Medidas gerais para o manejo de doenças bacterianas no tomate
Doenças causadas por fitobactérias

Em doenças causadas por fitobactérias, a prevenção constitui-se um dos fatores para
seu controle. Entre as medidas, a mais efetiva e econômica seria o emprego de
variedades resistentes, o que nem sempre é possível, havendo necessidade de outros
métodos de controle. Esses métodos de controle atuam no sistema patógenohospedeiro-
ambiente. São relacionados a seguir alguns, entre os mais importantes:
1) sementes e mudas: o material propagativo sadio ou isento de patógenos é
primordial para o sucesso da cultura. A disseminação de doenças a longas distâncias,
bem como sua introdução, ocorrem na maioria dos casos pelas sementes ou mudas
infectadas. Por esse motivo, a escolha de sementes deve ser cuidadosa, preferindo-se
sementes fiscalizadas, selecionadas, certificadas e tratadas quimicamente. Ao adquirir
mudas de terceiros, é Figura 26. Sintoma da necrose-da-medula causada por
Pseudomonas corrugata (Foto: O. M. Martins) importante certificar-se de que tenham
registro de procedência e certificado fitossanitário assinado por responsável técnico.
2) Local e época de plantio: na produção de mudas, deve-se escolher local isolado,
longe de outras solanáceas ou plantações de tomateiro. O local deve ser bem drenado
e arejado. A utilização de substrato, isento de patógeno, bem como a desinfestação
das bandejas, são obrigatórios. O local de plantio deve ser preferencialmente com
exposição norte e a orientação de linhas leste-oeste, evitando-se locais de baixada
devido ao acúmulo de umidade e à formação de neblina. Na instalação da cultura
deve-se levar em consideração que as bactérias fitopatogênicas podem sobreviver no
solo, como a Ralstonia Solanacearum e Pectobacterium sp, estacas como C.m. subsp.
michiganensis, arames, restos culturais, plantas voluntárias de tomateiro ou ainda
sobreviver epifiticamente em ervas daninhas, como no caso de Xanthomonas spp. No
caso específico de R. solanacearum deve-se evitar o plantio em áreas recém
desmatadas que tenham bracatinga (Mimosa scrabella), pois a bactéria sobrevive e se
multiplica nessas plantas. Em geral é recomendado um período de pelo menos três
anos sem cultivo de solanáceas, incluindo solanáceas infestantes, indicando-se o
plantio de gramíneas durante esse tempo. Portanto, nenhuma outra solanácea
cultivada ou solanácea infestante deve estar presente na área. A época de plantio deve
ser conforme o zoneamento agroclimático e a recomendação do cultivar.
3) Cultivares resistentes: na escolha de cultivares, sugere-se dar preferência para as
resistentes. É permitido o uso de porta-enxerto resistente à murchadeira, como
‘Guardião’ e ‘Muralha’. O uso de porta-enxerto é obrigatório em área com histórico da
doença.
4) Irrigação: bactérias fitopatogênicas são dependentes de alta umidade (incluindo
orvalho, chuva e irrigação) para sua disseminação bem como sua multiplicação. A
irrigação por aspersão e por sulco (proibido na produção integrada de tomate
estaqueado), além de aumentar a umidade relativa e reduzir a temperatura, favorece
a disseminação de bactérias foliares e do solo. Portanto, o uso de irrigação por
gotejamento é obrigatório, pois evita a disseminação de doenças bacterianas. A água
utilizada para irrigação deve ser de boa qualidade e que não passe por lavouras
contaminadas. No caso da murcha-bacteriana causada por Ralstonia solanacerum, a
irrigação localizada evita que os propágulos bacterianos sejam disseminados no sulco
de irrigação, tal como utilizado na produção convencional.
5) Práticas culturais: a penetração de bactérias se dá por meio de aberturas naturais
(principalmente estômatos e hidatódios) ou por ferimentos. A adoção de barreiras
como quebra vento e a condução da cultura de modo que receba maior insolação e
ventilação (condução vertical no sentido leste-oeste) diminuem as condições
climáticas favoráveis. A calagem e a adubação devem ser realizadas de acordo com
critérios técnicos, já que a resistência da planta às bacterioses é influenciada por
excesso ou deficiência de nutrientes, principalmente de nitrogênio. Com excesso desse
elemento, os tecidos ficam suculentos e mais sensíveis à infecção bacteriana. Os
mourões e as estacas (quando não se usar fitilho) devem ser novos ou tratados com
hipoclorito de sódio 1% ou outro desinfetante (500g de oxicloreto a 50% em 100 litros
de água mais 50ml de espalhante adesivo). No caso de arames, usar hipoclorito de
sódio 1% para evitar a oxidação causada pelo cobre. Os tratos culturais de amarração,
desbrota, pulverização e capinas devem ser iniciados sempre por onde a cultura
estiver mais sadia, deixando para o final as áreas onde forem observados focos da
doença; plantas doentes devem ser arrancadas e eliminadas da lavoura; dar
preferência ao fazer a desbrota quando o clima estiver seco; é recomendando que se
retire os brotos da lavoura para diminuir a fonte de inóculo; diminuir o trânsito de
pessoas e máquinas em áreas com a doença; em ano em que houver previsão de
verões chuvosos, aumentar o espaçamento entre plantas, o que permite melhor
aeração do cultivo; as duas primeiras folhas baixeiras em estádio avançado de
maturação fisiológica (em torno dos 50 dias após o transplante) devem ser retiradas da
planta e do local, a fim de diminuir o inóculo e aumentar o arejamento na base da
planta; o controle de ervas daninhas é obrigatório na produção integrada durante o
ciclo da cultura, pois além de comprometer a eficácia de aplicação de produtos
químicos, serve de um repositório de inóculo para o tomateiro, já que as bactérias têm
capacidade de sobreviver epifiticamente na superfície foliar de ervas daninhas. Isso foi
observado por Marcuzzo & Becker (dados não publicados) em amostragem de algumas
plantas daninhas presentes numa lavoura de tomate em Lebon Régis na safra
2008/2009, as quais apresentaram população epifítica de Xanthomonas spp.
1,0x104Segundo a Instrução Normativa no 24/DAS, deve-se eliminar os restos culturais
até 10 dias após a última colheita de cada talhão.
6) Controle biológico: existem diversos relatos de agentes de controle biológico que
apresentam eficiência razoável contra fitobactérias do tomateiro. Comercialmente
existe uma estirpe de Ralstonia solanacearum avirulenta com nome comercial de
PSSOL (Natural Plant Protection) que pode ser utilizada no manejo de Ralstonia
solanacearum.
7) Controle químico: para o controle químico de fitobactérias em tomateiro tem-se um
reduzido número de produtos eficientes ou registrados. Nessa forma de controle
devem ser levadas em consideração as medidas anteriores para o seu manejo.
Também é importante saber se o agente causal (patógeno) atua de forma sistêmica ou
não. Nos patógenos não sistêmicos, de uma forma geral, a eficácia de controle é
maior.
Na produção integrada é proibido o uso de antibióticos. Alguns produtos com ação
bactericida registrados no Mapa são o hidróxido de cobre, o oxicloreto de cobre e o
óxido cuproso, os quais, em mistura com o fungicida mancozebe, apresentam efeito
sinérgico sobre bactérias. O uso de indutor de resistência sistêmica adquirida como o
acibenzolar-S-methyl é registrado para a cultura, apesar de ter resultados
contraditórios quanto a sua eficiência. Os produtos à base de cobre ou em mistura
ocupam posição de destaque e o modo de ação desses produtos pode ser bactericida
(agindo quando as bactérias estão em fase de multiplicação e provocando sua morte)
ou bacteriostático (inibindo o crescimento ou multiplicação celular). Eles são utilizados
no tratamento de sementes e principalmente como protetores da parte aérea. Na
produção integrada é obrigatório o tratamento dirigido com cúprico após a desbrota.
Nem sempre é possível um controle satisfatório, mesmo usando produtos registrados
para a cultura, pois alguns resultados utilizando o método químico com produtos
cúpricos são contraditórios. A dosagem, o equipamento de aplicação, a forma de
aplicar na planta, o momento para o início do controle, as condições climáticas, as
estirpes bacterianas resistentes e a fonte de inóculo próximo ao local são outros
fatores que podem interferir no controle.
Herbicidas e inseticidas podem também atuar indiretamente no controle pela
eliminação de vetores ou de hospedeiros intermediários, erradicando a população
epifítica em ervas daninhas conforme demonstrado no item 5. O álcool a 70%, o álcool
iodado, a amônia quaternária ou o hipoclorito de sódio 1% contribuem para diminuir a
possibilidade de infecção durante os tratos culturais. A amônia quaternária ou
hipoclorito de sódio 1% devem ser utilizados na desinfestação de ferramentas e
embalagem plástica.
Alguns produtos, empregados primariamente como fungicidas, tais como o captan,
famoxadone + carbamato e principalmente mancozeb + cobre apresentam também
uma ação bactericida.
Na produção integrada, os produtos e as dosagens utilizados devem ser aqueles
registrados no Mapa, onde se recomenda produtos de classe toxicológica III e IV,
respeitando-se o período de carência de cada produto. A utilização de produtos não
registrados, bem como a sua forma de armazenamento, o uso inadequado de
equipamentos para aplicação, o uso de EPIs, a forma do preparo e a sua aplicação
resultam em não conformidade durante a auditoria e consequentemente a não
certificação do produto.
Texto retirado do artigo: Sistema de produção integrada para o tomate tutorado em
Santa Catarina.
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