresas não entendiam ou não tinham capacidade de usar os incentivos governamentais. A pesquisa retratou um alto grau de desconhecimento e de subutilização dos incentivos existentes na legislação para atividades de inovação.

Investimentos em pesquisa geram retornos econômicos elevados. Os benefícios econômicos gerados pela Embrapa foram de quase 12 bilhões de reais (66 tecnologias em uso no país gerando anualmente benefícios de R$5,96 bilhões e lançamentos de cultivares de algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo gerando mais R$5,7 bilhões) somente em 2004. Mas todo este sucesso não garante tranquilidade orçamentária e financeira à instituição - nos últimos anos o orçamento real da Embrapa é decrescente, de R$1,432 bilhões em 1996, para R$1,083 bilhões em 2000 e R$955,5 bilhões em 2005, uma redução real de R$ 477,0 milhões (em valores reais de 2005). Não houve renovação significativa nas novas e emergentes áreas do conhecimento, chaves para o futuro do agronegócio como biotecnologia, agricultura de precisão, agro-energia e nanotecnologia e e a empresa não consegue atrair novos talentos. Este desinvestimento, comum na maioria das instituições científicas e tecnológicas e nas universidades do país, já compromete seriamente a capacidade brasileira de gerar novas e competitivas soluções tecnológicas.

O mercado mundial de insumos agropecuários, alimentos e fibras é de bilhões de dólares e será ainda maior no futuro. Como a maioria dos países não possui áreas de reserva para expansão da fronteira agrícola, estão investindo pesadamente em pesquisas biotecnológicas, para assegurar competitividade via aumentos na produtividade, principalmente com o uso da biotecnologia. China e Índia investem pesadamente para se transformarem em superpotência biotecnológicas, onde os novos conhecimentos, protegidos por patentes, acordos e tratados, serão o principal catalisador do desenvolvimento mundial. No Brasil ainda existem grandes limitações, destacando-se a atual legislação, extremamente restritiva na geração de inovações biotecnologica, a burocracia institucional, a falta de cultura tecnológica inovadora da sociedade brasileira, a inexistência de modelos adequados de gestão das ICT's, principalmente nas organizações públicas e o fraco engajamento do setor privado em todo o processo de pesquisa e desenvolvimento, principalmente na inovação tecnológica.

Para recuperar o atraso tecnológico e ser competitivo no futuro, o país necessita de ações integradas, contínuas e duradouras em diferentes níveis envolvendo os poderes executivos, legislativos e judiciário, as universidades, as instituições científicas e tecnológicas, as empresas privadas e também o chamado terceiro setor.

A legislação precisa ser urgentemente revista e adequada aos tempos atuais, para eliminar viéses ideológicos existentes e dar maior agilidade operacional na tramitação de projetos. Cabe ao Poder Legislativo, com forte parceria com universidades, empresas privads e ICT's, tomar esta iniciativa. O Poder Executivo precisa ser um indutor de projetos específicos de Ciência, Tecnologia e Inovação, com políticas públicas adequadas, com uma visão de "governança integrada" de médio e longo prazo. O Judiciário precisa de modernização, isenção ideológicas e entendimento que inovação é um forte indutor de inclusão social e melhoria na qualidade de vida dos brasileiros.

As universidades precisam atender as demandas privadas por cientistas e engengeiros de diferentes setores da economia, com forte integração com os governos federal, estadual e até municipal. As Instituições de Ciência e Tecnologias (ICT's) precisam trabalhar orientadas para demandas existentes nos diferentes setores econômicos da sociedade brasileira, viabilizando soluções tecnológicas competitivas e sustentáveis, com forte parceria com universidades e empresas privadas, estabelecendo arranjos integrados de inovação tecnológica (cluster tecnológicos) para diferentes regiões do país.

As empresas privadas devem rapidamente incorporar na cultura organizacional que a geração de novos conhecimentos, base permanente das inovações tecnológicas, é parte fundamental da estratégia mercadológica de conquista e manutenção de mercados e pressupõe uma visão empresarial moderna do "fazer melhor, mais cedo e mais barato".

A criação e a disseminação fundos financeiros privados constituído de contribuições voluntárias e administrados por produtores, comerciantes, agro-industriais, etc. visando ao desenvolvimento de atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, marketing e orientação de empresários do agronegócio e consumidores, pode ser uma alternativa lucrativa para o setor privado participar mais ativamente, com ganhos econômicos privados e benefícios sociais, do esforço brasileiro em pesquisa e desenvolvimento.

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