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Mercado de biológicos deve ultrapassar o de químicos no Brasil em 10 anos

Caminho sem volta: Brasil na liderança da sustentabilidade



Foto: Arquivo

Durante a 26ª edição do talk show A Voz do Mercado, transmitido da FIA Business School, em São Paulo, o futuro da agricultura brasileira foi colocado sob os holofotes. Com mediação de Ivan Wedekin e Suelen Farias, o evento reuniu grandes nomes do setor para debater o avanço dos bioinsumos, dos fertilizantes especiais e a revolução silenciosa que está transformando o campo em um espaço de inovação, produtividade e sustentabilidade.

O consenso entre os convidados — Roberto Levrero, presidente da Abisolo; Alfredo Kober, CEO da ICL América do Sul; e Giuliano Pauli, diretor de Inovação do Grupo Santa Clara — foi claro: em até 10 anos, o mercado de biológicos deverá superar o de produtos químicos em valor de mercado no Brasil.

Biológicos prontos para liderar o mercado

“Se pegarmos os segmentos de inseticidas e fungicidas, minha aposta é que, dentro de 10 a 15 anos, o mercado de bioinsumos será maior do que o mercado químico”, afirmou Giuliano Pauli. Ele destacou que esse movimento não significa uma substituição total, mas sim uma evolução inevitável. “A base da agricultura regenerativa é a resiliência. E resiliência vem da biodiversidade — algo que o Brasil tem de sobra.”

Pauli citou um exemplo concreto: “O mercado de nematicidas biológicos não representava nem 1% há uma década. Hoje, já superou o dos químicos. Isso mostra a força da inovação quando encontra demanda real do agricultor.”

O solo como maior ativo do produtor

Diante da questão sobre qual mudança de mentalidade o produtor precisa adotar para deixar de focar apenas em eficiência e começar a investir na resiliência do solo, Pauli foi enfático:

“Eu acho que isso já começou a mudar. O agricultor já entendeu — e estou falando de produtores de todos os tamanhos — que o maior ativo que ele tem é o solo. E quem ainda não entendeu, vai entender em breve. E vai entender no bolso.”

Segundo ele, à medida que o solo se degrada e não há práticas sustentáveis, o custo com insumos para manter a produtividade aumenta de forma insustentável. “Essa será a inflexão da curva. Porque tudo termina no bolso, né?”

Pauli explicou que o produtor está passando a enxergar o solo de forma mais integrada: “Deixa de ser apenas um receptáculo físico da planta com uma conta matemática de NPK, e passa a ser visto como um ambiente vivo, essencial para manter a produtividade no longo prazo.”

O diretor também destacou o surgimento de estímulos concretos para adoção de práticas regenerativas: “Grandes empresas do setor alimentício já estão pagando prêmios para produtores que implementam agricultura regenerativa. Isso é um catalisador enorme e vai acontecer cada vez mais.”

Ele complementou: “A mesma lógica se aplicará quando houver uma legislação clara sobre crédito de carbono no Brasil. A hora em que essa conta fechar, isso muda tudo. O agricultor que adotar práticas regenerativas precisa ser recompensado financeiramente. E acredito que estamos muito próximos dessa mudança de paradigma que vai catapultar ainda mais o uso dessas tecnologias.”

Nutrição especial e eficiência como pilares da nova agricultura

Para Alfredo Kober, fertilizantes especiais e produtos de liberação controlada também são protagonistas dessa revolução. “A produtividade é o principal motivador do produtor. Mas o que está por trás disso é eficiência: menos mecanização, menor pegada de carbono e mais qualidade no campo”, destacou.

Kober citou dados do CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil) para comprovar a tendência. “Nos últimos anos, os 25% dos produtores que atingem as maiores produtividades no concurso do CESB utilizam nutrição especial em seus manejos. Isso não é coincidência — é uma demonstração clara do caminho que a agricultura está trilhando.”

Ele acrescentou: “O Brasil já é uma potência agrícola. Mas, com o uso intensivo e eficiente de tecnologia, podemos produzir mais sem avançar sobre novas áreas. Preservamos o meio ambiente e aumentamos a rentabilidade.”

A força técnica e institucional dos bioinsumos

Roberto Levrero, presidente da Abisolo, reforçou que o setor tem trabalhado fortemente para garantir segurança jurídica, regulamentação e qualidade técnica. “Hoje, representamos mais de 70% do mercado, com quase 150 empresas associadas. A indústria investe cerca de 3% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento. Poucos setores fazem isso”, afirmou.

Segundo ele, o sucesso do setor depende de articulação institucional e base técnica sólida. “Trabalhamos junto ao Ministério da Agricultura, ao Ministério do Meio Ambiente e levamos essas pautas também ao Legislativo. Nosso papel é garantir que o produtor possa confiar nas novas tecnologias e tenha acesso a elas.”

Inovação guiada pela demanda do campo

Pauli enfatizou o papel cada vez mais estratégico do produtor rural. “Hoje é difícil encontrar um agricultor que não use bioinsumos ou fertilizantes especiais. Ele está mais profissionalizado, se tornou um gestor, e exige soluções integradas, eficientes e sustentáveis.”

Ele reforçou que a inovação precisa ser viável e acessível: “Não se trata de substituir o que já existe, mas de integrar todas as ferramentas de forma científica e eficiente. O solo brasileiro é nutricionalmente complexo. A tecnologia é essencial para melhorar a absorção e reduzir perdas.”

Acesso, crédito e estrutura: os gargalos do crescimento

Apesar do otimismo, Kober alertou para gargalos estruturais que ainda precisam ser superados. “O agricultor familiar precisa de acesso. Ele não vai dirigir 200 quilômetros para comprar um insumo. A distribuição precisa estar próxima, senão há ruptura — como vimos na última safra.”

Sobre o crédito, ele demonstrou cautela: “Os juros aumentaram, a disponibilidade caiu. A indústria já financia boa parte dos produtores, e isso deve se intensificar. A saúde financeira do negócio é o que garantirá novos investimentos em inovação.”

Caminho sem volta: Brasil na liderança da sustentabilidade

Todos os convidados foram unânimes ao destacar o papel estratégico do Brasil como líder global em soluções sustentáveis para o agro. “O Brasil é o melhor lugar do mundo para desenvolver tecnologias baseadas em bioinsumos. Temos biodiversidade, clima e conhecimento técnico. Agora, é hora de transformar tudo isso em rentabilidade, inovação e sustentabilidade real”, concluiu Pauli.

E por fim, para Ivan Wedekin, apresentador do talk show A Voz do Mercado, a 26ª edição do programa evidenciou pontos estratégicos para o crescimento do setor de bioinsumos no Brasil. Segundo ele, a atuação da Abisolo, destacada por Roberto Levrero, mostra que há uma tríade essencial para sustentar esse avanço: uma base técnica sólida aliada à regulamentação, o fortalecimento do diálogo com o legislativo para construção de políticas públicas e um esforço contínuo de comunicação, educação e capacitação de profissionais. “Nos últimos três anos, metade dos produtos hoje em uso no campo foram lançados. Isso mostra o nível de inovação que estamos vivendo”, observou Ivan.

Outro ponto de destaque, na visão de Wedekin, é a convergência entre os insumos tradicionais e os bioinsumos da nova geração, evidenciada nas falas de Alfredo Kober e Giuliano Pauli. A agricultura regenerativa, conceito amplamente debatido durante o evento, une produtividade e sustentabilidade a partir da resiliência do solo e da biodiversidade. “Os bioinsumos representam esse casamento entre a tradição e a inovação, promovendo um salto de eficiência e qualidade não apenas ambiental, mas também para a saúde humana e o consumidor”, afirmou.

Wedekin também destacou a necessidade de ampliar o acesso às tecnologias, especialmente para agricultores familiares, em um cenário de distribuição fragmentada e crédito restrito. Ele encerrou com uma reflexão que sintetiza o espírito da edição: “No Brasil, não basta apenas plantar — é preciso tecnologia, ciência e empreendedorismo. Parafraseando a famosa carta de Pero Vaz de Caminha, e adaptando à realidade de hoje, eu diria: em se plantando com bioinsumos, tudo dá. Dá mais, dá melhor, e de forma mais sustentável para o meio ambiente, para o agricultor e para o país.”

Clique aqui e acesse a edição na íntegra.

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