Seguro rural pode conter inadimplência no campo
Inadimplência no crédito rural brasileiro atingiu 7,9% no primeiro trimestre do ano

A inadimplência no crédito rural brasileiro atingiu 7,9% no primeiro trimestre de 2025, segundo dados da Serasa Experian. O número preocupa especialistas do setor, que veem no seguro rural uma ferramenta estratégica para mitigar perdas e garantir a continuidade dos investimentos no agronegócio. Em artigo publicado recentemente, o CEO da Picsel e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Vitor Ozaki, defende que o "seguro safra pode ser a saída para a inadimplência do crédito rural".
De acordo com Ozaki, o cenário atual é marcado por riscos climáticos, econômicos e institucionais, o que torna o seguro rural essencial para a sustentabilidade do setor. “Fenômenos como secas prolongadas, geadas, granizos e chuvas excessivas podem devastar safras inteiras, tornando inviável o cumprimento das obrigações financeiras, mesmo para aqueles que adotam gestão cuidadosa e planejamento rigoroso”, alerta o professor.
A inadimplência atinge, inclusive, os grandes produtores rurais. Segundo a Serasa Experian, esse grupo apresenta taxa de inadimplência de 10,2%, superando a de médios produtores (7,2%) e pequenos (6,9%). “Esse cenário desafia a lógica tradicional do crédito, pois patrimônio expressivo não garante imunidade a eventos climáticos extremos”, afirma Ozaki.
Para o professor, o seguro rural cumpre papel fundamental ao permitir que os produtores recebam indenizações após perdas, o que viabiliza o pagamento de financiamentos. “Ele reduz a variabilidade do fluxo de caixa dos produtores rurais, trazendo previsibilidade financeira”, complementa. Ozaki destaca ainda o efeito psicológico positivo do seguro, que estimula novos investimentos em tecnologias e práticas mais eficientes, com impactos diretos na produtividade e na rentabilidade.
Experiências internacionais reforçam a tese. Nos Estados Unidos, onde o seguro agrícola tem ampla adesão, há correlação negativa entre inadimplência e cobertura segurada. No Brasil, estudo da Embrapa indica que produtores de soja que contrataram seguro apresentaram menor oscilação de produtividade e maior investimento em inovação tecnológica.
Apesar dos custos envolvidos, Ozaki argumenta que os benefícios do seguro superam os gastos, tanto pela redução das perdas com inadimplência quanto pelos efeitos econômicos mais amplos. Segundo ele, “o seguro rural gera efeitos multiplicadores, ampliando a oferta de crédito, reduzindo as taxas de juros no financiamento agrícola e estimulando os investimentos”.
Na avaliação do professor, é necessário ampliar políticas públicas voltadas ao acesso ao seguro rural e aprimorar os modelos de subsídio. “Reduzir a inadimplência não é apenas uma questão de segurança financeira individual, mas de garantir crédito acessível, estabilidade de renda e crescimento sustentável para o setor que movimenta mais de 25% do PIB nacional”, conclui.