CI

Soja: mudança de patamares


IZNER HANNA GARCIA

SOJA: MUDANÇA ESTRUTURAL DOS PREÇOS

Izner Hanna Garcia*

Agricultura: Pequenos Erros, Grandes Prejuízos - GA Agrosoluções

O ano de 2022 será histórico para este pequeno planeta Terra.

Impressionante como a situação é confusa e complicada. Em poucos dias o mundo estável e previsível que conhecíamos foi transformado e os fundamentos (e paradigmas) de análises podem não mais servir de “régua” para o futuro.

Com todas as ressalvas necessárias, o mercado de commodities agrícolas está passando por mudanças profundas que, se não analisadas e compreendidas, podem deixar produtores “à pé” na estrada.

PRIMEIRO, devemos entender que hoje temos uma conjugação, uma soma de fatores que resultam na escassez de cereais porque:

 

1 houve uma grande seca na América do Sul que resultou em perdas de 30 milhões de toneladas na safra brasileira + 6 milhões na safra paraguaia + 9 milhões na safra argentina = 45 milhões de toneladas de perdas;

2 com a guerra russo-ucraniana, que juntos produzem 30% do trigo + óleo de girassol + milho do mundo, a oferta de grãos também foi cortada;

 

Portanto, é inegável que a oferta de grãos este ano está substancialmente abaixo do esperado.

Mas, isso faz parte da história. Existem mais fatores que se somam:

 

? aumento dos preços do petróleo

? a dificuldade de logística, de transporte

? a dificuldade de fornecimento de fertilizantes e o consequente aumento de preços

 

Não obstante leio e escuto análises que, em suma, dizem que o preço da soja não pode subir mais porque as margens das indústrias estão no limite, que o "mercado", do lado da demanda, não pode pagar mais.

PARA MIM, TAIS ANÁLISES NÃO PASSAM DE  BULLSHIT, bobagem ou interesses patrocinados.

Explico. Olhe esses dados do Brasil:

 

EXPORTAÇÕES DE SOJA (GRÃOS) NOS MESES DE JANEIRO E FEVEREIRO

2017: 4,42 milhões de toneladas

2018: 4,43 milhões de toneladas

2019: 7,30 milhões de toneladas

2020: 6,23 milhões de toneladas

2021: 2,70 milhões de toneladas

2022: 8,72 milhões de toneladas

Um aumento de 224% em relação ao ano passado

 

EXPORTAÇÕES DE FARINHA DE SOJA NOS MESES DE JANEIRO E FEVEREIRO

2017: 2,10 milhões de toneladas

2018: 2,48 milhões de toneladas

2019: 2,14 milhões de toneladas

2020: 1,78 milhão de toneladas

2021: 2,07 milhões de toneladas

2022: 3,12 milhões de toneladas

Um aumento de 51% em relação ao ano passado

 

EXPORTAÇÕES DE ÓLEO DE SOJA NOS MESES DE JANEIRO E FEVEREIRO

2017: 146,9 milhões de toneladas

2018: 176,3 milhões de toneladas

2019: 74,2 milhões de toneladas

2020: 66,3 milhões de toneladas

2021: 70,3 milhões de toneladas

2022: 277,2 milhões de toneladas

Um aumento de 294% em relação ao ano passado

 

No entanto, mesmo a China comprando volumes recordes do Brasil também vem comprando soja dos EUA, mesmo fora da temporada de compras.

Vamos pensar: os importadores (basicamente a China) seriam idiotas aumentando agora substancialmente as compras se a soja fosse cair ou estabilizar os preços?

Vamos repetir: não há grãos para suprir a demanda (seja pelos prejuízos com a seca no Brasil, Argentina e Paraguai e agora somados à guerra que corta a oferta de trigo e milho). Essa é a verdade. E tão há  estoque.

Mas, vamos olhar um pouco mais longe, para a safra que será plantada no EUA.

Com os preços do trigo (que puxa diretamente o preço do milho) nesses patamares, é lógico pensar que os produtores norte-americanos vão "carregar" mais suas lavouras de trigo e milho.

Além disso, não podemos esquecer que o milho, nos EUA, é transformado em etanol (biocombustível) e, claro, com o aumento do preço do petróleo, o biocombustível também aumenta, o que torna o milho, claro, mais atrativo.

FINALMENTE outro ponto não menos importante: o preço dos fertilizantes e do petróleo.

Os produtores dos EUA vão semear sua safra com preços de safra já em patamares totalmente diferentes, muito mais caros.

Em outras palavras, o custo de produção da safra norte-americana será muito superior ao custo da atual safra latino-americana.

Claro que esse custo, se os preços finais dos grãos não subirem, NÃO SOFREREM CORREÇÃO ESTRUTURAL, resultará em margens encurtadas ou até negativas.

Você entende meu raciocínio?

Os aumentos do petróleo e o aumento do fertilizante e demais insumos impõem um preço dos grãos que deve superar as médias com que trabalham os analistas.  Não há como analisar as métricas do passado, praticadas até aqui, porque a base estrutural do custo de produção extrapolou os parâmetros atuais.

Simplesmente uma soja a USD 17,00 / bushel ou R$200,00 / saca não irá cobrir os custos de produção.

De duas uma: ou os produtores vão quebrar produzindo a um custo maior que o valor de venda ou os preços dos grãos vão ter de sofrer um aumento estrutural.

 

Izner Hanna Garcia

[email protected]

https://fazendasnouruguai.com/

 

 

 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.