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Os Fiagros são confiáveis? 

Recuperação judicial causou um debate sobre o tema



Recuperação judicial causou um debate sobre o tema Recuperação judicial causou um debate sobre o tema - Foto: Canva

A recuperação judicial da Cras Brasil, um dos maiores produtores de óleo de amendoim do país, reacendeu o debate sobre os riscos da alavancagem no agronegócio via instrumentos do mercado de capitais, como os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (FIAGROs). A empresa, que tem sede no Rio de Janeiro, entrou com pedido de recuperação judicial na 4ª Vara Cível de Petrópolis (RJ), acumulando uma dívida estimada em R$ 561 milhões. Entre os principais credores estão Banco do Brasil (R$ 84,3 milhões), Caixa Econômica Federal (R$ 74,6 milhões), Bradesco (R$ 23,1 milhões) e Itaú (R$ 17,8 milhões).

De acordo com o presidente da FEAGRO MT, Isan Rezende, parte da crise está relacionada à exposição da companhia a um FIAGRO da gestora Capitânia, que tinha como um de seus principais ativos um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) de R$ 50 milhões emitido pela própria Cras Brasil. Na avaliação de Rezende, a dinâmica desse tipo de operação, atrelada a custos financeiros que sofrem forte impacto da taxa Selic, comprometeu o fluxo de caixa e tornou a operação da empresa inviável.

“O Fiagro, operado pelo mercado de capitais, é inviável economicamente quando atrelado aos preços dos produtos agropecuários das empresas do agronegócio”, escreveu Isan, em publicação no LinkedIn. Ele argumenta que a simples alta da taxa de juros já é suficiente para pressionar as contas dos devedores, gerar inadimplência e forçar renegociações.

O posicionamento gerou reação. Eduardo Lima Porto, diretor da consultoria LucrodoAgro, rebateu a análise. Porto respondeu a publicação original com a expressão em latim “Nemo auditur propriam turpitudinem allegans”, que significa “ninguém pode se beneficiar da própria torpeza”. A mensagem, na prática, questiona se a empresa teria sido forçada a contratar esse tipo de operação financeira. Segundo ele, assumir esse risco foi uma decisão voluntária da companhia, e culpar o FIAGRO seria, na sua visão, uma tentativa de deslocar a responsabilidade da má gestão para o modelo de financiamento.


 

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