Incentivo sem proteção não basta, diz líder do setor
"O Brasil continuará desperdiçando uma de suas maiores riquezas: o campo”

Apesar da projeção de crescimento de 5,5% no PIB de Mato Grosso do Sul no primeiro semestre de 2025, impulsionado principalmente pela agropecuária, o setor enfrenta um problema recorrente: a incoerência das políticas públicas. A avaliação é de Eduardo Monreal, presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), que alerta para a distância entre o discurso oficial de apoio ao campo e as ações práticas do governo.
Monreal critica o novo Plano Safra 2025/2026, que, embora prometa R\$ 89 bilhões para a agricultura familiar, apresenta juros pouco competitivos — de até 8% — e continua dificultando o acesso ao crédito para pequenos e médios produtores. Para ele, há uma retórica de protagonismo do setor rural, mas sem as condições reais para que esse protagonismo se concretize.
“É inaceitável que, ao mesmo tempo, em que o governo estimula a produção, fragilize a principal ferramenta de mitigação de riscos à disposição do produtor. Essa contradição compromete não apenas a viabilidade econômica do campo, mas também a credibilidade das próprias políticas públicas agrícolas”, comenta.
A falta de coerência se evidencia também na decisão de Brasília de contingenciar recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), justamente quando o país enfrenta mais riscos climáticos. Ao fragilizar o seguro rural, o governo retira do produtor a única ferramenta eficaz de proteção, transferindo-lhe integralmente os riscos da atividade. "Isso beira a irresponsabilidade", aponta Monreal.
O presidente do SRCG conclui que o campo sul-mato-grossense tem feito sua parte, diversificando culturas e expandindo a produção pecuária. No entanto, sem políticas públicas alinhadas e estáveis, o país desperdiça o potencial do agro. Incentivo sem proteção não basta — é preciso coerência, escuta e planejamento. “Sem isso, o Plano Safra seguirá sendo apenas uma peça publicitária. E o Brasil continuará desperdiçando uma de suas maiores riquezas: o campo”, conclui.