Recuperação Judicial virou recurso para incompetência?
"A situação foi agravada pela ausência de gestão profissional em propriedades rurais"

O agronegócio brasileiro vive um momento delicado, marcado por um aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial (RJ). Segundo Leonardo Rodovalho, COO da Nagro, o mecanismo, antes reservado a situações extremas de insolvência, tornou-se um recurso recorrente diante de erros de gestão e decisões precipitadas em ciclos de alta. Em 2024, o número de RJs no setor cresceu 138% em relação a 2023, atingindo o recorde de mais de 1.270 processos, segundo a Serasa Experian.
“A combinação de otimismo excessivo com gestão financeira inadequada e acesso fácil ao crédito acabou se mostrando perigoso. A situação foi agravada pela ausência de gestão profissional em propriedades rurais, onde decisões financeiras são tomadas sem planejamento técnico”, comenta.
A queda brusca nos preços da soja e do milho, aliada a perdas por eventos climáticos, agravou o quadro e comprometeu o caixa de propriedades antes saudáveis. A consequência tem sido o uso da RJ como forma de alongamento forçado de dívidas, o que acaba por impactar negativamente todo o ecossistema agropecuário.
A banalização do instrumento tem levado instituições financeiras a adotarem medidas mais rígidas, como aumento dos juros e restrição ao crédito. Isso limita o acesso a financiamentos, desestimula revendas, afasta investidores dos Fiagros e pode, em médio prazo, resultar em retração no crédito rural. A solução, segundo Rodovalho, está na gestão profissional e no uso de ferramentas de análise de risco, renegociação estruturada e educação financeira, pilares fundamentais para evitar a judicialização excessiva.
“Caso não seja encontrado um equilíbrio, em dois ou três anos poderemos enfrentar uma retração significativa no crédito rural, que será sentido do campo à mesa do consumidor. Para evitar esse cenário, é necessário adotar uma abordagem multifacetada, que envolva maior rigor na análise dos pedidos de recuperação, programas de educação financeira para produtores e a criação de mecanismos alternativos de negociações de dívidas”, conclui.