Trigo: Brasil em alta e mundo em baixa
Entre os fatores de alta, destacam-se a desvalorização do dólar frente ao euro

O mercado global de trigo permanece sob forte pressão devido à ampla oferta nos principais períodos de colheita. Entre maio e julho, os trigos de inverno do Hemisfério Norte chegam ao mercado; em agosto e setembro, os trigos de primavera; e, entre dezembro e janeiro, a safra do Hemisfério Sul — especialmente a Argentina, que deve ampliar sua produção em 1,5 milhão de toneladas, além de contar com estoques robustos.
Essa conjuntura tende a manter os preços internacionais em baixa. No Brasil, porém, a situação é inversa: a redução na área plantada, agravada pelas chuvas no Rio Grande do Sul e pelas fortes geadas no Paraná, projeta uma safra 2025/26 ainda mais limitada.
Segundo a TF Agroeconômica, os preços internos devem permanecer pressionados entre agosto de 2025 e janeiro de 2026, girando em torno de R\$ 1.400/t no Paraná e R\$ 1.300/t no Rio Grande do Sul. A partir de fevereiro de 2026, os mercados interno e externo podem se alinhar em patamares mais altos — R\$ 1.500/t no PR e R\$ 1.400/t no RS — com potencial de alta conforme a demanda. A consultoria alerta que a qualidade do grão será determinante: uma safra com bom padrão poderá reduzir as importações e sustentar preços mais elevados. Caso contrário, os moinhos menos capitalizados podem impulsionar uma nova onda de preços baixos, repetindo o cenário de margens apertadas para os grandes players do setor.
Entre os fatores de alta, destacam-se a desvalorização do dólar frente ao euro, que favorece o trigo americano, e a perspectiva de uma produção brasileira menor do que o anunciado oficialmente, em razão do atraso no plantio gaúcho, custos extras com replantio e as perdas por geada no PR. Além disso, a menor utilização de tecnologia deve comprometer ainda mais a produtividade.
Por outro lado, o mercado também reage a fatores de baixa, como a trégua no Oriente Médio, que reduziu o prêmio de risco, e o avanço da colheita nos EUA, UE e Mar Negro, com boas expectativas de produtividade. A produção da UE foi revisada para cima, assim como as colheitas da Rússia, Índia e Romênia. No Brasil, a queda do dólar e do trigo argentino, somadas às margens negativas das indústrias moageiras, têm provocado retração na demanda, aumento dos estoques e pressão adicional sobre os preços.