Tarifaço impacta vendas de soja dos EUA à China
Brasil e Argentina ocupam espaço nas compras chinesas de soja

Segundo análise da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema), referente ao período de 5 a 11 de setembro e publicada nesta quinta-feira (11), “as cotações da soja em Chicago estiveram um pouco mais baixas do que a média da semana anterior”. A Ceema informou que, “na expectativa do novo relatório de oferta e demanda do USDA, a ser divulgado no dia 12/09, o mercado pouco oscilou”. No primeiro mês cotado, o bushel da oleaginosa, que havia alcançado US$ 10,05 no dia 10/09, “acabou fechando a quinta-feira (11) em US$ 10,15, contra US$ 10,12 uma semana antes”.
O boletim destaca que, em 7/09, “as condições das lavouras de soja nos EUA se apresentavam com 64% entre boas a excelentes, sendo que 21% das mesmas estavam na fase de desfolha”. Já na semana encerrada em 4 de setembro, os EUA embarcaram 452.151 toneladas de soja, “ficando dentro das expectativas do mercado”. No atual ano comercial (2025/26), iniciado em 1º de setembro, há um recuo de 9% no volume embarcado em relação ao mesmo período do ano anterior.
No Paraguai, após a conclusão da safrinha de soja, “a estimativa é de uma colheita total do produto em 10,58 milhões de toneladas para a safra 2025/26”, segundo a StoneX.
O levantamento aponta ainda que “começam a surgir os números das perdas que os agricultores estadunidenses estão tendo com o tarifaço promovido por Trump contra a China”. Segundo o boletim, “chegando na metade da atual temporada de comercialização, as perdas atingem bilhões de dólares que deixaram de ser vendidos à China”. A Ceema informou que Brasil e Argentina ocupam esse espaço. “Os importadores chineses reservaram aproximadamente 7,4 milhões de toneladas de soja, principalmente da América do Sul, para embarque em outubro, cobrindo 95% da demanda projetada da China para o mês, e 1 milhão de toneladas para novembro, ou cerca de 15% das importações esperadas”, informa o boletim. No ano passado, “os compradores chineses haviam reservado cerca de 12 a 13 milhões de toneladas de soja dos EUA para embarque entre setembro e novembro”. Neste ano, “praticamente nada foi reservado do país norte-americano”.
O relatório destaca que “os EUA normalmente enviam a maior parte de sua soja para a China entre setembro e janeiro, antes que a safra do Brasil chegue ao mercado, mas os compradores chineses ainda não reservaram nenhuma carga dos EUA para o novo ano-safra, de acordo com traders que acompanham os embarques”. Em 2024, “a China comprou cerca de 20% de sua soja dos EUA, ante 41% em 2016, segundo dados alfandegários”. De janeiro a julho de 2025, “a China importou 42,26 milhões de toneladas do Brasil, enquanto os embarques dos EUA totalizaram 16,57 milhões de toneladas”. Para a Ceema, “a ausência prolongada de compras por parte da China deve pesar ainda mais sobre os preços futuros da soja em Chicago, que já estão próximos das mínimas de cinco anos” (cf. Reuters).
O boletim lembra que “a soja dos EUA é cerca de 80 a 90 centavos de dólar por bushel mais barata do que a soja brasileira, para embarque em setembro-outubro, mas a tarifa de 23% imposta pela China sobre os embarques dos EUA acrescenta US$ 2,00 por bushel ao custo para os importadores”. Analistas estimam que, “se a China se mantiver fora do mercado norte-americano até meados de novembro, o total de vendas perdidas para o país poderá chegar entre 14 a 16 milhões de toneladas” (cf. AgResource Co).
Enquanto isso, o USDA deverá iniciar a redução de suas previsões de exportação de soja dos EUA para 2025/26. Até o momento, “a estimativa era de um total de 46,4 milhões de toneladas exportadas em 2025/26, contra 51 milhões um ano antes”. Para a Ceema, “a China ainda não se fechou totalmente para o mercado estadunidense de soja, pois os preços da oleaginosa dos EUA estão mais atrativos”, mas, com o passar do tempo, “o quadro vai ficando mais preocupante para os produtores estadunidenses”.
Segundo o boletim, “essa realidade momentânea elevou os preços da soja brasileira, graças à melhoria dos prêmios internos, puxados pela maior demanda chinesa”. Para a Ceema, “esta realidade favorável ao Brasil durará até que ocorra um acordo comercial entre EUA e China, países que estão em negociação há algum tempo em torno deste assunto”. A análise conclui que, “enquanto a China vai fazendo estoques de soja sul-americana, nos EUA os exportadores afirmam que estão deixando de vender aos chineses 15 navios por semana da oleaginosa devido ao tarifaço provocado por Trump”.