Mercado do café sente queda nas exportações e pressão de custos com fertilizantes
Setor monitora impactos da tarifa dos EUA

O Brasil exportou 2,6 milhões de sacas de café (60 kg) em junho, número que representa queda de 12% em relação a maio e de 28% frente ao mesmo mês de 2024. A redução nas exportações ocorre em meio à combinação de fatores como colheitas anteriores abaixo do esperado, recordes históricos de embarques recentes e mudanças no cenário internacional.
Segundo informações da atualização mensal sobre o mercado do café do Rabobank Brasil, assinada pelo analista setorial Guilherme Morya, apesar do recuo observado no mês passado, o país exportou 45,6 milhões de sacas no ciclo 2024/25 (julho a junho), o terceiro maior volume da história, atrás apenas dos ciclos 2023/24 e 2020/21. Para 2025, a projeção é de 42 milhões de sacas exportadas.
No campo, a relação de troca tem sido desfavorável ao produtor. A queda nos preços do café, combinada ao aumento nos custos de fertilizantes — especialmente da ureia — pressiona a rentabilidade. Em julho, foram necessárias 1,6 sacas de café para comprar uma tonelada de fertilizante, alta de 35% desde o início do ano. Ainda assim, o índice segue melhor que o registrado no mesmo período de 2024.
Entre janeiro e julho, os preços do café arábica e conilon no Brasil recuaram 25% e 47%, respectivamente. A pressão vem do avanço da colheita nacional e das boas expectativas de produção no Brasil e no Vietnã. No entanto, o cenário mudou após o anúncio da tarifa de 50% sobre o café brasileiro pelos Estados Unidos. O mercado ficou mais volátil e, apesar de ainda não haver cancelamentos de contratos, também não foram registradas novas compras, com exportadores e importadores em compasso de espera.
A tarifa norte-americana pode reconfigurar o comércio internacional de café, afetando cadeias produtivas e de consumo. A demanda nos EUA preocupa, já que fatores econômicos e inflacionários têm limitado o consumo, e o aumento dos custos pode agravar ainda mais o quadro.
No campo, a colheita avança bem apesar das chuvas acima da média que, em junho, atrasaram os trabalhos em algumas regiões. Estimativas privadas apontam que mais de 50% do arábica e 90% do conilon já foram colhidos. No entanto, há relatos de problemas no rendimento do café arábica, especialmente na conversão do café cereja para o grão beneficiado, resultado da escassez de chuvas em fevereiro — fator já incorporado nas estimativas do Rabobank.