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AMAZÔNIA: algumas ponderações (final)


Argemiro Luís Brum

Dentro do contexto que expressamos na coluna passada, temos a dizer que as queimadas e desmatamentos criminosos na Amazônia, feitos especialmente por brasileiros inescrupulosos, apoiados em muitos casos por interesses externos, precisam ser combatidas. Se os focos de incêndio aumentaram 84% no primeiro semestre deste ano, em relação ao ano passado, isso não se deve apenas ao regime de chuvas, como nos tentou fazer crer o atual ministro do Meio Ambiente.

Ajudou em muito a tudo isso o discurso irresponsável do atual governo, em relação àquela região e ao meio ambiente nacional em geral, fato que alimentou a lógica de que agora “se está livre para agir”. E o governo não teria se mobilizado se não ocorresse a pressão internacional, pois o que lá ocorria, em boa parte, estava dentro de seus preceitos ideológicos.

Ora, se é verdade que a Amazônia acabou virando quase terra de ninguém, com interesses multinacionais lá presentes explorando nossas riquezas, também é verdade que o Brasil não foi capaz de controlar este movimento, assim como não tem recursos suficientes, e mesmo interesse político, para organizar uma ação de utilização econômica da região sem destruí-la. Tal situação nos trouxe à triste realidade de hoje. E neste imbróglio, o governo brasileiro, por falta de estofo político, está perdendo uma grande oportunidade de se impor como garantidor de seu território amazônico.

Preferimos entrar numa briga política infantil, de baixo nível, o que desmoraliza a Nação brasileira e coloca “no lixo” mais de 30 anos de trabalho de convencimento mundial de que nossos produtos agropecuários não são oriundos do descuido com o meio ambiente, e que temos sim condições de os gerenciarmos adequadamente. Tal situação dá margem à aplicação de medidas protecionistas dos estrangeiros contra nossas exportações. Ou seja, por incompetência, mais uma vez, estamos dando munição a que nossos concorrentes comerciais coloquem barreiras sobre nossos produtos, retirando-nos do mercado.

E não é só isso! Investimentos externos passam a ser adiados, sai dólar do país, o Real se desvaloriza fortemente, a Bolsa despenca, desestabiliza o governo e a crise econômica, que já não é pequena, aumenta consideravelmente. É óbvio que precisamos defender a Amazônia, mas é preciso cientificamente detectar onde concentrar a defesa e agir em consequência.

Ao invés disso, o governo preferiu duvidar das estatísticas e, levianamente, sair acusando cientistas, ONGs e outras pessoas e instituições, sem nenhuma prova, o que o desmoraliza. Portanto, se defender nossos interesses nacionais na Amazônia está correto, a forma de fazê-lo está sendo um desastre para o país, tanto em termos de resultados, quando de imagem e presença econômica internacional. E a conta, como sempre, cai no colo da população nacional. 

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