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Controle biológico da mosca-do-broto em mandioca

Uso de manipueira e controle biológico auxiliam no manejo da mandioca em SC


Foto: Canva

A crescente demanda por alimentos orgânicos por parte do consumidor e restaurantes tem pressionado os produtores a buscar alternativas para controlar pragas e doenças com o mínimo de impacto ambiental e na saúde humana, e com boa rentabilidade. Neste sentido, pesquisadores e extensionistas da Epagri promovem troca de saberes e experiências para aprimorar as pesquisas e difundir práticas inovadoras com menos agrotóxicos.

No dia 28 de agosto, a entomologista Érica Frazão Pereira de Lorenzi, pesquisadora da Estação Experimental da Epagri em Urussanga, esteve no Centro de Treinamento de Itajaí (Cetrei) para compartilhar com produtores de mandioca, também conhecida como aipim, suas descobertas em relação ao controle da mosca-do-broto. A praga é uma das principais causas de prejuízos na cultura, já que ataca a planta nos primeiros estágios de desenvolvimento, levando a bifurcações de ramas, que se tornam menos vigorosas e mais sujeitas ao ataque de pragas.

Érica demonstrou os resultados de um experimento realizado em três propriedades no município de Sangão, no Sul do Estado, durante as safras de 2020/21, 2021/22 e 2022/23. Uma das propriedades teve manejo convencional com mata no entorno, a segunda, também com tratamento convencional, mas com plantações de mandioca no entorno, e a terceira, com cultivo de aveia no inverno e aplicação de manipueira no pré-plantio. 

A manipueira é o líquido resultante da prensagem da massa de mandioca no processo de  produção.Esse líquido possui altas concentrações de ácido cianídrico, que tem poder inseticida, mas é utilizado, principalmente, como adubação natural, pois é rico em potássio, nitrogênio, magnésio, fósforo, cálcio e enxofre. 

“A adoção da manipueira como fertilizante é uma das formas de se aproveitar esse resíduo que, quando era descartado sem tratamento, se tornava um problema ambiental por causa de sua toxidade. Mas é bom destacar que é um subproduto gerado a partir da mandioca brava, não do aipim de mesa”, explicou. 

No experimento realizado em Sangão, a entomologista avaliou plantas das bordas e do centro das lavouras e concluiu que a infestação dos brotos começa pelas bordas, favorecida por áreas que apresentam mata ou lavouras de dois ciclos no entorno. Os produtores costumam armazenar as ramas sob as árvores, onde as moscas podem se reproduzir. Já a lavoura de dois ciclos atacadas serve de fonte de infestação de lavouras recém-plantadas. 

A pesquisadora falou também que as moscas são atraídas por matéria orgânica em decomposição e destacou a importância do destino das ramas não utilizadas no plantio para que não sirvam de criadouro da praga. O período mais crítico de ataque da mosca ocorre até quatro meses após o plantio e em anos mais chuvosos. Já as lavouras manejadas com cultivo mínimo e aplicação de manipueira no pré-plantio apresentaram menor infestação. 

Outro problema relacionado à infestação das moscas-do-broto é a utilização de ramas sem fiscalização quanto à sanidade do material genético. Como medidas preventivas, Érica recomenda a utilização de manivas sadias, respeito à época de plantio de acordo com o zoneamento climático, fazer a adubação adequada, evitar plantio escalonado e, se possível, plantar em consórcio com outra cultura, o que traz benefícios para o solo e para o bolso. 

“Por se tratar de um cultivo rústico, em que não se compra sementes, é comum os produtores fazerem a própria ‘semente’ (rama), mas quando se utilizam ramas do vizinho ou de outras regiões e estados, corre o risco de estarem contaminadas com doenças e pragas”. Érica conta que isso está acontecendo no Norte do país, onde a agricultura de subsistência indígena está ameaçada pela “vassoura de bruxa”, que entrou no Brasil pelo Amapá.

Os produtores de aipim da região de Itajaí levantaram algumas questões que dificultam a adoção de todas as práticas preventivas, como evitar o plantio escalonado, já que a demanda por aipim é grande o ano todo. E a viabilidade econômica de fazer rotação de culturas. Um dos agricultores presentes, Osmar Marqui, plantou aipim em consórcio com milho, melancia e feijão em 2017, quando Érica estava fazendo um experimento em sua propriedade. Na ocasião, foi constatado que o consórcio reduziu a infestação de mosca-do-broto no aipim e que o feijão foi a cultura mais viável economicamente, além de ser uma leguminosa que auxilia na fixação do nitrogênio no solo. 

Érica também mostrou os resultados de um ensaio, realizado entre 2020 e 2023 na Estação Experimental de Urussanga, onde testou a eficácia de sete defensivos agrícolas biológicos e/ou alternativos encontrados no mercado, comparados a um defensivo químico eficiente no controle da praga. Ela utilizou produtos à base de extratos de plantas, como o neem e o alho, mas também fertilizante marinho e o caulim, utilizado como protetor solar na citricultura. Os resultados demonstram a eficácia do método biológico, mas ainda menor do que a convencional, que tem efeito residual. 

A pesquisadora alerta, contudo, para os riscos do uso intensivo de defensivos químicos porque acaba selecionando pragas resistentes ao produto, além de matar insetos predadores e parasitóides de pragas. “No caso da lavoura de aipim, foi identificado uma micro vespa que controla a mosca-do-broto na fase larval. Eu sempre reforço que o uso de químicos é o último recurso, o mais importante é fazer um bom manejo”, afirma.

Érica conta que apesar da resistência de muitos produtores, aos poucos o controle biológico começa a ser adotado, com bons resultados para o agricultor, o meio ambiente e a alimentação humana. “Certa vez, uma agricultora de Nova Veneza veio me agradecer por uma palestra que eu tinha dado anos atrás, porque ela tinha conseguido fazer a transição de sua área de produção hortaliças para o sistema orgânico. Fiquei até emocionada”.

 

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