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A Voz do Mercado: governança e sucessão familiar no agronegócio

Evento reúne especialistas para debater práticas e de governança no setor


Foto: Divulgação

Nesta quarta-feira (22.05), o talk show "A Voz do Mercado" reuniu especialistas para uma discussão sobre o Governança e Sucessão no Agronegócio, com especialistas do setor e disseminadores de conhecimento. O evento é realizado pelo Portal Agrolink em parceria com o Pensa/FIA, o Centro de Conhecimento em Agronegócios da Fundação Instituto de Administração. 

A 23ª edição A Voz do Mercado contou com a Sócia da Laudejá e Especialista  em Desenvolvimento Humano e Empresas Familiares, Beatriz Brito, o Professor da FEA/USP e Coordenador do Pensa/FIA, Claudio Pinheiro Machado e o Produtor, Conselheiro de Empresas e Professor, José Antonio Rossato. O consultor Ivan Wedekin, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e a jornalista Suelen Farias, especialista em Novas Mídias, com atuação em agronegócio e economia comandaram o debate. 

A adoção de práticas de governança nas empresas rurais tem ganhado cada vez mais destaque no agronegócio brasileiro. Compreender a sucessão no setor é essencial para enfrentar os desafios e garantir a continuidade e prosperidade das empresas familiares. Em função disso, a 23ª edição do talk show teve como tema “Governança e Sucessão no Agronegócio”.

A sócia da Laudejá e especialista em desenvolvimento humano e empresas familiares, Beatriz Brito destacou que, embora o setor agropecuário brasileiro tenha incorporado avanços tecnológicos para aumentar a produtividade, ainda há um déficit na evolução das práticas de gestão e governança. Segundo Brito, é necessário um olhar mais abrangente sobre as transformações sociais e econômicas que ocorreram na agricultura tropical nas últimas décadas. Esse contexto revela que o agronegócio ainda está em um processo de profissionalização das suas práticas de gestão, buscando se adaptar às novas exigências e desafios do mercado. A especialista sugere que esse desenvolvimento é fundamental  para que o setor possa alcançar todo o seu potencial de eficiência e sustentabilidade.

Beatriz Brito apontou que um dos maiores desafios enfrentados pela agropecuária moderna é a falta de integração e análise de dados, apesar da disponibilidade de tecnologia avançada, como colheitadeiras conectadas à internet. Ela observou que, embora esses equipamentos forneçam informações precisas sobre operações específicas, há uma lacuna na capacidade de consolidar esses dados de maneira confiável e integrada para apoiar decisões estratégicas. “Eu acho que pra gente falar de desafio na agropecuária hoje, a gente precisa pensar na evolução da gestão que vai dar sustentação a governança”, afirmou a especialista.

Claudio Pinheiro Machado, professor da FEA/USP e coordenador do Pensa/FIA, pontuou a lacuna na educação empresarial, onde a dimensão da família empresária é pouco abordada nos currículos de negócios. Ele observou que os estudantes de graduação e pós-graduação muitas vezes entram no mercado sem um entendimento claro da governança e das dinâmicas familiares que influenciam as empresas, apesar de a maioria das empresas serem de controle familiar. Essa falta de foco acadêmico resulta em uma carência de estudos sistematizados sobre o impacto das relações familiares nos negócios. No entanto, Machado ressaltou que há uma mudança em curso, com grupos e programas emergindo para investigar e compreender melhor a dinâmica das empresas familiares, embora ainda estejamos em uma fase inicial dessa trajetória de pesquisa acadêmica.

Claudio Pinheiro Machado aponta duas características marcantes do elo rural nas empresas familiares. A primeira é a relação afetiva e emocionalmente intensa que a família empresária tem com o negócio, onde o escritório muitas vezes serve como o núcleo social da família. Esse vínculo emocional pode ser extremamente benéfico, fomentando um forte compromisso e paixão pelo negócio. No entanto, Machado também alerta para os potenciais desafios que essa intensidade emocional pode trazer. “Essa dimensão emocional da relação das famílias do árguro com o negócio são muito intensas. Isso pode ser muito positivo, mas também pode trazer muitos problemas, do ponto de vista de conflitos e situações difíceis de conciliar no processo sucessório”, disse o professor

O produtor, conselheiro de empresas e professor, José Antonio Rossato descreveu três perfis distintos de produtores. O primeiro grupo era composto por aqueles estrategistas raros que, após refletirem sobre suas conquistas e o futuro, percebiam a necessidade de se estruturar. O segundo grupo incluía produtores que, diante de desavenças e do avanço da idade, sentiram a urgência de garantir a continuidade dos negócios, preparando-se para um futuro incerto. O terceiro, e mais comum, grupo consistia daqueles que buscavam soluções e informações apenas quando enfrentavam crises severas, como quando os problemas já estavam avançados e era necessário correr atrás de consultorias e estudos para tentar remediar a situação.

José Antonio Rossato refletiu sobre a natureza incerta e volátil da agricultura, comparando-a a uma montanha-russa. Ele observou que, embora as dificuldades de uma safra ruim, marcada por secas, El Niño e preços baixos, pudessem desanimar, anos anteriores de alta produtividade e bons preços mostravam que a rentabilidade no agronegócio era cíclica.“Ao final, a gente avalia olhando para trás se valeu a pena, mas não vamos esperar lá na frente para olhar para trás. Porque a montanha-russa pode descer como tem descido e, de repente, a nossa torcida não basta para que o preço suba”, ressaltou Rossato.

Uma sucessão familiar bem planejada e executada não apenas assegura a continuidade dos negócios, mas também representa um investimento no futuro e na preservação do patrimônio familiar. Essa prática se alinha às demandas de um mercado em constante transformação, onde a governança desempenha um papel crucial na sustentabilidade e no crescimento das empresas.

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