Recentes conflitos evidenciam dependência externa de fertilizante
85% do adubo utilizado no País é importado

O Brasil é altamente dependente da importação de componentes – cerca de 85% do adubo utilizado no País é importado, segundo relatório da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos). Cloreto de potássio, Ureia, super simples, sulfato de amônio e map são os fertilizantes mais consumidos no Brasil – nutrem culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, algodão e café.
A produção de nitrogenado no Brasil vem passando por um momento conturbado. No caso da ureia, a Petrobras se apresentava como principal empresa produtora até 2017, quando decidiu sair do mercado de fertilizantes. Assim, a unidade de Araucária (PR) foi desativada, e outras duas unidades localizadas no Nordeste foram arrendadas para a Unigel, em 2019. Mas, devido à valorização do gás natural e à queda dos preços da ureia e da amônia em 2023, a empresa estatal resolveu paralisar a atividade. Neste contexto, segundo o relatório da Anda, não houve registro de produção de ureia no Brasil em 2024, e apenas uma pequena parcela de sulfato de amônio foi manufaturada.
Segundo a Secex, a ureia importada pelo Brasil em 2024 teve como origem a região do Oriente Médio (Irã, Catar, Arábia Saudita e Barein), que representou 39,3% da quantidade adquirida. A Rússia é outro país que fornece a ureia para o Brasil, correspondendo por 18% da quantidade importada no ano passado. O sulfato de amônio também é altamente dependente do mercado externo, com praticamente 100% sendo importado, sobretudo da China – origem de 75% do produto.
Para os fosfatados, o adubo super simples é o produto menos dependente da importação, sendo que cerca de 60% do fertilizante é produzido no Brasil. Já no caso do MAP, cerca de 70% a 80% do fertilizante comercializado no mercado interno é procedente do exterior – em 2024, os principais fornecedores foram Rússia, Marrocos e Arábia Saudita. Quanto ao potássio, a quantidade importada ficou em torno de 14 milhões de toneladas no ano passado, sendo que 39% do fertilizante foi importado da Rússia; 35%, do Canadá; e 10%, do Uzberquistão, conforme apontam dados da Secex (2025). A produção nacional desse insumo corresponde por menos de 3% do utilizado na agricultura brasileira.
Em 2022, o conflito entre Rússia e Ucrânia evidenciou a fragilidade no abastecimento de adubo – o Brasil é demandante de ureia, MAP e cloreto de potássio do país russo. As conversas diplomáticas garantiram o fornecimento desses fertilizantes, mas com valores internacionais elevados. A situação daquele momento só não ficou mais dramática porque os preços dos produtos agrícolas ainda estavam elevados e o poder de compra, preservado. Nesse cenário, ainda em 2022, o governo federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), visando ser uma referência para o planejamento do setor de fertilizantes nas próximas décadas.
Em 2024, a Petrobras aprovou a implantação da unidade de fertilizantes em Três Lagoas (MS) – o projeto estava hibernado desde 2015, mas sua operação deve se iniciada a partir de 2028. Também no ano passado, foi aprovada a licença para exploração da mina de potássio em Autazes (AM). Já a companhia Yara vem investindo no conceito de descabornização da cadeia de produção de fertilizantes, intensificando a produção de amônia verde a partir de hidrogênio verde, um combustível gerado a partir de fontes renováveis. Recentemente, primeiro quadrimestre de 2025, a Petrobras entrou em acordo com a Unigel e retomará a produção de fertilizantes.
O recente conflito entre Irã e Israel preocupou agentes de mercado de fertilizantes e produtores rurais, sobretudo os que demandam os nitrogenados que são dependentes do gás natural. A escalada do conflito no Oriente Médio e a aprovação do Parlamento iraniano de fechar o Estreito de Ormuz foram os dois momentos recentes mais tensos. Ressalta-se que o Estreito de Ormuz é uma região marítima que conecta o Golfo Persico e Golfo de Omã e uma via que transporte cerca de 30% de petróleo mundial e transita entre 38% e 40% da ureia comercializada no mercado global. Outro ponto que preocupou agentes foi o aumento do seguro contra risco de guerra para as embarcações com destino ao Oriente Médio.
Os projetos de construção e retomada de produção de fertilizantes no Brasil estão em andamento e são positivos para o longo prazo, mas, para a atual circunstância, o País ainda é fortemente dependente dos produtos importados, o que, por sua vez, deixa produtores nacionais vulneráveis, sobretudo os médios e pequenos, que possuem menos ferramentas de proteção da alta do custo de produção.