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“O agro nos une”: Paulo Hermann propõe nova narrativa para superar polarização no Brasil

“Comida é paz. E quem faz comida é o agro. Logo, o agro é paz também”



Foto: Sheila Flores

Consultor estratégico da Fiergs defende que o agronegócio assuma protagonismo na construção de pontes entre extremos ideológicos e promova uma nova diplomacia ambiental.

No atual cenário de polarização política e ideológica que marca o Brasil — e o mundo —, o agronegócio pode ser um elo de reconciliação nacional. Essa é a proposta de Paulo Hermann, CEO da PH Advisory Group e consultor estratégico da Fiergs, que lança a ideia do movimento “O Agro nos Une” — uma articulação para reposicionar o agro como um vetor de união e empatia social.

“Comida é paz. E quem faz comida é o agro. Logo, o agro é paz também”, resume Hermann. A declaração foi feita durante o Inter, evento voltado ao debate de soluções para o agronegócio no Sul do país.

O agro como construtor de pontes

Para Hermann, o agronegócio brasileiro tem uma responsabilidade que vai além da produção de alimentos: pode e deve assumir papel estratégico na construção de um discurso de união e empatia. “O mundo está carente de boas lideranças. E o agro pode ser esse construtor de pontes, porque alimenta mais de um bilhão de pessoas no planeta”, afirma.

Segundo ele, o movimento O Agro nos Une se propõe a unir o país em torno de uma agenda comum: comida, energia e vestuário — todas cadeias em que o agro tem papel central.

Polarização e desinformação

Ao abordar a crescente divisão ideológica, Hermann critica a generalização de críticas ao setor. “Dizem que o agro é poluidor, concentrador de renda. Mas são falácias de quem desconhece a tecnologia do campo”, rebate. E acrescenta: “97% dos produtores fazem as coisas certas. Mas é nos 10% de terras não tituladas, na Amazônia, onde ocorrem os crimes ambientais que tanto nos condenam”.

O executivo reconhece a existência de extremos e defende o equilíbrio: “Polos são importantes para a democracia. O problema é a radicalização, quando um lado não quer mais ouvir o outro”.

Oportunidades em infraestrutura e logística

Hermann também apontou gargalos logísticos que comprometem a competitividade do agro gaúcho, especialmente após os impactos das chuvas em 2024. “Privatizamos ferrovias e destruímos todas. Nosso sistema fluvial é subutilizado. Perdemos quase 90 dias de operação industrial por falta de alternativas viáveis”, alertou.

Ele defendeu o investimento em portos e retomada do modal ferroviário como políticas estratégicas. “Não é possível que o Sul do Brasil não tenha uma ferrovia eficiente. Isso compromete nossa logística e nossa sustentabilidade”.

Marca e narrativa global

Apesar do reconhecimento da produtividade brasileira, Hermann lamenta a ausência de uma marca agro nacional forte. “Nós não temos uma narrativa empática. Exportamos alimentos, mas o mundo ainda nos vê com desconfiança. Precisamos de um ‘Made in Brasil’ com orgulho, tecnologia e sustentabilidade”, defende.

Ele cita avanços como o uso de drones para pulverização localizada e sistemas de irrigação com sensores de umidade como exemplos de tecnologias mal comunicadas. “Contamos mal a nossa história. Falta empatia. E sobra arrogância”, avalia.

Caminho do otimismo

Mesmo diante de desafios, Hermann encerra com otimismo. “A tecnologia nos trouxe até aqui, mas não garante que vamos seguir evoluindo. É preciso formar jovens líderes, qualificar o agro globalmente. E lembrar que somos privilegiados: temos água, solo e clima. Precisamos, apenas, armazenar e usar com inteligência”.

Ao refletir sobre o futuro, Hermann compartilhou uma observação pessoal que traduz sua visão de mundo: “Minha dentista uma vez me disse: ‘Paulo, eu nunca vi uma pessoa bem-sucedida que fosse pessimista’. E é verdade. O otimismo é uma escolha estratégica para quem quer transformar.”

A proposta do O Agro nos Une ainda está em formulação, mas já nasce com um chamado claro: reunir o setor para reconstruir pontes, dentro e fora do Brasil.

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