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Cadeia da soja tem desafios em momento de transição da geopolítica global

Disponibilização de dados é ponto sensível para a conquista de novos mercados



Foto: Divulgação

Com mais da metade da produção destinada à exportação, a cadeia produtiva da soja brasileira está inserida em um momento de transição da geopolítica global. Lideranças colocadas em cheque, maior disputa por fronteiras digitais do que por fronteiras terrestres e polarização política. Esse foi o cenário apresentado pelo coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Guilherme Bastos, nesta terça-feira (22), no 10º Congresso Brasileiro de soja e Mercosoja, em Campinas, SP.

“Estamos entrando em uma era de incertezas, com a perda de protagonismo de organizações internacionais”, observou o palestrante. Ele aponta que há um momento de mudança no papel de instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) e seu braço para Agricultura e Alimentação (FAO). A crescente influência das redes sociais na formação de opinião das grandes massas favorece a polarização. Há ainda, no cenário, a disputa pela conquista das fronteiras digitais. “Começamos a surfar em mares revoltos”, comparou.

Entre os desafios apresentados para a cadeia da soja brasileira, neste momento, está a dependência excessiva da China, destino de mais de 60% dos embarques rumo ao comércio internacional. A diversificação dos mercados foi apontada por Bastos como oportunidade para enfrentar esse problema, especialmente para o Sudeste Asiático e o Oriente Médio. Ressalvou, contudo, que a China deve continuar dependente das importações para o abastecimento interno. 

A geração e disponibilização de dados pelo setor é ponto sensível para a conquista de novos mercados e o enfrentamento às crescentes barreiras não-tarifárias. “Como vamos mostrar para o mundo que produzimos de forma sustentável?”, questionou. Ele apresentou como exemplo a variação do valor atribuído à pegada de carbono da soja, conforme a fonte utilizada. A avaliação de ciclo de vida da cultura feita a partir de bancos de dados internacionais aponta 2.600 kg de CO2 equivalente por tonelada. Quando são utilizados os dados específicos sobre as condições brasileiras gerados pelo projeto Pró-Carbono, a pegada cai para 1.462 kg de CO2 equivalente por tonelada e chega a 657 kg, com o incremento de práticas sustentáveis.

Outro ponto sobre o qual Bastos insistiu foi a importância da regularização fundiária para o País aproveitar uma de suas vantagens competitivas: é um dos poucos que conta com disponibilidade de área para expansão da produção. O crescimento das safras no chamado cinturão tropical do mundo é apontado como solução para a demanda de alimentos com o aumento da população. “A segurança alimentar se tornou o grande tema da geopolítica global”, afirmou o palestrante. Ele pontuou que, além de estar no centro das atenções para o incremento da produção de alimentos, o Brasil também se posiciona como peça essencial para a segurança climática. “A nossa agricultura tropical pode ser pelo menos uma das soluções possíveis para a agenda climática”.

CBSoja e Mercosoja 2025

O 10º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja é promovido pela Embrapa Soja e ocorre até quinta-feira, dia 21, no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP) O evento conta com quatro conferências e 15 painéis, somando mais de 50 palestras de especialistas brasileiros e estrangeiros. Além disso, são apresentados 321 trabalhos técnico-científicos em nove sessões temáticas ao longo dos três dias e cinco debates sobre temas práticos relacionados aos problemas do dia-a-dia das lavouras.


 

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