Como controlar lagartas desfolhadoras no trigo?
Leia sobre a identificação e controle das lagartas desfolhadoras que atacam a cultura do trigo.

O trigo pode ser atacado por diversas pragas, dentre elas, lagartas desfolhadoras que se alimentam de partes da planta, como a lagarta-do-trigo e lagarta-militar, conhecida também como lagarta-do-cartucho-do-milho. Ambas as espécies se escondem nas horas mais quentes do dia, agindo mais à noite ou em dias nublados. Ocorrem em focos e apresentam hábito migratório, causando focos de manchas na lavoura, aumentando conforme as plântulas são destruídas. Os danos ocorrem devido ao ataque às folhas e às espigas em focos de áreas na lavoura.
As lagartas de Pseudaletia spp. são mais comuns no final do inverno e início da primavera, e causam mais danos em órgãos reprodutivos. Já a S. frugiperda geralmente aparece no outono, sendo mais comum em locais com invernos menos rigorosos. Essa espécie pode estar na lavoura já na semeadura, e causa danos principalmente no estabelecimento da cultura.
Vejamos abaixo as características de cada uma destas espécies.
Identificação das lagartas
Lagarta-do-trigo (Pseudaletia sequax e Pseudaletia adultera)
Estas espécies possuem três pares de pernas torácicas e cinco pares de falsas pernas no abdômen. Ao nascer, possuem pouco mais de 1 mm de comprimento, com uma cor esverdeada, e podem atingir 4,0 a 4,5 cm quando adultos, com cor que varia entre o esverdeado ao quase preto, sendo geralmente pardo-acinzentado, apresentando listras longitudinais claras e escuras. No estágio de pupa, se encontram no solo, em pouca profundidade ou até sob restos culturais. Já quando adultos, as mariposas possuem cor palha, com manchas nas asas. As fêmeas podem colocar mais de mil ovos, sendo estes brancos, brilhantes e redondos, colocados em grupos e encontrados geralmente na extremidade de folhas secas.
As espécies podem ocorrer na lavoura a partir do espigamento até a colheita do trigo. Como as lagartas são polífagas (se alimentam de ampla variedade de plantas), podem se alimentar de outras culturas como gramíneas e outros cereais de inverno.
As duas espécies são bastante semelhantes entre si, sendo tratadas como sendo da mesma espécie na prática. As diferenças físicas entre elas surgem apenas na fase adulta, sendo a Pseudaletia sequax ligeiramente maior.
Pseudaletia sequax - fase larval (à esquerda) e adulta (à direita).
Pseudaletia adultera - lagarta (à esquerda) e adulto (à direita).
Lagarta-militar (Spodoptera frugiperda)
Esta lagarta aparece nas lavouras de trigo em invernos secos e pouco frios, como por exemplo no norte do estado do Paraná, Mato Grosso do Sul e em latitudes inferiores. Também é uma praga polífaga que se alimenta de gramíneas e outras famílias, dificultando o seu controle. No trigo, geralmente a lagarta-militar ocorre no início do desenvolvimento da cultura, consumindo folhas e plântulas, reduzindo o desenvolvimento e população de plântulas.
As lagartas possuem cor verde, e na fase adulta, as mariposas possuem cor pardo-acinzentada quase preta, com aproximadamente 2,0 cm de comprimento e 3,0 cm de envergadura, e podem colocar mais de mil ovos.
Uma forma de identificar a espécie é através do "Y" invertido na fronte da cabeça.
Spodoptera frugiperda - lagarta
Spodoptera frugiperda - adulto. Foto: Embrapa
Ovos de Spodoptera frugiperda. Foto: Embrapa
Como controlar as lagartas desfolhadoras no trigo?
Monitoramento
As lagartas devem ser monitoradas para determinarmos a necessidade de controle destas pragas. As amostragens são feitas semanalmente, contando o número de lagartas grandes, médias e pequenas, através de um olhar atento às plantas e ao solo (embaixo de torrões e restos vegetais, dentro de fendas etc.). Devem ser feitos no mínimo 10 pontos amostrais no talhão, através de trincheiras com 50cm a 100cm x 25cm x 20cm de profundidade.
No caso da lagarta-do-trigo, o monitoramento é intensificado a partir do espigamento, avaliando o número de lagartas e grau de redução da área da folha bandeira. A tomada de decisão geralmente é feita com 10 lagartas maiores que 2 cm/m².
Para a lagarta-militar, o monitoramento inicia-se logo após a emergência das plantas, e a tomada de decisão é feita no início da infestação.
Controle biológico
As lagartas que atacam a cultura do trigo possuem um bom número de inimigos naturais predadores, patógenos ou parasitóides, que evitam o surto de lagartas. Estes organismos naturais devem ser preservados para evitar a infestação das pragas, e usar defensivos apenas quando necessário.
- Parasitóides: a microvespa Trichogramma pretiosum insere ovos dentro da lagarta, matando a lagarta e originando novas vespas.
- Predadores: dentre os predadores, temos o besouro da espécie Calosoma granulatum, que consome as lagartas, independente do seu tamanho, e possui boas taxas de controle. As tesourinhas também são boas predadoras de ovos e larvas no caso da lagarta-militar.
- Entomopatógenos: estes organismos infectam os insetos, causando doenças e levando-os à morte. As lagartas desfolhadoras podem ser controladas por bactérias Baculovirus. Os produtos com entomopatógenos são bastante conhecidos no mercado.
Controle químico
Os defensivos devem ser pulverizados na parte aérea das plantas e, sempre que possível, apenas nos focos da infestação. A aplicação não deve ser deixada para quando as lagartas estão no tamanho máximo, mas sim, no início da infestação, quando as lagartas ainda são pequenas e ocorre a maior efetividade no controle. Se na população de lagartas ocorre um predomínio de lagartas grandes, deve-se optar por produtos de ação mais rápida. Para lagartas pequenas / médias, usar inseticidas reguladores de crescimento.
O inseticida para o controle dessas espécies age através da ingestão do produto pelas lagartas, e não por contato. Dessa forma, o controle deve ser feito quando ainda houver folhas verdes nas plantas.
Para ler sobre os produtos químicos que controlam as lagartas, clique no nome da espécie a ser controlada abaixo, e no final da página você pode encontrar os produtos:
- Lagarta do trigo (Pseudaletia sequax)
- Lagarta do trigo (Pseudaletia adultera)
- Lagarta do cartucho / Lagarta militar (Spodoptera frugiperda)
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BORÉM, A.; SCHEEREN, P. L. Trigo: do Plantio à Colheita. [S. l.]: Universidade Federal de Viçosa, 2015.
PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável. [S. l.: s. n.], 2011.
SALVADORI, J.R. Pragas de trigo no Brasil. In: GUEDES, J.c.; COSTA, l.D. da; CASTIGUONI, E. (eds.). Bases e técnicas do manejo de insetos. Santa Maria: UFSMI CCR/ DFS, 2000. p.155-167.