Bloqueio de R$ 445 milhões no PSR pode deixar R$ 17 bilhões em lavouras sem cobertura, alerta especialista
Motroni alerta que corte pode deixar produção agrícola vulnerável a riscos climáticos

O recente bloqueio de R$ 445 milhões no orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), anunciado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), pode comprometer a proteção de até R$ 17 bilhões em lavouras no país. A avaliação é de Rodrigo Motroni, vice-presidente da Newe Seguros, que alerta para os impactos diretos da medida sobre o custo do seguro rural e a sustentabilidade da atividade agrícola.
O valor bloqueado representa 42% da dotação inicial de R$ 1,06 bilhão prevista para 2025. Do total, R$ 355 milhões foram efetivamente cortados e cerca de R$ 90 milhões estão contingenciados. Segundo o governo, os bloqueios decorrem de ajustes exigidos pelo teto de gastos, o que reduz as chances de reversão. Para Motroni, o impacto é imediato no bolso do produtor: “Como, em média, a subvenção cobre 30% do prêmio do seguro, o corte eleva o custo da apólice na mesma proporção. Ou seja, o produtor rural terá que arcar com até 30% a mais na contratação do seguro, o que pode inviabilizar a adesão.”
De acordo com os cálculos da Newe Seguros, os R$ 445 milhões bloqueados deixariam de gerar cerca de R$ 17 bilhões em cobertura securitária, valor que representa lavouras agora desprotegidas contra eventos climáticos e perdas. O vice-presidente ressalta que o produtor, sem acesso à subvenção, fica desassistido e exposto a riscos severos. “Estamos falando de lavouras inteiras que deixam de ser seguradas. Sem essa cobertura, o produtor pode perder a colheita, endividar-se e até perder suas propriedades, usadas como garantia bancária.”
Motroni alerta que o bloqueio pode desencadear um ciclo vicioso no agronegócio. “Com margens reduzidas, juros altos e custos crescentes, o produtor já opera sob forte pressão. Se perde a safra e não tem seguro, pode sair da atividade.” Ele destaca ainda que o Brasil está na contramão de países como Estados Unidos e China, que ampliam seus investimentos em seguros agrícolas. “A China iniciou seu programa praticamente no mesmo ano que o Brasil, mas hoje investe bilhões. Aqui, seguimos cortando recursos mesmo com o agravamento das mudanças climáticas.”
Apesar de ainda haver tempo técnico para reverter o bloqueio, Motroni observa que falta articulação e prioridade por parte do governo federal. “Algumas entidades estão engajadas, mas o tema ainda não tem a atenção que merece. As seguradoras seguem atuando institucionalmente, mas quem tem mais força para pressionar são os produtores, cooperativas e associações de classe.” Para ele, o seguro rural deve ser visto como uma política pública essencial, pois protege o produtor, garante a continuidade da atividade e reduz o custo do Estado diante de eventos extremos, ao transferir parte do risco para o setor privado, que tem capacidade de absorvê-lo.