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Sódio nas plantas - tudo o que você precisa saber

O sódio é um cátion de alta solubilidade. Quando existe altos teores do elemento no solo, pode ocorrer um aumento na condutividade elétrica (e consequentemente salinidade), prejudicando o desenvolvimento das plantas.



O sódio no solo

O sódio é um cátion de alta solubilidade. Quando existem altos teores do elemento no solo, pode ocorrer um aumento na condutividade elétrica (e consequentemente salinidade), aumentando o potencial osmótico no solo, o que causa distúrbios e prejudica o desenvolvimento das plantas. O sódio pode ser adsorvido aos coloides do solo, e quando se encontra em altas concentrações, pode deslocar o magnésiocálcio e o potássio desse complexo de troca, podendo alterar a estrutura do solo (Oliveira et al., 2002).

No Brasil, as áreas afetadas por salinidade se concentram na região Nordeste (Oliveira, 1997), mas também ocorrem em outros locais do país, tendo um impacto maior em regiões áridas e semi-áridas. A salinidade do solo pode ser proveniente do intemperismo de minerais e rochas, água do mar, oscilação de lençol freático salinizado, uso de água com altos teores de sais na irrigação e uso de fertilizantes com alto índice salino. Em regiões com altos índices de chuva, o elemento pode se deslocar para águas subterrâneas, causando contaminação ambiental.

Em condições salinas, ocorre o decréscimo do componente osmótico no solo, reduzindo a disponibilidade de água (Tester & Davenport, 2003), o que é mais comum de ocorrer em solos arenosos. Outro prejuízo da salinidade é o fato de que a alta concentração de sódio no solo pode prejudicar a absorção pela planta de outros nutrientes como o magnésiocálcio e o potássio, através da competição pelos sítios de absorção nas raízes, efeito que pode ser até mais prejudicial do que a alteração da osmose (Kawasaki et al., 1983). Desta forma, é importante realizar a recuperação destes solos, evitando a redução de produtividade ou inutilização de áreas agricultáveis.

 

Como reduzir o sódio / salinidade no solo?

Diversos corretivos podem ser usados para diminuir o excesso de sódio trocável no solo. São eles o enxofre, gesso, sulfato de alumínio, cloreto de cálcio e ácido sulfúrico. Dentre estas opções, o gesso é o que apresenta menor custo, sendo o mais utilizado geralmente (Melo et al., 2008).

Também existem práticas preventivas, como a redução de fertilizantes com alto índice salino, uso de corretivos de solo e insumos orgânicos como por exemplo micorrizas, lavagem do solo, fitorremediação, uso de dessalinizadores etc.

 

O sódio nas plantas

Apesar de muitas vezes causar problemas pelo seu excesso, o sódio, quando em quantidades adequadas, atua como um nutriente para a planta, trazendo alguns benefícios:

  • Participação na síntese de clorofila (Romero, 2008);
  • Estímulo à fotossíntese (Murata & Sekiva, 1992);
  • Regeneração do fosfoenol piruvato (PEP) (Romero, 2008);
  • Redução da quantidade de potássio exigida pela planta (Romero, 2008);
  • Controle osmótico (Romero, 2008);
  • Função estomática em algumas plantas (Thomas, 1970);
  • Transporte de íons em longas distâncias (Marschner, 1995);
  • Ativação de enzimas (Wyn Jones et al., 1979);
  • Estimulação do crescimento (Takahashi & Maejima, 1998).

 

A maioria das cultivares de plantas se desenvolveram em condições de baixa salinidade, assim, os mecanismos envolvidos no desenvolvimento destas plantas muitas vezes não são eficazes em condições com excesso de sódio. Nestas condições, os efeitos tóxicos do cloreto de sódio (NaCl) incluem a toxicidade em razão do excesso de absorção do sódio e cloro e desequilíbrio nutricional por meio da competição com outros nutrientes.

Conforme citado anteriormente, a alta concentração de sódio no solo pode prejudicar a absorção de outros nutrientes como o magnésiocálcio e potássio, através da competição pelos sítios de absorção nas raízes, efeito que pode ser até mais prejudicial do que a alteração da osmose (Kawasaki et al., 1983). Também pode ocorrer prejuízos sobre as enzimas e membranas da planta (Flores, 1990), e inibição da síntese proteica (Taiz & Zeiger, 2004).

Outro fator importante é a osmose no solo. O excesso de sal aumenta o potencial osmótico do solo, aumentando a sua salinidade, e fazendo com que a planta gaste mais energia para absorver água e nutrientes (Silva et al., 2013). Além disso, a planta fecha seus estômatos para diminuir a perda de água por transpiração, o que faz com que ocorra uma menor taxa fotossintética, reduzindo o seu crescimento (Taiz et al., 2017).

 

Tolerância de plantas à salinidade

As plantas podem ser classificadas como sensíveis, moderadamente sensíveis, moderadamente tolerantes e tolerantes ou resistentes no que se refere à ação degenerativa de sais na germinação, crescimento e produção. Confira na tabela abaixo:

Tabela 1. Tolerância das culturas a salinidade.
Cultura Sensibilidade / tolerância
Abobrinha Moderadamente sensível
Aipo Moderadamente tolerante
Alcachofra Moderadamente tolerante
Alface Moderadamente sensível
Alfafa Moderadamente sensível
Algodão Tolerante
Alho Moderadamente sensível
Amendoim Moderadamente sensível
Arroz Sensível
Aspargo Tolerante
Aveia Tolerante
Aveia perene Moderadamente sensível
Azevém Moderadamente tolerante
Azevém perene Moderadamente tolerante
Batata Moderadamente sensível
Batata-doce Moderadamente sensível
Berinjela Moderadamente sensível
Beterraba Moderadamente tolerante
Cana-de-açúcar Moderadamente sensível
Capim-amarelo Moderadamente tolerante
Capim melado / grama comprida Moderadamente sensível
Capim-mombaça Moderadamente tolerante
Cebola Sensível
Cenoura Sensível
Centeio Tolerante
Cevada Tolerante
Colza / Canola Moderadamente tolerante
Cornichão Moderadamente sensível a moderadamente tolerante
Ervilha Moderadamente sensível
Espinafre Moderadamente sensível
Fava-comum / feijão-fava Sensível
Feijão fradinho / miúdo / caupi Moderadamente sensível
Feijão mungo Sensível
Gergelim Sensível
Girassol Moderadamente tolerante
Grama azul Moderadamente sensível
Grama bermuda Tolerante
Grão-de-bico Moderadamente sensível
Lablab Moderadamente sensível
Linhaça Moderadamente sensível
Mandioca Moderadamente sensível
Melão Moderadamente sensível
Milho Moderadamente sensível
Morango Sensível
Pepino Moderadamente sensível
Pimentão Moderadamente sensível
Quiabo Moderadamente sensível
Rabanete Moderadamente sensível
Soja Moderadamente tolerante
Soja perene Moderadamente sensível
Sorgo Moderadamente tolerante
Trevo branco Moderadamente sensível
Trevo vermelho Moderadamente sensível
Trigo / trigo duro Moderadamente tolerante 
Triticale Tolerante
Tomate Moderadamente sensível
Tomate cereja Moderadamente sensível

Fonte: adaptado de Grieve, Grattan & Maas (2011).

 

Substituição de potássio por sódio na adubação

O sódio, quando não se encontra em excesso, é um elemento benéfico para as plantas. Em algumas culturas, o sódio pode substituir uma parte da adubação com potássio. O sódio é um elemento abundante, ao passo que o potássio é um elemento muito mais limitado e caro. Existem algumas poucas pesquisas que avaliaram a resposta das plantas em relação à substituição parcial do potássio por sódio na adubação.

Algumas plantas possuem seu crescimento estimulado pelo sódio, como o nabo, a beterraba e algumas gramíneas C4, resultando em maior produtividade quando substituímos parte da adubação potássica pelo elemento. Já outras plantas apresentam resposta negativa, tendo seu crescimento prejudicado pelo sódio, como o milho e a soja.

Alguns estudos feitos com o sódio substituindo parcialmente o potássio resultaram em maior produtividade das culturas. Porém, vale ressaltar que ainda carecemos de mais pesquisas para se determinar espécies de plantas, manejos e doses e determinar recomendações de adubação com sódio.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro agrônomo

 

Referências:

FLORES, H.E. 1990. Polyamines and plant stress In: LASCHER, R.G.; CUMMING, J.R. Stress responses in plants: adaptation and acclimation mechanisms. New York, Wiley-liss, p. 217-39.  

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Silva, Denise de F. et al. Disponibilidade de sódio em solo com capim tifton e aplicação de percolado de resíduo sólido. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental [online]. 2010, v. 14, n. 10, pp. 1094-1100. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1415-43662010001000011>. Epub 24 Set 2010. ISSN 1807-1929. https://doi.org/10.1590/S1415-43662010001000011.

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