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Da conscientização à ação: agricultura na vanguarda da descarbonização

Portal Agrolink conversou exclusivamente com o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias



A agricultura pode desempenhar um papel importante no sequestro de carbono da atmosfera A agricultura pode desempenhar um papel importante no sequestro de carbono da atmosfera - Foto: Pixabay

Ao longo dos últimos anos, o mundo vem reconhecendo a urgência em enfrentar a crise climática e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O mundo está despertando para a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Porém, apesar dos esforços globais, as emissões continuam a crescer, com a concentração de CO2 na atmosfera atingindo níveis alarmantes. 

O Portal Agrolink conversou exclusivamente com o engenheiro agrônomo João Pedro Cuthi Dias, que tratou sobre a desaceleração das emissões e a expansão das energias limpas, além de destacar o papel da agricultura nesse contexto. 

Ao longo da última década, tem sido observada uma desaceleração estrutural no crescimento das emissões de gás carbônico, um sinal encorajador, porém não suficiente diante dos desafios climáticos globais. Como destaca João Pedro Cuthi Dias, engenheiro agrônomo, a conscientização sobre a urgência em reduzir as emissões de gases de efeito estufa está aumentando em todo o mundo. Desde a Conferência das Partes (COP25) em Paris, a necessidade de conter o aumento da temperatura média global tem sido amplamente discutida. Em 2023, atingimos um novo recorde de temperatura, chegando perigosamente perto da marca crítica de 1,5°C. Este aumento alarmante da temperatura está ligado diretamente ao contínuo crescimento das emissões de gases estufa, que persistem em níveis historicamente altos, alcançando cerca de 420 a 430 partes por milhão de CO2 na atmosfera. Essa tendência é exacerbada pelo uso predominante de fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis, como o carvão, apesar do crescente interesse em veículos elétricos. Embora a transição para veículos elétricos seja uma evolução positiva, ela ainda é comprometida pela dependência contínua da geração de eletricidade a partir de fontes poluentes, como o carvão. Essa realidade sublinha a complexidade da descarbonização e a necessidade urgente de soluções mais abrangentes e sustentáveis.

João Pedro Cuthi Dias enfatiza a importância da descarbonização como uma via fundamental para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. No contexto brasileiro, avanços significativos têm sido feitos na produção de biocombustíveis, como o etanol derivado da cana-de-açúcar e do milho. Além disso, há uma perspectiva promissora com o desenvolvimento do etanol de segunda geração, produzido a partir da palha. Estes esforços representam uma transição gradual e necessária para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, contribuindo assim para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa.

No entanto, Cuthi Dias destaca que esse processo de descarbonização enfrenta obstáculos e progresso lento. A urgência de reduzir o consumo de combustíveis fósseis é evidente, especialmente considerando que a demanda global por petróleo permanece alta, mesmo diante dos esforços para promover energias alternativas. O risco iminente de ultrapassar um ponto crítico, além do qual as mudanças climáticas podem se tornar irreversíveis, exige uma ação mais rápida e decisiva por parte da comunidade internacional.

Um dos principais desafios enfrentados é a lacuna entre os compromissos políticos e os recursos financeiros efetivamente disponibilizados para combater as mudanças climáticas. Embora tenha havido promessas de investimentos significativos, como os dois trilhões de dólares por ano mencionados, a realidade é que esses fundos muitas vezes não se materializam na escala necessária. O fracasso em cumprir esses compromissos compromete os esforços globais para conter o aumento das temperaturas e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, as mudanças climáticas estão provocando consequências adicionais, como o aumento do consumo de energia para combater o calor extremo. No Brasil, por exemplo, o pico de consumo de energia está ocorrendo cada vez mais cedo durante o dia, refletindo a necessidade crescente de refrigeração em resposta às temperaturas elevadas. Embora haja avanços na diversificação das fontes de energia, como a geração distribuída, há ainda um longo caminho a percorrer para garantir uma transição energética eficaz e sustentável.

O Brasil se destaca no aproveitamento de resíduos agrícolas, como o bagaço de cana-de-açúcar, para a produção de energia, reduzindo assim a pegada de carbono. Além disso, o país desenvolveu tecnologias inovadoras, como a fixação biológica de nitrogênio por meio de bactérias, que minimizam o uso de fertilizantes nitrogenados e a consequente emissão de óxido nitroso, um gás extremamente prejudicial à atmosfera. Enquanto outros países enfrentam desafios para reduzir suas emissões, o Brasil demonstra uma abordagem proativa e eficaz na busca por práticas agrícolas mais sustentáveis, tanto na produção de alimentos quanto na geração de energia. Essas iniciativas oferecem um modelo valioso para enfrentar os desafios ambientais globais e destacam a necessidade de cooperação internacional para adotar estratégias semelhantes em todo o mundo.

Entenda

A análise dos gráficos sobre o fornecimento de energia a partir do carvão nas economias avançadas revela um padrão marcante de aumento significativo após a Segunda Guerra Mundial. Este aumento está diretamente ligado ao crescimento econômico e populacional de países como China e Índia, que passaram a demandar mais energia para atender às necessidades de uma população em ascensão. O uso extensivo de fontes de energia baratas, como o carvão, resultou em um aumento nas emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para as mudanças climáticas globais.

Diante desse cenário, é urgente estagnar o aumento das emissões e reduzir a concentração de carbono na atmosfera. Uma abordagem fundamental para alcançar esse objetivo é através da agricultura, que pode desempenhar um papel importante no sequestro de carbono da atmosfera. Transformar áreas de pastagem degradada em pastagens produtivas é uma estratégia eficaz para capturar carbono por meio da fotossíntese e promover a saúde do solo, aproveitando a microbiota presente para transformar o carbono em matéria orgânica.

Além da redução das emissões de gases de efeito estufa, é essencial usar a natureza como aliada nesse processo. Isso inclui a eliminação do uso de fertilizantes sintéticos, que contribuem para a emissão de óxido nitroso, um gás extremamente prejudicial à atmosfera. O estímulo à vida no solo, por meio de práticas agrícolas sustentáveis, pode promover a fixação biológica de nitrogênio e contribuir para a redução das emissões agrícolas.

Enfrentar os desafios das mudanças climáticas requer uma abordagem multifacetada que envolva tanto a redução das emissões quanto o sequestro de carbono. O Brasil tem desempenhado um papel importante nesse sentido, demonstrando práticas agrícolas sustentáveis que podem servir de exemplo para o mundo. No entanto, é necessário um esforço global coordenado para promover a transição para uma economia baseada em fontes de energia renováveis e limpas, a fim de mitigar os impactos das mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável para as gerações futuras.
 

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