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Soja: sobe ou baixa?


IZNER HANNA GARCIA

Informe do USDA: tem sentido ou não?

 

Sobe e desce no mercado | VEJA RIO

 

Izner Hanna Garcia

 

            O último informe do USDA, em 31 de março, derrubou as cotações da soja no mercado de Chicago. Tal ocorreu, à primeira vista, porque o relatório apontou a intenção dos produtores norte americanos de ampliar a área de plantio de soja no EUA.

            Assim, pela lógica, o mercado tomou esta intenção como um aumento da oferta do grão e as cotações apanharam bastante.

            Deixando de lado o fato que o USDA fala em intenção de plantio o que, qualquer produtor sabe que da intenção à colheita efetiva, vai uma distância muito grande dependendo de muitas variáveis e muito trabalho,  é necessário refletir sobre o relatório.

            Uma parcela de analistas, tradings e produtores simplesmente partem do raciocínio que o USDA, órgão governamental, está ‘marretando’ a realidade para criar um cenário ficto em favor da baixa das cotações. Afinal, dizer de intenção é algo tão vago que comporta esta ‘forçada de mão’.

            Pode ser, claro, que estejam certos.

            Mas vamos ousar pensar diferente?

            Em estratégia militar há um exercício que se chama INVERTER O MAPA. Nas academias militares se apresenta um teatro de guerra para análise dos cadetes. Então, logo depois, o instrutor toma o mapa (ou teatro de guerra) e simplesmente vira ele de ponta cabeça.

            Por que? Para levar os futuros comandantes a raciocinarem em situações totalmente inusitadas ou ver os pontos fora da curva.

            Tomemos este gráfico que é expressivo:

            Esta é a variação dos preços do trigo, milho, óleo de soja, soja em grão e farelo de soja na Bolsa de Chicago no mês de março.

            Se tomarmos a variação trimestral (de 2 de janeiro a 31 de março) a direção do gráfico se mantém com:

  • Trigo valorização de 41%
  • Milho valorização de 40%
  • Óleo de soja valorização de 28%
  • Soja em grão valorização de 12%
  • Farelo de soja valorização de 5%

Com este gráfico fica mais visível o que é inverter o mapa?

Ora, qualquer pecuarista sabe que se compra um boi magro. Nenhum invernista compra um novilho gordo e sim magro para que possa engordar. Este raciocínio também vale para o mercado de ações: se compra ações na baixa com potencial de alta.

Acaso o produtor norte americano é um idiota?

Tomar os outros por idiotas é a medida de sermos nós os estúpidos.

Dentro do mercado, hoje, qual produto que menos se valorizou?

De outra forma: qual tem mais potencial de valorização?

Se a resposta é a soja, então, por óbvio que a intenção de aumento de plantio de soja tem lógica comercial visto que, frente ao milho e ao trigo, é evidente o grão que pode ainda subir mais, em termos proporcionais.

Ademais some-se a este fato que a cultura da soja exige menos investimentos (em insumos e fertilizantes) e, assim, é menos custosa em investimento.

Somando estes dois fatores o relatório do USDA pode refletir a verdade porque, simplesmente, é a decisão absolutamente lógica do produtor norte americano.

Não obstante, então, por que o mercado caiu de preço?

Estes movimentos curtos não podem ser acompanhados diariamente ou semanalmente a não ser pelos operadores financeiros. Dizem respeito mais às transações que ocorrem em minutos ou horas e não podem balizar a estratégia de produção ou investimento da ‘produção real’.

O fato, inafastável e que não é coberto por qualquer relatório, é que à partir de meados de abril em diante, até a entrada real da colheita norte americana, haverá uma demanda maior da soja do que a oferta disponível, ocasionando uma grande queda de braço entre o mercado mundial importador e o mercado doméstico que também precisa do grão.

A grande perda havida na América do Sul (Brasil + Argentina + Paraguai = 31 milhões de toneladas) e de estoques reduzidos (segundo informe do mesmo USDA a queda dos estoques é da ordem de 20% em relação à safra anterior) não trazem outra conclusão.

Voltemos à intenção de plantio do produtor norte americano: considerando que a soja foi o grão que menos subiu e considerando a escassez (desajuste entre oferta e demanda se quisermos falar politicamente correto) que haverá do produto, não é de estranhar que o produtor norte americano queira estar com o máximo de soja em setembro/outubro para vender em um mercado ávido e necessitado do grão, que pagará preços muito mais elevados que os atuais.

Neste sentido, a relação de ganho de preço será maior que para o trigo e milho que já precificaram a escassez em virtude da guerra. Sem considerar que trigo e o grão gêmeo (milho), em virtude do efeito direto nas populações mundiais (nosso pãozinho matinal depende do trigo), podem  sofrer intervenções estatais pesadas para estabilização do preço.

Deste modo, desconsiderando avaliações puramente financeiras e imediatistas, nem as baixas vistas em Chicago nem o relatório de intenção de plantio maior no EUA, significam que o preço da soja tenha FUNDAMENTOS para baixas no curto prazo (próximos 3 meses) visto que as condições de escassez de oferta frente a demanda se mantém.

Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado FGV

[email protected]

https://fazendasnouruguai.com/

https://www.youtube.com/watch?v=az7mmt6zstA&list=PL3fec7DyBUADW8UjFG5dGhra0z4vhQZ8H

 

 

 

 

 

 

 

           

           

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