Como controlar corós e outras larvas no trigo?
Leia sobre a identificação e o controle do coró-do-trigo e coró-das-pastagens.

Os corós são as larvas de insetos de ordens como Coleoptera e Melolonthidae, com o corpo em forma curvada, cor esbranquiçada e a cabeça e três pares de pernas mais escuros. Possuem desenvolvimento holometabólico, passando pela fase de ovo, larva, pupa e adulto. Dentre os insetos que causam danos na cultura do trigo, podemos citar o Dilobderus abderus (coró das pastagens) e Phyllophaga triticophaga (coró do trigo).
Aspectos gerais dos corós
Os corós, quando larvas, se alimentam de partes vegetais como sementes, raízes e plantas que puxam para dentro do solo, depois de consumirem as raízes. Um coró pode consumir até duas plântulas de trigo por semana, além de reduzir a capacidade de produção das plantas, o que explica o dano causado na cultura. E como são espécies polífagas, consomem diversos outros tipos de plantas, cultivadas ou daninhas, dificultando bastante o controle destas pragas. Devido ao seu ciclo de vida, os maiores danos às plantas ocorrem no inverno, podendo se estender às culturas de verão em final de ciclo (principalmente coró de trigo na soja) ou quando semeadas cedo, após o inverno (principalmente o milho).
Os ataques iniciam em manchas, podendo progredir para áreas maiores. Devido ao ciclo de vida, maiores danos do coró-do-trigo podem surgir em anos alternados, e, no caso do coró-das-pastagens, os danos aparecem anualmente. O revolvimento do solo prejudica a sobrevivência desses insetos, destruindo ovos, larvas, galerias etc. Desta forma, o plantio direto ou preparo reduzido favorecem a sobrevivência destas pragas.
O coró-das-pastagens está bastante disseminado no RS e em algumas áreas de SC, devido ao plantio direto. Já o coró-do-trigo se encontra em áreas ao norte do RS e em SC, tanto em áreas de plantio convencional como em plantio direto.
Outros corós como o coró-da-soja e coró-do-milho, além de larvas como a larva-arame, larva-alfinete, gorgulho-do-solo e a lagarta-preta também podem causar danos ao trigo. É importante saber identificar as espécies de corós, pois nem todas consomem as raízes.
Identificação dos corós no trigo
Dilobderus abderus (coró das pastagens)
O coró-das-pastagens é um besouro que mede aproximadamente 1,3 cm de largura e 2,5 cm de comprimento quando adulto, apresentando uma cor quase preta. Os machos não voam, e apresentam um apêndice em forma de chifre, que se projeta para trás, e um apêndice no tórax, bifurcado, que servem para a defesa do inseto. Costumam aparecer entre novembro e abril, sendo a postura de ovos mais frequente entre janeiro e fevereiro, feita geralmente em locais com bastante palha para proteger ovos e alimentar as larvas. As larvas fazem galerias no solo para o abrigo, duram aproximadamente sete meses, atingindo um tamanho máximo de até 5,0 cm de comprimento, e após isso tornam-se pupa, geralmente a partir de outubro, apresentando um ciclo anual, causando danos anualmente.
Phyllophaga triticophaga (coró-do-trigo)
O coró-do-trigo, quando adulto, possui uma cor marrom-avermelhada brilhante, com pelos dourados. Possui um tamanho menor que o coró-das-pastagens, medindo cerca de 1,8 cm de comprimento e 0,8 cm de largura. Geralmente entre outubro e novembro, os adultos saem do solo à noite para se reproduzir e se dispersar. Os ovos surgem entre novembro e dezembro. As larvas duram desde o final deste ano (não fazem galerias no solo, vivendo mais próximas à superfície, ao contrário do coró-do-trigo), duram o ano seguinte inteiro, e viram pupas no início do terceiro ano, atingindo até 4,0 cm de comprimento e 0,8 cm de largura. A partir de março deste terceiro ano, as pupas começam a se transformar em adultos, que irão sobreviver ao inverno enterrados e sem se alimentar. Desta forma, apresentam um ciclo bianual, e maiores danos desta praga nas culturas podem ocorrer em anos alternados.
Como controlar corós e larvas no trigo?
Monitoramento
Quanto maior a população de corós, maior a dificuldade de controlar estas pragas, e maior será o dano causado. A amostragem é feita no solo antes da semeadura, e a tomada de decisão, para o coró-das-pastagens e coró-do-trigo é de 5 corós/m² em média. Para realizar as amostras, são abertas trincheiras de 50 a 100 cm x 25 x 20 cm de profundidade, em no mínimo 10 pontos por talhão. O registro da amostragem e dos danos permite mapear as infestações e elaborar um histórico da área, facilitando o planejamento da lavoura e manejo.
Como o ciclo destes insetos é longo, deve ser feito o monitoramento periódico das áreas durante todas as épocas do ano, antes da semeadura, durante o desenvolvimento das plantas e após a colheita das culturas, buscando os sintomas como morte de plântulas ou de afilhos, desenvolvimento reduzido, perdas de produtividade.
Controle dos corós do trigo
Para realizarmos um bom controle, é necessário conhecermos as características das pragas. O preparo convencional com lavração e gradagem pode controlar estas pragas no solo, porém, esta prática é incompatível com o plantio direto. Além disso, a rotação de culturas não é eficiente, pois os corós se alimentam de diversas espécies de plantas. Algumas culturas, como a aveia, por exemplo, sofrem menos os danos destas pragas, e, toleram maior pressão quando cultivadas sem fins financeiros, visando benefícios como proteger e/ou melhorar o solo, produzir palha, alimentar animais etc.
Controle cultural
Em locais onde é possível flexibilizar a época de semeadura, podemos escapar ou minimizar o dano causado pelo coró. Por exemplo, podemos atrasar a semeadura de cultura de verão, iniciando somente quando o coró-das-pastagens já tiver cessado a alimentação e/ou passarem a fase de pupa.
O coró-das-pastagens precisa de restos culturais para a sua sobrevivência e multiplicação. Se cultivarmos uma cultura de inverno que não forneça tanta palha para o inseto depositar seus ovos durante o verão, a praga terá seu crescimento populacional prejudicado. Por exemplo, para milho semeado entre setembro e outubro, antecedido por canola, azevém, ervilhaca ou tremoço, a palha que ficará no solo em janeiro-março será menor do que soja antecedida por aveia preta, desfavorecendo a propagação do inseto.
Já no caso do coró-do-trigo, como ele tem um ciclo de dois anos, ocorre uma alternância dos danos desta praga entre os anos. Desta forma, a área pode ser planejada de forma a diminuir os danos, por exemplo, produzindo grãos no ano com menor risco, e palha, pasto ou adubo verde em anos com maior risco de ataque do coró.
Controle natural e biológico
Devido a fatores variáveis como a presença de inimigos naturais, condições ambientais, ciclo do inseto e mortalidade natural, as populações de corós flutuam. A ocorrência da praga em um momento não garante que ela estará presente na safra seguinte.
Quando ocorre estresse hídrico, por excesso ou falta de umidade no solo, a sobrevivência do coró é prejudicada. Em longos períodos de seca, os corós descem para maiores profundidades no solo, diminuindo sua alimentação e atividade. Este mesmo efeito pode ocorrer em períodos longos de frio intenso.
Quanto ao controle biológico, micro-organismos que causam doenças nos corós, como fungos e bactérias são o mecanismo de controle biológico mais importante na região sul do país. Fungos como Beauveria bassiana, Cordyceps sp. e Metarhizium anisopliae são os principais a causar a morte dos corós. Quanto às bactérias, Bacillus sp. e Serratia marcescens são bastante encontradas em corós que morrem naturalmente. Vespas também podem parasitar os corós, desta forma, é importante fazer uso racional e seletivo de inseticidas, visando preservar estes organismos benéficos.
Controle químico
O tratamento de sementes com inseticidas é um método de controle fácil e eficiente para o coró no trigo e em outros cereais de inverno. Porém, para o controle ser eficiente, o tratamento deve ser incorporado às práticas do Manejo Integrado de Pragas, especialmente o monitoramento e amostragens. A aplicação de inseticidas em área total, antes da semeadura ou após a emergência, não é indicada pois não apresenta resultados comprovados, e irá causar impacto sobre organismos benéficos ao ambiente.
Método | Tática | Eficácia |
Controle cultural | Época de semeadura, em soja e milho | Eficaz |
Rotação de culturas | Parcialmente eficaz | |
Aração / gradagem (com restrição de uso) | Parcialmente eficaz | |
Controle biológico | Natural, principalmente entomopatógenos | Eficaz |
Controle químico (inseticida) | Tratamento de sementes | Eficaz |
Pulverização sobre o solo (com restrição de uso) | Parcialmente eficaz |
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BORÉM, A.; SCHEEREN, P. L. Trigo: do Plantio à Colheita. [S. l.]: Universidade Federal de Viçosa, 2015.
PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável. [S. l.: s. n.], 2011.
Salvadori, José & Marsaro Júnior, Alberto & Suzana-Milan, Crislaine & Lau, Douglas & Engel, Eduardo & Pasini, Mauricio & Pereira, Paulo. (2022). Pragas da cultura do trigo.