Desvalorização global causa queda nos preços do trigo
Os preços do trigo no mercado brasileiro recuaram na última semana

Em linha com o movimento observado no cenário internacional, os preços do trigo no mercado brasileiro recuaram na última semana, refletindo a combinação entre desvalorizações cambiais, retração externa e importações aquecidas. Segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), essa pressão não deve ser momentânea, especialmente diante do comportamento da oferta e da paridade de importação, que seguem desfavoráveis ao produtor nacional.
Embora as estimativas mais recentes sinalizem uma produção levemente menor para a safra 2025 — estimada em 7,81 milhões de toneladas — o mercado encontra-se abastecido por estoques de passagem elevados. De acordo com os analistas do Cepea, o volume acumulado ao longo de 2024, impulsionado pelo avanço das importações, cria um colchão de segurança no abastecimento interno, mas impõe desafios à valorização do grão nacional.
Os dados da Conab, compilados e avaliados pelo Cepea, apontam uma queda expressiva na área cultivada com trigo no Brasil: serão 2,55 milhões de hectares, redução de 16,7% frente à temporada passada. A justificativa para esse recuo passa pelo desânimo do produtor frente à rentabilidade apertada e às incertezas climáticas, especialmente no Sul do País, principal polo triticultor.
Por outro lado, a perspectiva de aumento na produtividade — com expectativa de 3,07 t/ha, crescimento de 19% em relação à safra anterior — tende a suavizar parte das perdas na produção total. Esse avanço técnico reforça a resiliência da cultura diante de um cenário adverso, mas não é suficiente para reverter a tendência de queda nas cotações.
A desvalorização do dólar frente ao real, somada à retração nos preços internacionais, torna o trigo importado mais competitivo. Isso acaba fortalecendo o apetite comprador da indústria moageira por grãos estrangeiros, ao mesmo tempo em que limita a demanda pelo cereal nacional. Para os produtores, o cenário impõe uma reavaliação estratégica sobre custos, momento de venda e possíveis alternativas dentro da propriedade.
Apesar do ambiente de pressão, há quem veja nesse movimento uma oportunidade de reorganização da cadeia, especialmente se aliado a políticas de apoio à comercialização e investimentos em tecnologia. No entanto, para que isso ocorra, será preciso mais que produtividade — será preciso fôlego diante de um mercado cada vez mais volátil e integrado globalmente.