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Especialistas alertam para riscos e falta de clareza no Plano Safra 2025/2026 durante “A Voz do Mercado”

Edição especial trouxe análise técnica e política sobre os recursos



Foto: Pixabay

O programa A Voz do Mercado, transmitido nesta quarta-feira, 2 de julho, reuniu especialistas do setor agropecuário para discutir os principais pontos do Plano Safra 2025/2026. Sob a condução de Ivan Wedekin e Suelen Farias, a edição especial contou com a participação do deputado federal Arnaldo Jardim, do diretor de Agronegócios do Banco Santander Brasil, Carlos Aguiar, e do consultor Luiz Cláudio Caffagni, sócio da Archer Education. Em pauta, a análise crítica sobre a composição dos R$ 516,2 bilhões anunciados pelo Governo Federal e os impactos reais para o financiamento do campo.

Ivan Wedekin destacou que o tema da vez era “mais justo, menos seguro”, indicando a complexidade do cenário atual do crédito rural. Ele alertou para um aumento substancial do custo de capital, colocando os juros como um dos principais entraves para o produtor. “Nesta safra, o custo dos juros será tão importante quanto o custo de fertilizantes. A diferença é que juro não é tecnologia. Semente, adubo, são. Juros sã custos puros e comprometem a capacidade de investimento do produtor”, frisou.

Em sua análise, o deputado Arnaldo Jardim apontou uma série de inconsistências no anúncio do novo plano e criticou a redução de recursos para a equalização das taxas de juros.

“O governo não fez o esforço que havia anunciado como necessário. O valor para equalização caiu de R$ 16,3 bilhões para R$ 13,4 bilhões. Isso, considerando uma inflação de 17,5%, é ainda mais preocupante”, declarou.

Arnaldo também chamou atenção para a forma como as CPRs (Cédulas de Produto Rural) foram incluídas na contabilidade do plano, o que, segundo ele, distorce os números.

“Nunca foi prática incluir CPRs no volume total do Plano Safra. Isso infla artificialmente os dados. O governo tenta justificar dizendo que são instrumentos não tributados e, portanto, incentivados. Mas essa inclusão gera insegurança e falta de clareza”, afirmou o deputado.

Ele ainda alertou para o descompasso entre a intenção anunciada e o que, de fato, chega ao produtor:

“No ano passado, anunciaram R$ 479 bilhões, mas só foram executados cerca de R$ 430 bilhões. O valor da subvenção respondia por apenas 1,4% do total. Agora caiu para 1,2%. Isso mostra o recuo do governo em termos de estímulo direto ao agro”, completou.

Representando o setor financeiro, Carlos Aguiar, do Santander, reforçou que o Plano Safra tem importância institucional, mas menos operacional para os bancos privados:

“Para nós, o plano representa cerca de 10% da carteira total. Ele funciona mais como um termômetro do humor do produtor e um indicativo de tendências de financiamento. Os grandes bancos privados operam principalmente com recursos próprios, como LCAs, e repassam as exigibilidades do Pronaf para outras instituições. Por isso, não dependemos diretamente das linhas equalizadas”, explicou.

Carlos também abordou o impacto da possível tributação sobre os títulos do agro:

“Hoje, com a Selic alta, o efeito do imposto pode parecer diluído. Mas, no futuro, com juros mais baixos, esse impacto será direto no custo do crédito para o produtor. Isso precisa ser discutido com responsabilidade”, disse.

Já o consultor Luiz Cláudio Caffagni aprofundou a discussão técnica sobre o risco de dupla contagem das CPRs nos dados oficiais:

“Quando o banco empresta via LCA, ele normalmente exige um título de crédito como garantia. Pode ser uma CPR, mas isso já está contabilizado nas estatísticas de crédito rural do Banco Central. Incluir novamente o valor da CPR como recurso novo é uma distorção. Isso precisa ser revisto com urgência para não mascarar o volume real de crédito disponível”, explicou.

Ao final da edição, Ivan Wedekin fez um balanço contundente da discussão, chamando atenção para a responsabilidade de se apresentar dados transparentes ao setor agropecuário.

“Nós temos um problema estrutural com a comunicação dos números. O governo anunciou R$ 459 bilhões no ano passado, sendo R$ 293 bilhões para custeio e comercialização. Agora, com a inclusão das CPRs, esse número saltou para R$ 401 bilhões — mas é o mesmo dinheiro contado duas vezes. Isso gera manchetes que não refletem a realidade enfrentada pelo produtor.”

Wedekin também destacou pontos positivos do plano, como o reforço ao crédito para agricultura familiar, a ampliação do Pronamp, e a continuidade de programas sustentáveis. No entanto, foi enfático ao afirmar que os dados não podem ser tratados como vitrine:

“O plano safra não pode ser uma ilusão estatística. Há avanços, sim, mas também muitas omissões. A agricultura brasileira vive um momento sensível, e precisamos de clareza para tomar decisões. O foco tem que ser o produtor, não o marketing. Nosso partido aqui é o agro, e seguiremos atentos para que os números correspondam à realidade no campo.”

 

 

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