Pastagem degradada: saiba identificar os sinais e como recuperar a área com eficiência
A degradação das pastagens é um dos principais gargalos da pecuária

A degradação das pastagens é um dos principais gargalos da pecuária brasileira, afetando diretamente a produtividade e a sustentabilidade das propriedades rurais. Segundo o engenheiro agrônomo Ronaldo Trecenti, sinais claros como a perda da capacidade de produção forrageira, surgimento de plantas daninhas, aparecimento de cupins e até erosão do solo indicam que a pastagem entrou em um processo de degradação que exige intervenção urgente.
"Quando a pastagem para de crescer, a lotação diminui e os animais começam a emagrecer, é hora de acender o alerta", afirma o especialista. “Em estágios mais avançados, aparecem falhas no solo, rebrota de vegetação nativa e até erosão. Aí o sistema já está em fase terminal”, reforça.
Diagnóstico é o primeiro passo para recuperar pastagens degradadas
Antes de pensar em insumos ou tecnologias, o primeiro passo para recuperar uma pastagem degradada é fazer um diagnóstico técnico preciso da área. O processo começa com a identificação do estágio de degradação – que pode variar em seis níveis segundo a Embrapa – e segue com a análise de solo e levantamento zootécnico do rebanho.
"Assim como na medicina, antes de qualquer tratamento, precisamos de exames. É fundamental entender como está o solo, o desempenho dos animais, a taxa de natalidade, o peso ao nascer e ao desmame", explica Trecenti.
Com base nesse levantamento, o agrônomo pode recomendar corretivos de solo como calcário, gesso e adubação fosfatada e potássica. Em muitos casos, também é indicada a renovação da pastagem com espécies mais produtivas e adaptadas às novas condições do solo.
Espécies forrageiras devem respeitar o bioma local
Outro ponto destacado por Ronaldo Trecenti é a importância da escolha correta das forrageiras conforme o bioma e as condições climáticas de cada região. No Sul, por exemplo, espécies como azevém e aveia se adaptam melhor. Já no Cerrado, predominam as braquiárias e os pânicos.
"O Brasil é um país continental. No Norte, as espécies devem tolerar encharcamento. No semiárido do Nordeste, devem ser resistentes à seca. A orientação técnica é essencial para que a escolha seja assertiva", pontua.
Benefícios ambientais e econômicos da recuperação de pastagens
A recuperação de áreas degradadas gera impactos positivos não apenas no desempenho do rebanho, mas também na sustentabilidade da atividade pecuária. De acordo com o especialista, pastagens bem manejadas reduzem emissões de gases de efeito estufa e aumentam o sequestro de carbono.
"Um animal bem alimentado emite menos metano. E uma pastagem vigorosa atua como sumidouro de carbono. Isso contribui para neutralizar as emissões da fermentação entérica", explica Trecenti.
Além disso, o manejo adequado favorece a infiltração da água da chuva, contribuindo para a recarga dos aquíferos. Isso abre espaço para que o produtor seja reconhecido como provedor de serviços ambientais, podendo receber inclusive incentivos financeiros por isso.
Entraves culturais e falta de informação ainda travam o avanço da pecuária sustentável
Apesar dos benefícios econômicos e ambientais, muitos produtores ainda resistem à adoção de práticas mais sustentáveis. Para Trecenti, a principal barreira ainda é cultural.
"O lavoureiro, pela dinâmica da atividade, busca mais conhecimento. Já o pecuarista, por vezes, se acomoda na escala e esquece que a degradação está corroendo os lucros", analisa.
Outro entrave é a falta de informação técnica de qualidade. Nesse sentido, o especialista reforça a importância de buscar assistência técnica qualificada e de se apoiar em programas públicos e privados de fomento à recuperação de pastagens.
“Com planejamento e orientação, o investimento se paga. E se houver integração lavoura-pecuária-floresta, o retorno pode ser ainda maior. Você coloca o boi na sombra e melhora o conforto do animal e do dono também”, finaliza.
Veja a entrevista na íntegra
Portal Agrolink – Quais sinais indicam que a pastagem entrou em processo de degradação e precisa ser recuperada com urgência?
Ronaldo Trecenti – Existem vários sinais que indicam a degradação da pastagem. O primeiro deles é a perda de capacidade produtiva. Se uma forrageira que produzia 20 toneladas de matéria seca por hectare ao ano passa a produzir 15 ou 10 toneladas, isso já é um alerta. Isso se reflete na menor lotação de animais por área, no capim que cresce menos e nos animais que começam a perder peso.
Com o tempo, surgem falhas no campo, plantas começam a morrer, e o banco de sementes de plantas invasoras se manifesta. Em cada região aparecem diferentes tipos de invasoras. No Cerrado, por exemplo, a vegetação nativa começa a rebrotar. Mais adiante, surgem cupins, sinal de degradação avançada. O estágio final é a erosão do solo — quando o "paciente" já está na UTI.
Portal Agrolink – Quais tecnologias e insumos hoje são considerados aliados fundamentais para recuperar pastagens de forma eficiente?
Ronaldo Trecenti – O primeiro passo é fazer um bom diagnóstico. É como ir ao médico: você precisa de um profissional de confiança para avaliar a situação. Começamos identificando os pastos e o grau de degradação — são seis estágios, segundo a Embrapa.
Em seguida, realizamos a análise de solo e avaliamos o desempenho animal: número de cabeças, ganho de peso, taxa de natalidade, peso ao desmame, entre outros. Com os dados em mãos, definimos os corretivos: calcário, gesso, fosfatagem, potassagem e adubação.
Na maioria das vezes, a recomendação é renovar a pastagem. Se vamos investir na melhoria do solo, é melhor optar por uma forrageira mais exigente, mais responsiva, que entregue maior produção e melhor qualidade para os animais.
Portal Agrolink – A adubação tem papel central nesse processo. O que o produtor precisa considerar ao escolher os produtos e as doses corretas para o tipo de solo?
Ronaldo Trecenti – A adubação precisa ser baseada na análise de solo. É ela que vai apontar se há acidez, deficiência de fósforo, potássio, cálcio ou enxofre. A recomendação técnica deve ser específica para cada gleba.
Não existe espaço para improviso: a aplicação correta, com base técnica, evita desperdícios e garante resposta positiva da pastagem. O solo precisa estar equilibrado para que a planta absorva os nutrientes de forma eficiente.
Portal Agrolink – Como as soluções para recuperação de pastagens variam entre diferentes regiões e biomas brasileiros?
Ronaldo Trecenti – O Brasil é um país continental, com grande diversidade de solos, climas e biomas. No Sul, usamos forrageiras como azevém e aveia, adaptadas ao clima mais frio. No Cerrado, o foco são os capins tropicais, como braquiárias e pânicos.
No Norte, é preciso forrageiras que tolerem encharcamento, devido à umidade. Já no semiárido do Nordeste, precisamos de espécies resistentes à seca. Por isso, é essencial contar com a orientação técnica da Embrapa, da Emater, de consultores e empresas do setor. Só assim é possível fazer escolhas seguras e eficientes.
Portal Agrolink – Quais os benefícios ambientais da recuperação das pastagens, especialmente no contexto atual de preocupação com as emissões e a sustentabilidade?
Ronaldo Trecenti – Os benefícios são diversos, tanto ambientais quanto econômicos. Ao recuperar a pastagem, o produtor aumenta sua renda, melhora a eficiência do sistema, consegue manter mais animais por hectare e aumenta o ganho de peso — em arrobas de carne ou litros de leite.
Do ponto de vista ambiental, ao intensificar a produção, evitamos a abertura de novas áreas. Além disso, pastagens degradadas emitem mais gases de efeito estufa. Um animal mal alimentado, por exemplo, emite mais metano. Já uma pastagem bem manejada sequestra carbono, tanto na parte aérea quanto nas raízes.
Esse balanço ambiental positivo pode levar à produção de carne carbono neutro ou leite carbono zero. Também pode gerar bonificações — um adicional na arroba, no litro de leite ou até mesmo o pagamento por serviços ambientais. E tem mais: uma pastagem bem manejada ajuda na produção de água, aumentando a infiltração da chuva no solo e recarregando aquíferos, como reconhece a Agência Nacional de Águas.