Com dólar favorável, trigo importado ganha espaço
Mercado de trigo vive pressão dupla: safra global farta e importações em alta

As importações brasileiras de trigo mantiveram ritmo elevado em julho, reforçando a dependência externa do cereal em um cenário de preços internos e externos pressionados. Segundo dados da Secex analisados pelo Cepea, o volume acumulado nos últimos 12 meses (agosto/24 a julho/25) atingiu 6,83 milhões de toneladas — alta de 19,9% em relação ao mesmo período anterior.
Somente em julho, entraram no país 616,91 mil toneladas, 26,7% a mais que em junho/25, mas 4,3% abaixo do registrado em julho/24. O movimento indica que, apesar da forte demanda, há oscilações mensais influenciadas por fatores logísticos, cambiais e de oferta nos países fornecedores, especialmente Argentina, Uruguai e Paraguai.
O levantamento do Cepea aponta que, no mercado doméstico, as cotações seguem pressionadas pela ampla oferta e pela concorrência com o trigo importado, que chega com preços competitivos em relação ao produto nacional. A tendência é reforçada por um cenário internacional de retração nos preços, reflexo de estoques elevados e boa safra nos principais produtores globais.
Analistas destacam que a valorização do real frente ao dólar nos últimos meses contribuiu para reduzir o custo de importação, ampliando o apetite de moinhos e indústrias pelo produto externo. Ao mesmo tempo, produtores brasileiros enfrentam margens mais apertadas, já que os preços pagos internamente têm dificuldade para acompanhar a alta nos custos de produção.
Especialistas do Cepea alertam que, caso o ritmo de importações se mantenha, a pressão sobre o mercado interno pode se estender até o início da colheita da nova safra, prevista para ganhar força no último trimestre do ano. Isso exigirá atenção redobrada dos produtores na gestão comercial, especialmente em regiões onde o custo logístico limita a competitividade frente ao trigo importado.
O cenário atual reforça a necessidade de estratégias mais integradas entre produção, armazenagem e comercialização para mitigar os efeitos da volatilidade de preços e da concorrência externa. Para os próximos meses, o comportamento do câmbio e as condições climáticas nas áreas produtoras do Mercosul serão determinantes para definir o fôlego das importações e o rumo das cotações no Brasil.