Tarifa dos EUA afeta vendas e preços do café
Brasil mantém liderança no café, apesar das tarifas

A expectativa de manutenção da tarifa de 50% proposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros tem gerado oscilação nos preços do café, impactando o mercado internacional e o ritmo das exportações brasileiras. Segundo informações do setor, até a última quarta-feira (16), os contratos futuros do arábica e do robusta registraram alta, impulsionados pela incerteza comercial. No entanto, a variedade robusta perdeu parte do suporte ao final da semana devido à maior oferta e à sinalização de negociações avançadas entre Brasil e EUA.
Embora o Brasil continue como principal fornecedor de café para os norte-americanos, a comercialização interna segue lenta. As vendas seguem abaixo dos níveis médios, e o ritmo de embarques permanece inferior ao da temporada anterior. Os Estados Unidos, maior consumidor global da bebida, têm enfrentado alta nos preços internos.
“No entanto, o Índice de Preços ao Consumidor já subiu em junho, com o início do repasse das tarifas e, com as taxas sobre os produtos brasileiros, os preços do café seriam afetados, pois os importadores dos EUA serão os responsáveis por pagar os custos adicionais e repassá-los aos consumidores. Essa perspectiva também levou alguns traders a apressar os embarques do Brasil no início da semana”, afirma Laleska Moda, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets.
Ela acrescenta que “esse movimento também se refletiu na alta dos futuros do arábica nos últimos dias, já que o Brasil tem uma maior disponibilidade de arábica no momento. Com a maioria dos outros produtores em sua entressafra, o Brasil assumiu um papel de liderança no fornecimento, empurrando o contrato de setembro para mais perto do nível de 310 c/lb na quarta e quinta-feira (17), apesar do recuo desta semana com a pressão da colheita”.
Em 14 de julho, os futuros do robusta chegaram a subir 8,8%, mas os preços voltaram a ceder com o avanço da oferta. No dia 16, o presidente-executivo do Cecafé, Marcos Matos, declarou que não há previsão de interrupção no fornecimento de café brasileiro aos Estados Unidos. “O governo e o setor brasileiro também estão trabalhando no assunto, com o café ocupando o centro das negociações em andamento sobre as tarifas dos EUA”, afirmou.
Desde abril, a Associação Nacional de Café (NCA) dos EUA mantém tratativas com representantes do governo Trump para tentar isentar o café brasileiro das tarifas adicionais, considerando o produto como estratégico. No entanto, até o momento, não houve acordo.
O consumo de café nos Estados Unidos permanece elevado. Segundo pesquisa da NCA, cerca de 66% dos adultos norte-americanos consumiram café diariamente em janeiro de 2025, com média de três xícaras por dia. Esse padrão se mantém estável há quatro anos, mesmo com a inflação e os preços elevados.
No Brasil, as vendas seguem abaixo da média. Em junho, a comercialização do arábica foi de 29%, enquanto a do robusta chegou a 35%, ambas aquém da média histórica de 38%. “O cenário atual também é de vendas mais lentas no Brasil. Muitos agricultores optaram por ficar fora do mercado nos últimos meses, após uma queda nos preços impulsionada pela pressão de oferta relacionada à colheita, levando a dados de comercialização abaixo da média”, diz Laleska Moda.
As exportações também refletiram esse cenário. Em junho, os embarques de arábica totalizaram 1,8 milhão de sacas, queda de 26,9% em relação a 2024. No caso do robusta, foram exportadas 476,3 mil sacas, número acima da média, mas ainda 42,2% inferior ao registrado no ano anterior.