Alta nos preços da soja acende alerta no mercado e reforça disputa entre compradores
Para o produtor rural, o momento é estratégico para travar preços

Os preços da soja registraram alta no início de setembro, impulsionados por fatores cambiais e demanda aquecida. Segundo o Cepea, exportações em ritmo forte, valorização do dólar e prêmios em alta colocam em xeque o equilíbrio entre o consumo interno e externo do grão. Levantamento recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) aponta que o bom desempenho dos embarques brasileiros de soja em grão e óleo tem intensificado a concorrência entre indústrias nacionais e compradores estrangeiros. O movimento reflete diretamente nos prêmios de exportação, que estão em elevação.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pelo Cepea, o Brasil exportou 9,33 milhões de toneladas de soja em agosto. Embora o volume represente uma queda de 23,8% em relação a julho — comportamento sazonal típico para o período —, trata-se de um recorde histórico para o mês. No acumulado de 2024, os embarques somam 86,5 milhões de toneladas, também um recorde.
“Há um redirecionamento da oferta para o mercado externo, motivado pela competitividade cambial. Isso tem pressionado as cotações internas”, afirma o pesquisador Lucílio Alves, do Cepea. Segundo ele, a valorização do dólar frente ao Real aumenta o apetite dos exportadores e reduz a disponibilidade para o consumo doméstico.
Esse cenário tem provocado reações em cadeia no setor produtivo. Em Mato Grosso, maior estado produtor de soja do país, produtores já observam maior liquidez nas negociações. “O ritmo de comercialização acelerou com a recente recuperação dos preços, especialmente nos portos. É um alívio após meses de mercado travado”, relata o produtor rural Flávio Medeiros, da região de Sorriso (MT).
Além da questão cambial, outro fator que contribui para a valorização é o aumento do prêmio pago pela soja brasileira, diante da demanda firme da China e de outros países asiáticos. A expectativa do mercado é de que o ritmo de exportações siga aquecido até meados de outubro, antes da entrada da safra norte-americana.
No entanto, o aquecimento do mercado externo gera preocupação para as indústrias esmagadoras no Brasil, que enfrentam dificuldade para originar matéria-prima a preços competitivos. “Se os preços seguirem em alta, a margem da indústria pode ser comprimida, o que impacta diretamente na produção de farelo e óleo para o mercado interno”, avalia Maurício Palma Nogueira, consultor em agronegócio.
A continuidade desse movimento dependerá de variáveis como o câmbio, o avanço da colheita nos Estados Unidos e a demanda chinesa nas próximas semanas. Para o produtor rural, o momento é estratégico para travar preços e proteger a renda. Já para a indústria, o desafio será manter a competitividade em um cenário de oferta pressionada e custos em elevação.