2025/2026: política monetária global amplia incertezas no mercado de grãos
Incertezas climáticas e políticas exigem acompanhamento do mercado de grãos

O cenário macroeconômico global continua condicionado pelas expectativas em relação à política monetária dos Estados Unidos. O Federal Reserve sinalizou a possibilidade de cortes de juros a partir de setembro, movimento que, segundo o mercado, pode impactar diretamente o fluxo cambial. A queda da taxa americana tende a fortalecer moedas emergentes, especialmente o real, diante da ampliação do diferencial de juros. O real vem registrando valorização desde o início do ano, tendência que pode se intensificar nos próximos meses, conforme a análise da Hedgepoint Global Markets.
No Brasil, entretanto, fatores adicionais aumentam o nível de risco. “O processo eleitoral de 2026 já começa a ser precificado, e historicamente, a aproximação do calendário eleitoral tende a gerar maior volatilidade cambial, especialmente no último trimestre do ano anterior”, destacou a Hedgepoint Global Markets em relatório. Além disso, as tensões comerciais globais, marcadas por medidas protecionistas e retaliações entre Estados Unidos e China, seguem como fonte de incertezas para os fluxos internacionais de commodities.
Nesse ambiente, o mercado de grãos está sujeito não apenas a fundamentos agrícolas, mas também a variáveis macroeconômicas. “O mercado de grãos opera sob forte influência não apenas de fundamentos agrícolas, mas também do ambiente macroeconômico”, afirmou Thais Italiani, gerente de Inteligência de Mercado de Grãos & Oleaginosas da Hedgepoint Global Markets.
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Para o ciclo 2025/26 do milho, a expectativa é de oferta robusta. A produção mundial deve crescer mais de 60 milhões de toneladas em relação ao ciclo anterior, impulsionada pelos Estados Unidos. A demanda, no entanto, também avança, sustentada pelo consumo para ração e pelo aumento do uso industrial, principalmente destinado à produção de etanol. O relatório ressalta que “qualquer descompasso climático na América do Sul ou aumento inesperado da demanda chinesa pode alterar o balanço”.
No Brasil, a Hedgepoint revisou a safra total 2024/25 para 138,2 milhões de toneladas, acima da estimativa de junho e da projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). “No país, o consumo interno em expansão é impulsionado pelo etanol de milho. Na temporada 2024/25, cerca de 24 milhões de toneladas devem ser destinadas à produção de etanol, e esse volume pode dobrar em poucos anos com a entrada de novas usinas”, disse Luiz Roque, coordenador de Inteligência de Mercado da consultoria.
A consultoria estima exportações de 42 milhões de toneladas, mas aponta risco de redução, dada a competitividade do milho norte-americano. A comercialização da segunda safra segue lenta, com 43% negociados, abaixo da média histórica de 50%, em um cenário de produtores que seguram parte do volume à espera de preços melhores. No mercado interno, os preços em Campinas, na casa de R$ 64 a R$ 65 por saca, estão pressionados pela ampla oferta. “No mercado internacional, o Brasil terá de competir também com a Argentina, que deve ampliar exportações no próximo ciclo”, acrescentou Roque.
Na China, os estoques finais são projetados em queda, reflexo de produção estável e consumo em alta. Apesar de margens baixas na suinocultura, o rebanho se mantém elevado. O relatório destaca que, caso o governo chinês opte por recompor estoques estratégicos, há espaço para importações adicionais, como ocorreu em 2023/24, quando o Brasil exportou mais de 20 milhões de toneladas para o país. No curto prazo, no entanto, o milho norte-americano tende a se manter mais competitivo.
Nos Estados Unidos, o USDA surpreendeu o mercado ao projetar safra recorde de 425 milhões de toneladas, a maior já registrada. Os estoques devem subir de 33 para 53 milhões de toneladas, ampliando a pressão sobre os contratos na Bolsa de Chicago, que já operam próximos a US$ 4,00 por bushel. Segundo o relatório, “o clima foi favorável durante todo o desenvolvimento da safra, com índices vegetativos acima da média histórica e boas condições para início da colheita”. O risco apontado é de possíveis revisões de produtividade em setembro e outubro, que poderiam reduzir parcialmente a estimativa.
Na Argentina, a produção atual é estimada em 50 milhões de toneladas, com expectativa de aumento em 2025/26, já que as margens do milho superam as da soja. A Hedgepoint observou que o câmbio unificado pelo governo argentino reduziu distorções e incentivou a comercialização antecipada, com cerca de 5% da nova safra já vendida. As exportações devem crescer, competindo com o milho brasileiro, embora haja risco climático. O NOAA projeta 60% de chance de La Niña ainda em 2025, o que pode provocar seca na Argentina e no Sul do Brasil.
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Para o trigo, o mercado global em 2025/26 apresenta ampla oferta, puxada pela União Europeia e Rússia, enquanto a Ucrânia segue limitada pela guerra. Segundo a Hedgepoint, os estoques devem permanecer próximos aos níveis de 2024/25, sugerindo equilíbrio, mas com pressão baixista. Nos Estados Unidos, a produção deve ficar abaixo da safra passada, embora sustentada por boas produtividades. Já na União Europeia, a produção é estimada em 138 milhões de toneladas, contra 122 milhões no ciclo anterior, o que deve aumentar exportações e reduzir importações.
Na Argentina, a produção deve ficar próxima de 20 milhões de toneladas, com exportações em alta, enquanto no Brasil a área de trigo permanece limitada por margens pouco atrativas, especialmente no Sul, mantendo a dependência de importações argentinas. A Ucrânia, por sua vez, deve registrar produção entre 20 e 23 milhões de toneladas, abaixo do nível pré-guerra. Já a Rússia amplia exportações, beneficiada pela retirada quase total de impostos e por produtividades acima da média, consolidando-se como principal exportador mundial.