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Caruru: é possível conter a planta daninha resistente ao glifosato?

Resistência desafia controle químico e ameaça produtividade no campo



Foto: Divulgação

A rápida disseminação do Amaranthus palmeri, conhecido como caruru-palmeri, tem acendido o alerta no campo. Essa planta daninha já apresenta resistência ao glifosato — herbicida amplamente utilizado na agricultura brasileira — e também a outros princípios ativos, como os inibidores da ALS, a exemplo de clorimuron e imazetapir. O cenário é preocupante: o controle químico isolado perde eficiência, e a presença dessa espécie ameaça diretamente o rendimento das lavouras de soja, milho e algodão em diversas regiões produtoras do país.

Originário das Américas, o caruru-palmeri tem se espalhado com rapidez nas últimas safras, impulsionado principalmente por práticas agrícolas que favorecem sua seleção natural. Em áreas onde o glifosato era aplicado de forma recorrente e isolada, sem rotação de princípios ativos ou adoção de medidas preventivas, a planta encontrou um ambiente propício para desenvolver resistência e se multiplicar. A situação se agrava devido à alta capacidade reprodutiva da espécie: uma única planta pode produzir centenas de milhares de sementes viáveis por ciclo, formando rapidamente bancos de sementes persistentes no solo.

Além da resistência herbicida, o caruru apresenta outra característica que agrava o problema: a ação alelopática. A planta libera compostos químicos no ambiente ao redor que inibem o desenvolvimento de outras culturas, como a soja. Essa interferência ocorre desde os estágios iniciais de germinação, resultando em menor estabelecimento das plantas cultivadas e perdas significativas de produtividade. Ou seja, mesmo antes de competir por água, luz e nutrientes, o caruru já impacta negativamente o desempenho da lavoura.

Em regiões brasileiras como o Centro-Oeste e o Matopiba, casos de resistência múltipla têm se tornado mais frequentes. A resistência a herbicidas inibidores da EPSPS e da ALS torna o manejo da planta daninha ainda mais complexo. Isso significa que, na prática, os herbicidas que antes controlavam o caruru deixaram de funcionar, e a aplicação repetitiva desses produtos apenas intensifica a seleção de biótipos resistentes.

Outro ponto crítico é o momento certo para o controle. Especialistas reforçam que deixar o manejo para a fase pós-emergente coloca o produtor em desvantagem. Se a soja germina ao mesmo tempo que o caruru, a planta daninha inicia imediatamente a disputa por água, luz e fertilizantes. 

Por isso, o uso de herbicidas em pré-emergência tem se mostrado uma ferramenta indispensável. Ao eliminar o caruru antes mesmo do plantio da cultura principal, o produtor garante uma janela de crescimento livre de competição, permitindo que a lavoura expresse seu máximo potencial produtivo. Essa estratégia, no entanto, deve ser acompanhada por práticas como a rotação de culturas, cobertura de solo e controle mecânico quando possível.

A resistência do caruru-palmeri não representa apenas uma ameaça pontual, mas sim um desafio sistêmico ao modelo de manejo atual. Caso as práticas não sejam revisadas, há risco real de que a resistência se espalhe para outras espécies de plantas daninhas, ampliando os prejuízos no campo e comprometendo a sustentabilidade da produção agrícola. A vigilância constante, a adoção de boas práticas agrícolas e o investimento em manejo integrado são os caminhos mais seguros para evitar que o caruru se torne ainda mais dominante.

Tratar a resistência e a alelopatia como um “perigo silencioso” não é exagero, mas sim uma forma de compreender a gravidade do impacto dessa planta daninha nas lavouras brasileiras. A prevenção, o monitoramento e o uso racional de herbicidas são essenciais para evitar que o caruru-palmeri comprometa a produtividade e a competitividade da agricultura no país.

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