Melhoramento da batata sempre foi um desafio
O foco do melhoramento híbrido está em aumentar a resistência a doenças

O cultivo de batata sempre foi um desafio para agricultores e melhoristas, devido à complexidade genética da planta. Variedades comerciais não se autopolinizam, possuem quatro conjuntos de cromossomos e são propagadas por tubérculos, o que garante uniformidade genética, mas limita a renovação e favorece o surgimento de doenças. Charles Miller, diretor da empresa holandesa de biotecnologia Solynta, explica que “cada vez que se faz uma cópia, a qualidade diminui”, tornando o melhoramento tradicional uma verdadeira loteria.
Segundo Miller, a solução da Solynta está na semente botânica híbrida, que permite autopolinização sem transgenia. A empresa incorporou o gene Sli, criando linhas puras que substituem 2,5 toneladas de tubérculos por apenas 25 g de sementes, além de empilhar resistência ao temido fungo do tizón tardio. Com financiamento de €20 milhões do Banco Europeu de Investimentos, a distribuição inicial será voltada para África e Europa, onde a tecnologia promete superar desafios climáticos e logísticos.
Entre os benefícios práticos, Miller destaca que sementes híbridas facilitam o plantio sem necessidade de armazenar tubérculos em grandes armazéns climatizados, reduzindo custos e impactos ambientais. Em países como o Quênia, onde se podem ter duas safras por ano, a tecnologia permite semear rapidamente quando o clima permite, mesmo em regiões sem infraestrutura de armazenamento adequada.
O foco do melhoramento híbrido está em aumentar a resistência a doenças e otimizar características agronômicas em menos tempo. Miller estima que, do isolamento de um gene em batatas silvestres à obtenção de sementes híbridas com o traço desejado, o processo possa levar de cinco a sete anos. Para a Solynta, o futuro é promissor: híbridos de batata representam uma revolução para agricultores e consumidores, com produtividade mais estável e adaptada às mudanças climáticas.