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Bovinos eficientes ajudam a reduzir metano no Pampa

A metodologia pioneira é capaz de mensurar, com precisão, a emissão de metano



Foto: Canva

No Pampa gaúcho reprodutores bovinos geram dados que apontam para o futuro da pecuária brasileira. Indicada como uma das principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa (GEE), em especial o metano (CH4), a atividade demonstra que pode se tornar parte da solução no enfrentamento das mudanças climáticas. Exemplo disso é que, com a união entre pesquisa e setor produtivo, estão sendo desenvolvidas, na Embrapa Pecuária Sul (RS), as Provas de Emissões de Gases (PEG), testes que buscam justamente selecionar animais que emitem menos CH4, ao mesmo tempo em que convertem com mais eficiência o alimento consumido em peso vivo.

A metodologia pioneira é capaz de mensurar, com precisão, a emissão de metano em reprodutores bovinos mantidos sob condições controladas de manejo e alimentação. Ao longo de três anos de provas, já foram testados mais de 150 animais, das raças Angus, Charolês, Hereford e Braford, representadas por suas associações de criadores, além dos reprodutores do rebanho da raça Brangus da Embrapa.

A identificação dos jovens reprodutores com menores índices de emissão de metano pode ser empregada no melhoramento das raças, usando a genética na formação de progênies com essa característica. Com a consolidação de um robusto banco de dados para o atributo de menor emissão de gases, a Embrapa e parceiros poderão disponibilizar, nos programas de melhoramento genético, as DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie), indexadores que estimam a capacidade de um animal transmitir características genéticas para a sua descendência.

De acordo com a pesquisadora Cristina Genro, da Embrapa Pecuária Sul, identificar animais mais eficientes na relação entre consumo de alimentos, ganho de peso e menor emissão do gás é mais uma ferramenta em prol da sustentabilidade da pecuária brasileira e da redução de impacto nas mudanças climáticas. “Se pensarmos nessa característica espalhada por milhões de animais, a redução da emissão de metano pode ser extremamente significativa”, enfatiza a pesquisadora.

A relevância da prova, segundo Genro, também está relacionada ao fato de o Brasil ter aderido ao Pacto Mundial do Metano na COP26, realizada na Escócia em 2021. No evento, o País se comprometeu a reduzir a emissão desse gás, considerado fundamental na estratégia de mitigação do aquecimento global.

A PEG reúne um grupo de reprodutores bovinos da mesma raça em um espaço de confinamento, durante cinco dias. É realizada logo após o término da Prova de Eficiência Alimentar (PEA), que gera os dados de consumo e desempenho individuais utilizados para os cálculos de emissão de gás metano por consumo de alimento e ganho de peso. Nas duas provas, a alimentação e o manejo são os mesmos, em um ambiente controlado e com oportunidades iguais para cada animal expressar seu potencial genético. A dieta fornecida aos animais é composta por 75% de volumoso (silagem e feno) e 25% de concentrado.

O coeficiente técnico para a classificação dos reprodutores é calculado com base na relação entre a emissão de metano por consumo de matéria seca e a emissão de metano por ganho médio diário. Ao término, os animais são classificados nos grupos Elite, Superior e Comercial.

Na perspectiva de expandir e qualificar a PEG, a fim de formar mais rapidamente o banco de dados necessário para o lançamento das DEPs, a Embrapa Pecuária Sul está adquirindo o equipamento GreenFeed, um alimentador de última geração, automático, com sensores que identificam cada animal e medem o metano expelido, permitindo monitorar as emissões de forma individual e contínua. A novidade permite substituir o modelo de prova realizado atualmente, que necessita da instalação de equipamentos individuais (foto) nos animais.

A aquisição está dentro de um amplo projeto de pesquisa, que instituiu no RS um centro de referência para a avaliação de tecnologias com potencial de mitigar GEE da pecuária gaúcha. Liderado pela Embrapa Pecuária Sul, o trabalho foi aprovado em edital realizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do RS. “Com esses equipamentos instalados, teremos condições de avaliar 100 animais ao mesmo tempo”, destaca Genro.

Intitulado “Avaliação de tecnologias com potencial de mitigar GEE nos campos e florestas nativas e cultivadas do RS”, o trabalho está analisando cinco pontos centrais: a genética de reprodutores bovinos quanto à relação da emissão de metano e produção de carne; o potencial de mitigação dos sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) com árvores nativas do Rio Grande do Sul; novas dietas para bovinos com capacidade de diminuir a produção de metano entérico no rúmen dos animais; a validação, no RS, de marcas-conceito já lançadas pela Embrapa, como a Carne Carbono Neutro (CCN), Carne Baixo Carbono (CBC) e Carbono Nativo (CN); assim como a avaliação da carne produzida nesses modelos de produção.

Conforme Genro, que é líder do projeto, o manejo adequado do pasto é capaz de compensar em até 35% a emissão do metano pelos bovinos; a manipulação da fermentação ruminal com o a melhoria da dieta animal pode mitigar entre 10% e 20%; e o melhoramento genético animal tem um potencial de mitigar até 38% dessas emissões.

“Tudo isso pode oferecer uma perspectiva de valorização da carne gaúcha em um mercado cada vez mais exigente por produtos de qualidade e produzidos com sustentabilidade”, destaca a pesquisadora.

O uso de cultivares adaptadas e produtivs como a URS BRS Posteiro (foto abaixo), conhecida como leguminosa Comichão, contribui para a pecuária sustentável

A produção de metano em bovinos ocorre durante o processo natural de digestão dos alimentos pelos animais. Depois de ingeridos, os alimentos vão para o rúmen, órgão do aparelho digestivo, onde microrganismos ajudam na digestão por meio da fermentação, produzindo também o gás metano, que é emitido para a atmosfera a partir da eructação (arroto) dos animais.

Além do melhoramento genético animal, o manejo adequado das pastagens é outro pilar fundamental para reduzir impactos ambientais. Em estudos conduzidos no bioma Pampa, em área de integração Lavoura-Pecuária (ILP) com pastagens cultivadas de azevém e aveia para terminação de novilhos no inverno, os animais, quando estavam em uma altura ótima de pastejo, emitiram 30% menos metano em comparação aos índices preconizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, o IPCC.

Em resumo, quando os pastos são manejados segundo recomendações técnicas, levando em consideração o critério altura de pastagem, os animais emitem menos metano e o solo acumula mais carbono. A altura é uma característica da estrutura do pasto que tem relação direta com a massa de forragem, ou seja, a quantidade de pasto disponível em uma área.

No contexto do bioma Pampa, no caso de pastagens naturais, sugere-se medir a altura dos pastos uma vez ao mês, no outono e inverno, e a cada 15 dias na primavera e no verão. No caso de pastagens nativas melhoradas por fertilização e sobressemeadas com espécies cultivadas de inverno, a recomendação é que a medição seja feita pelo menos quinzenalmente durante todo o ano.

Para que a altura do pasto esteja dentro do recomendado, é preciso controlar a quantidade de animais por hectare. Se a lotação for muito alta, os bovinos perdem desempenho e emitem mais metano por área, assim como o pasto diminui sua capacidade de contribuir para fixação do carbono no solo.

Cada pasto tem uma altura de manejo recomendada, inclusive dependendo da sua forma de uso, ou seja, em pastejo rotativo ou contínuo. O azevém, espécie bastante usada no inverno, por exemplo, deve ser mantido entre 15 e 20 centímetros de altura durante todo o tempo de pastejo sob lotação contínua com taxa variável. Para pastejo rotativo, a entrada dos animais deve se dar com 20 cm e a saída entre oito e 12 cm.

As medições de altura do pasto podem ser realizadas com o uso de ferramentas simples como uma régua ou um bastão medidor de altura de pasto.  Os produtores interessados podem encontrar mais informações sobre manejo por altura de diversas espécies, inclusive de campo nativo do bioma Pampa e mesclas forrageiras, em publicação lançada pela Embrapa Pecuária Sul, intitulada Uso da altura para ajuste de carga em pastagens.

Além do manejo da altura da pastagem, diversas outras tecnologias disponibilizadas pela Embrapa podem ajudar na redução do impacto ao clima, como o uso de leguminosas forrageiras, plantas fixadoras de nitrogênio no solo, e que possibilitam a diminuição do uso de fertilizantes químicos, um dos emissores de GEE.

O programa de melhoramento de forrageiras da Embrapa Pecuária Sul, em parceria com instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Associação Sul-Brasileira de Fomento à Pesquisa de Forrageiras (Sulpasto), já disponibilizou mais de dez cultivares forrageiras ao setor produtivo, principalmente de leguminosas, mas também de gramíneas, que propiciam diversas opções para o planejamento forrageiro da propriedade pecuária, assim como maior eficiência nos sistemas de produção.

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