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Agro representa só 5% dos investimentos chineses no Brasil

Eletricidade e petróleo lideram aportes de US$ 77,5 bilhões



Eletricidade e petróleo lideram aportes de US$ 77,5 bilhões Eletricidade e petróleo lideram aportes de US$ 77,5 bilhões - Foto: Pixabay

Apesar da forte parceria comercial entre Brasil e China no agronegócio, com o país asiático sendo o principal destino das exportações agrícolas brasileiras, os dados sobre investimentos diretos revelam uma realidade distinta. Entre 2007 e 2024, a agricultura representou apenas 5% do número total de projetos de investimentos chineses no Brasil, ocupando a quinta posição no ranking setorial.

O levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), divulgado em setembro de 2025, mostra que empresas chinesas iniciaram 303 projetos no país ao longo desses 18 anos, totalizando US$ 77,5 bilhões em investimentos. Desse montante, o agronegócio absorveu 5% do valor total, evidenciando que a presença chinesa no Brasil vai muito além da tradicional relação comercial agrícola.

Eletricidade domina os investimentos

O setor elétrico brasileiro foi o grande protagonista dos aportes chineses, liderando tanto em valor quanto em número de projetos. Com 45% do total investido e 41% dos empreendimentos, a eletricidade atraiu principalmente grandes projetos de infraestrutura energética, incluindo a aquisição de usinas hidrelétricas e investimentos em energias renováveis.

Na segunda posição aparece o setor de petróleo, responsável por 29% do valor total e 7% dos projetos. A indústria manufatureira, por sua vez, ocupou o terceiro lugar em valor (8%) e subiu para a segunda posição quando analisada por número de projetos (22%), refletindo uma maior quantidade de empreendimentos de menor porte individual.

A mineração ficou com 6% do valor investido e 2% dos projetos, enquanto obras de infraestrutura representaram 4% do total em valor e 3,3% em número de empreendimentos.

Sudeste concentra mais da metade dos investimentos

A análise regional revela forte concentração dos investimentos chineses na região Sudeste, que absorveu 54% dos projetos entre 2007 e 2024. São Paulo lidera isoladamente com 35,6% de todos os empreendimentos, seguido por Minas Gerais com 12% - uma diferença que evidencia o protagonismo paulista.

O Nordeste aparece em segundo lugar entre as regiões, com 15% dos projetos, seguido pelo Centro-Oeste (14%), Sul (10%) e Norte (7%). Goiás ocupa a terceira posição no ranking estadual com 6,1%, enquanto a Bahia aparece em quarto lugar.

Mudança de perfil na indústria manufatureira

Um destaque do estudo é o comportamento da indústria manufatureira chinesa no Brasil. Dos 68 projetos confirmados no setor entre 2007 e 2024, metade se concentrou na produção de veículos automotivos e suas peças, incluindo tanto aportes iniciais quanto ampliação da capacidade produtiva.

A fabricação de aparelhos e materiais elétricos representou 22% dos projetos manufatureiros, seguida por máquinas e equipamentos (16%). O portfólio inclui ainda eletroeletrônicos, materiais para uso médico, produtos químicos e têxteis, demonstrando uma diversificação crescente.

2024: Ano de crescimento expressivo

O ano de 2024 marcou um ponto de inflexão nos investimentos chineses no Brasil. Os aportes confirmados somaram US$ 4,18 bilhões - um salto de 113% em relação a 2023 -, colocando o país como terceiro maior receptor mundial de capital produtivo chinês, atrás apenas do Reino Unido e da Hungria.

O número de projetos atingiu recorde histórico de 39 empreendimentos, crescimento de 34% na comparação anual. Esse desempenho foi muito superior ao aumento geral dos investimentos estrangeiros no país (13,8%), segundo dados do Banco Central.

Eletricidade e sustentabilidade em foco

Em 2024, o setor elétrico manteve a liderança, respondendo por 34% do valor total (US$ 1,43 bilhão) e impressionantes 56% dos projetos (22 empreendimentos). O crescimento de 115% em relação a 2023 foi impulsionado principalmente por investimentos em energias renováveis, incluindo parques eólicos e solares.

Os projetos chineses em sustentabilidade e energia verde chegaram ao recorde de 27 empreendimentos, representando 69% de todos os projetos chineses no país em 2024. Esse movimento alinha-se com a política brasileira "Nova Indústria Brasil", lançada em janeiro de 2024, que foca em descarbonização e transição energética.

Diversificação geográfica

Em 2024, os investimentos chineses se espalharam por 14 estados brasileiros - seis a mais que no ano anterior -, evidenciando um processo de descentralização. Embora São Paulo tenha mantido a liderança com 31% dos projetos, sua participação relativa diminuiu, assim como a de Minas Gerais (14,3%).

Estados como Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul ganharam relevância, cada um com 9,5% dos projetos. A região Sudeste, embora ainda dominante, viu sua participação cair para 48% - um dos níveis mais baixos da série histórica.

O estudo revela que 79% dos investimentos em 2024 foram realizados via projetos greenfield (criação de novos empreendimentos), refletindo uma tendência de expansão da capacidade produtiva em vez de aquisições de ativos existentes.

Os dados consolidam o Brasil como destino estratégico para os investimentos chineses, mas mostram que essa parceria vai muito além do tradicional foco agrícola, abrangendo setores fundamentais para a modernização da infraestrutura e da indústria nacional.

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