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A importância da calagem para a agropecuária


Por Flávia Cristina dos Santos e Álvaro Vilela de Resende - Pesquisadores Fertilidade do Solo
Embrapa Milho e Sorgo

A importância da técnica da calagem é bem relatada em diversas publicações relacionadas à agropecuária brasileira. Entre seus benefícios, destacam-se: a) a elevação do pH do solo e a neutralização do alumínio tóxico, que é prejudicial ao desenvolvimento das raízes das plantas; b) o fornecimento de cálcio e magnésio às plantas; c) o melhor aproveitamento de nutrientes, como nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre e molibdênio; d) o aumento da capacidade de troca de cátions, com liberação de sítios de cargas negativas dos colóides do solo, o que permite a atração de outros nutrientes, reduzindo a lixiviação; e) o aumento da atividade microbiana e a liberação de nutrientes da matéria orgânica do solo. Todos esses benefícios, em conjunto, resultam em aumento da produtividade das culturas. A exemplo, o uso da calagem aumentou a produtividade de feijão em 54%, em 14% a de arroz (Barbosa Filho e Silva, 1994), em 38% a de soja (Mascarenhas et al., 1996) e em 13% a de milho (Caires et al., 2004). É importante salientar que esses valores podem variar para mais ou para menos, dependendo de uma série de fatores. O que se buscou, ao se apresentar esses dados de algumas pesquisas, foi dar um referencial que pudesse ilustrar a importância da calagem no aumento da produtividade das culturas.

O calcário é um recurso abundante no país, que possui diversas reservas espalhadas pelos estados, principalmente no Mato Grosso do Sul, no Mato Grosso e em Minas Gerias, com alta capacidade de moagem das rochas, devendo seu consumo ser incentivado. Muitas vezes, a não utilização da calagem pelos produtores envolve, entre outros, a falta de informação e, em alguns casos, a falta de recurso financeiro.

Apesar de tudo isso e de ser uma prática barata (9,6% do custo total de produção para agricultura de sequeiro e 2,1% para a irrigada – Sousa & Lobato, 2004), ainda é comum a negligência quanto ao seu uso, no que se refere à adoção da técnica, à definição das doses e às formas de aplicação. Não é incomum se deparar com lavouras que receberam adubação sem uma prévia correção da acidez do solo, ou seja, sem a aplicação da calagem. Da mesma forma, é comum a utilização de subdoses ou mesmo de doses acima das recomendáveis; nesse último caso, em particular, a situação foi comprovada em regiões do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul (Santos, 2006), principalmente em solos com textura mais arenosa.

Para se obter uma aplicação correta de calcário, inicialmente é necessário realizar uma boa amostragem do solo. Em seguida, torna-se fundamental o envio da amostra, ou das amostras, para um laboratório de confiança, com controle de qualidade de suas análises. De posse dos resultados das análises de solo, calcula-se a dose de calcário a ser aplicada, seguindo equações matemáticas específicas obtidas a partir de resultados de pesquisas e que envolvem, fundamentalmente, a neutralização do alumínio tóxico e a elevação dos teores de cálcio e magnésio (5ª Aproximação de Minas Gerais) ou a elevação da saturação por bases (Boletim 100 de São Paulo). Há, ainda, nessas equações um fator de correção que está relacionado ao poder relativo de neutralização total (PRNT), característico de cada tipo de calcário e que tem relação com a rocha de origem.

Cabe ressalvar que a supercalagem, ou seja,a aplicação de doses de calcário acima das recomendáveis, provoca dispersão da argila do solo, que migra para os poros abaixo da camada de 20cm, provocando seu entupimento, o que leva à erosão da porção mais superficial do solo e com maiores concentrações de nutrientes. Além disso, a supercalagem provoca a mineralização excessiva da matéria orgânica do solo, diminuindo seu teor e comprometendo a sustentabilidade da produção.

Definida a dose de calcário a se aplicar, deve-se atentar para uma distribuição e uma incorporação bem feitas do calcário ao solo, que, normalmente, deve atingir toda a superfície a ser cultivada e os 20cm superficiais do solo. Calcário mal incorporado gera faixas diferenciadas de desenvolvimento das plantas, comprometendo a produtividade das culturas. Quando da recomendação de doses elevadas (acima de 4t/ha de calcário), sugere-se que a aplicação seja dividida para facilitar a incorporação do insumo ao solo, melhorando sua distribuição. Os equipamentos usados para incorporação do calcário são o arado e a grade.

Seguindo-se as etapas estabelecidas nesse texto – amostragem, cálculo da dose e distribuição e incorporação corretas do calcário -, o produtor terá possibilidade de maior produtividade das culturas, o que gerará maior renda e mais qualidade de vida para sua família, com maior qualidade ambiental.

BARBOSA FILHO, M.P.; SILVA, O.F. Aspectos agro-econômicos da calagem e da adubação nas culturas de arroz e feijão irrigados. Pesq. agrop. bras.,29:1657-1667, 1994.
CAIRES, E.F.; KUSMAN, M.T.; BARTH, G.; GARBUIO, F.J.; PADILHA, J.M. Alterações químicas do solo e resposta do milho à calagem e aplicação de gesso. R. Bras. Ci. Solo, 28:125-136, 2004.
MASCARENHAS, H.A.A.; TANAKA, R.T.; GALLO, P.B.; PEREIRA, J.C.V.N.A.; AMBROSANO, G.M.B.; CARMELLO, Q.A.C. Efeito da calagem sobre a produtividade de grãos, óleo e proteína em cultivares precoces de soja. Sci. agric.,53:164-172, 1996.
SANTOS, F.C. Produtividade de soja e resposta a técnicas de cultivo em solos de Cerrado com diferentes texturas. Viçosa, MG, Universidade Federal de Viçosa, 2006. 74p. (Tese de Doutorado)
SOUSA, D.M.G.; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 416p.

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