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Algodão: cotonicultura avalia impacto da crise no Irã

Crise geopolítica pressiona fertilizantes no Brasil



Foto: Divulgação

A alta dependência do Brasil em relação aos fertilizantes importados, especialmente os nitrogenados, acendeu o alerta entre os produtores rurais diante do agravamento de tensões geopolíticas. Atualmente, cerca de 85% dos fertilizantes utilizados nas lavouras brasileiras vêm do exterior. No caso específico da Ureia, aproximadamente 17% do volume consumido no país tem origem no Irã, um dos países diretamente envolvidos no conflito que impacta o mercado internacional.

Embora as unidades de produção de fertilizantes nos países afetados não tenham sido diretamente atingidas, o mercado global já sente os efeitos da instabilidade. A produção de ureia no Irã está temporariamente paralisada. Segundo dados da consultoria StoneX, o preço da ureia acumula alta de aproximadamente 9% desde o início do ano. “Há expectativa de novas altas se o cenário de instabilidade persistir”, aponta o relatório da consultoria.

O algodão é uma das culturas mais impactadas por esse cenário. Cultivado principalmente no Cerrado, o algodoeiro exige manejo intensivo de adubação devido à baixa fertilidade natural dos solos da região e ao ciclo de cultivo prolongado, que varia entre 140 e 180 dias.

De acordo com Márcio Portocarrero, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), mesmo com o uso de práticas como a rotação de culturas com soja e milho na entressafra, o setor depende do fornecimento adequado de insumos. “Uma possível crise global de produção de fertilizantes tem impactos expressivos para o setor. Os produtores precisarão avaliar com cuidado suas estratégias de manejo para mitigar perdas”, afirma.

Além da questão dos fertilizantes, o setor enfrenta incertezas no cenário de exportações. A China foi responsável por 49% das compras de algodão brasileiro na safra 2023/24, mas a demanda pode ser afetada pelas tensões comerciais com os Estados Unidos. O algodão adquirido pela China é, em grande parte, utilizado na produção de têxteis destinados ao mercado norte-americano. Uma nova rodada de tarifas sobre os produtos chineses pode reduzir a necessidade de importações de algodão pela China.

Portocarrero defende medidas para reduzir a vulnerabilidade brasileira na importação de fertilizantes. Entre as ações prioritárias, destaca a reativação, conclusão ou ampliação de fábricas estratégicas no país. Nesse sentido, a Petrobras anunciou a retomada das unidades de Araucária (PR) e Três Lagoas (MS), além da ampliação de encomendas para as fábricas da Unigel, localizadas em Sergipe e na Bahia. No curto e médio prazo, outras alternativas estão em avaliação. Entre elas estão a redução de tarifas de importação, a revisão de metas do Plano Nacional de Fertilizantes e o incentivo ao uso de nutrientes orgânicos, organominerais e remineralizadores, que potencializam os efeitos dos fertilizantes químicos nas lavouras.

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