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Substância extraída da semente do açaí pode tratar ansiedade

Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) têm realizado estudos que podem colaborar com o tratamento de transtornos de ansiedade


O estudo destaca-se por seu foco na semente, em contraste com a maioria das pesquisas que exploram apenas a polpa do fruto O estudo destaca-se por seu foco na semente, em contraste com a maioria das pesquisas que exploram apenas a polpa do fruto - Foto: Divulgação

Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) têm realizado estudos que podem colaborar com o tratamento de transtornos de ansiedade. Uma fruta nativa da região amazônica, o açaí, até então famoso por sua polpa, está sendo investigado por seu potencial no combate à ansiedade, especialmente através das propriedades da sua semente.

Desde 2014, o grupo de pesquisa Farmacologia Cardiovascular e Plantas Medicinais, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag) da UERJ, tem se dedicado a explorar os benefícios do extrato da semente de açaí. A coordenadora do grupo, a professora Angela de Castro Resende, destaca que o extrato da semente é particularmente rico em polifenóis, substâncias que demonstraram diversas propriedades benéficas, incluindo ação ansiolítica.

O estudo destaca-se por seu foco na semente, em contraste com a maioria das pesquisas que exploram apenas a polpa do fruto. A professora Angela explica que, além da ação ansiolítica, o extrato da semente apresenta uma gama de efeitos positivos, como ação anti-hipertensiva, vasodilatadora, anti-inflamatória e antioxidante.

Graziele Freitas de Bem, participante da pesquisa e professora do Ibrag, ressalta a importância dos efeitos antioxidantes do extrato da semente do açaí, que levaram à investigação de seu potencial no tratamento e prevenção de doenças neurodegenerativas.

A ansiedade é uma questão de saúde pública global, e no Brasil, sua prevalência é ainda maior, afetando cerca de 9,3% da população. A pesquisadora Graziele de Bem alerta para uma verdadeira epidemia de ansiedade, exacerbada pelo aumento no uso de psicofármacos, especialmente após a pandemia de Covid-19.

Diante desse cenário, a pesquisa da UERJ traz esperança. Angela Resende destaca que os fármacos tradicionalmente utilizados no tratamento da ansiedade muitas vezes acarretam efeitos adversos significativos, enquanto os estudos com o extrato da semente do açaí têm mostrado poucos efeitos colaterais além dos benéficos.

Os testes realizados com animais têm apresentado resultados animadores, evidenciando a eficácia do extrato da semente do açaí no tratamento da ansiedade. Em um estudo publicado na revista "Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism", os pesquisadores observaram uma redução significativa nos sintomas de ansiedade em ratos tratados com o extrato.

O processo de extração do extrato é complexo e demanda vários dias. As sementes são trituradas e submetidas a uma solução de água e álcool, resultando em um pó que é utilizado nos testes com os animais. Esse extrato, denominado ASE (Açaí Seed Extract), tem mostrado resultados não apenas no tratamento da ansiedade, mas também na prevenção de doenças como obesidade e diabetes.

Ainda de acordo com o estudo, os testes de comportamento avaliaram a capacidade de resposta dos ratos quando colocados em situações adversas. Um deles foi o de campo aberto, quando os animais ficam soltos em uma pequena caixa retangular. A forma de locomoção neste espaço pode indicar um comportamento ansioso. Outro teste foi o de nado forçado, mostrando que os roedores com maiores indícios de ansiedade tentavam escapar do recipiente ou despendiam mais energia para se manter na superfície da água. Foi realizada avaliação dos tecidos nervosos dos animais, com o objetivo de identificar a produção de hormônios e receptores que ajudam o organismo a regular a ansiedade. Os resultados dessa análise mostram que os animais considerados ansiosos tiveram aumento excessivo de concentrações do hormônio liberador de corticotrofina, substância essencial na reação dos roedores diante dessas situações.

Os próximos passos da pesquisa incluem o registro e patenteamento do ASE, bem como o início dos testes em seres humanos. Parcerias com a indústria farmacêutica são essenciais para viabilizar o desenvolvimento e a comercialização de tratamentos baseados no extrato da semente do açaí.

Os estudos desenvolvidos pela UERJ na linha da Farmacologia de Produtos Naturais contam com o apoio de importantes agências de fomento, destacando-se o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Essas parcerias são fundamentais para impulsionar a pesquisa científica e oferecer novas soluções para os desafios de saúde enfrentados pela sociedade.

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