Por que o manejo integrado virou prioridade nas lavouras?
O papel do manejo integrado no combate às daninhas resistentes

Produtores rurais em todo o Brasil têm enfrentado um desafio crescente nas últimas safras: o aumento da resistência de plantas daninhas aos herbicidas. Esse fenômeno, impulsionado principalmente pelo uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação, já contabiliza 58 casos confirmados no país, envolvendo 29 espécies resistentes, como a buva, o caruru, o capim-amargoso e o capim-pé-de-galinha. Diante desse cenário, o manejo integrado surge como a alternativa mais eficaz e sustentável para preservar a produtividade e evitar perdas econômicas no médio e longo prazo.
Entre os principais erros cometidos no campo, destaca-se a ausência de rotação de culturas e de princípios ativos, além da negligência em práticas preventivas, como a limpeza de equipamentos agrícolas e a utilização de sementes certificadas. Ainda é comum o uso do mesmo herbicida por vários ciclos seguidos, o que intensifica a pressão de seleção natural e favorece o aparecimento de resistência.
O manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) propõe a combinação de diferentes estratégias de controle — químico, biológico e cultural — com base no monitoramento constante das áreas de cultivo. O uso de palhada, plantas de cobertura e rotação de culturas com espécies como milho, sorgo ou braquiária são práticas recomendadas para reduzir a infestação. Em áreas de alta pressão, o controle mecânico pode ser utilizado de forma complementar, interrompendo o ciclo das plantas daninhas resistentes.
Embora o controle biológico seja mais comum no combate a pragas e doenças, sua aplicação no manejo de plantas daninhas começa a ganhar espaço. Microrganismos e insetos que atacam sementes ou plântulas têm sido estudados como alternativas promissoras, especialmente em sistemas de produção agroecológicos ou com menor dependência de químicos.
A viabilidade econômica do manejo integrado é uma preocupação legítima, sobretudo para pequenas propriedades. No entanto, embora o investimento inicial seja maior, o retorno compensa ao longo do tempo, com redução no uso de insumos, maior estabilidade produtiva e menor risco de perdas. Em lavouras com resistência instalada, os custos com controle podem triplicar — um cenário evitável com planejamento e diversificação de práticas.
Casos práticos de sucesso vêm sendo observados em diversas regiões do Brasil. Em áreas com possibilidade de até 2,5 safras por ano, como no Cerrado, a integração entre culturas e uso de cobertura vegetal têm contribuído para a redução da incidência de plantas resistentes. Em cultivos como o tomate, a combinação de medidas culturais, químicas e físicas tem sido fundamental para manter o controle eficaz e evitar prejuízos.
As perspectivas para o futuro envolvem maior adoção de tecnologias digitais no campo. Sensores, drones e softwares de gestão agrícola já permitem mapear focos de infestação em tempo real, otimizando a aplicação de defensivos e reduzindo custos operacionais. Paralelamente, cresce a demanda por capacitação técnica e desenvolvimento de novos agentes de controle biológico, além da formulação de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis.
A tendência é clara: o manejo integrado se consolida como uma estratégia indispensável diante do avanço da resistência. Trata-se de uma mudança de paradigma na condução das lavouras, exigindo conhecimento técnico, planejamento e ação coordenada. Ao integrar diferentes formas de controle, o setor agropecuário se fortalece — com ganhos econômicos, ambientais e produtivos.