Mudanças climáticas podem afetar produtividade da cana no Brasil
Aquecimento pode elevar emissões, mas manejo adequado traz ganhos

A adoção de práticas agrícolas mais eficientes pode ajudar o produtor de cana-de-açúcar a enfrentar as mudanças climáticas com menos impacto ambiental e maior produtividade. É o que revela um novo estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que analisou diferentes cenários climáticos e suas consequências sobre a emissão de gases de efeito estufa e o desempenho produtivo da cultura. O estudo teve apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), reforçando o papel da pesquisa científica como aliada do desenvolvimento agrícola sustentável.
A pesquisa, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Engenharia de Sistemas Agrícolas da Esalq, avaliou como o aquecimento global pode afetar a produtividade da cana e as emissões de óxido nitroso (N2O) — um dos principais gases associados à agricultura, oriundo principalmente do uso de fertilizantes nitrogenados e resíduos da colheita.
Sob orientação do professor Fábio Ricardo Marin, a engenheira agrônoma Emily Aquino Leite conduziu o trabalho utilizando dados experimentais de campo combinados aos modelos computacionais DSSAT/CENTURY e SAMUCA, reconhecidos por sua capacidade de simular sistemas agrícolas complexos. Três cenários climáticos futuros foram simulados: SSP1-2.6 (baixo aquecimento), SSP3-7.0 (moderado) e SSP5-8.5 (alto aquecimento).
Os resultados indicam que, em contextos de aquecimento severo, as emissões de N2O podem aumentar até 40%, agravando o impacto ambiental da produção. Já em cenários de aquecimento moderado, o aumento da concentração de CO2 na atmosfera pode, paradoxalmente, trazer um ganho de produtividade de até 10% — especialmente quando há eficiência no uso da água pelas plantas.
A pesquisa também revelou que a variabilidade produtiva aumenta em condições climáticas extremas, ampliando os riscos para o produtor rural. Com base nisso, o estudo propõe medidas práticas de mitigação, como o uso racional de fertilizantes e o reaproveitamento de resíduos culturais, além do uso da modelagem computacional como apoio para políticas públicas e estratégias técnicas no campo.
“Nosso objetivo foi compreender como os diferentes cenários futuros podem afetar a produção de cana e propor estratégias para tornar o setor mais resiliente, sustentável e eficiente”, explica Emily Aquino Leite. “A cana é peça-chave na transição energética brasileira, e sua competitividade depende de práticas de manejo alinhadas às exigências ambientais.”