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Recuperação Judicial virou recurso para incompetência?

"A situação foi agravada pela ausência de gestão profissional em propriedades rurais"



"A situação foi agravada pela ausência de gestão profissional em propriedades rurais" "A situação foi agravada pela ausência de gestão profissional em propriedades rurais" - Foto: Pixabay

O agronegócio brasileiro vive um momento delicado, marcado por um aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial (RJ). Segundo Leonardo Rodovalho, COO da Nagro, o mecanismo, antes reservado a situações extremas de insolvência, tornou-se um recurso recorrente diante de erros de gestão e decisões precipitadas em ciclos de alta. Em 2024, o número de RJs no setor cresceu 138% em relação a 2023, atingindo o recorde de mais de 1.270 processos, segundo a Serasa Experian.

“A combinação de otimismo excessivo com gestão financeira inadequada e acesso fácil ao crédito acabou se mostrando perigoso. A situação foi agravada pela ausência de gestão profissional em propriedades rurais, onde decisões financeiras são tomadas sem planejamento técnico”, comenta.

A queda brusca nos preços da soja e do milho, aliada a perdas por eventos climáticos, agravou o quadro e comprometeu o caixa de propriedades antes saudáveis. A consequência tem sido o uso da RJ como forma de alongamento forçado de dívidas, o que acaba por impactar negativamente todo o ecossistema agropecuário.

A banalização do instrumento tem levado instituições financeiras a adotarem medidas mais rígidas, como aumento dos juros e restrição ao crédito. Isso limita o acesso a financiamentos, desestimula revendas, afasta investidores dos Fiagros e pode, em médio prazo, resultar em retração no crédito rural. A solução, segundo Rodovalho, está na gestão profissional e no uso de ferramentas de análise de risco, renegociação estruturada e educação financeira, pilares fundamentais para evitar a judicialização excessiva.

“Caso não seja encontrado um equilíbrio, em dois ou três anos poderemos enfrentar uma retração significativa no crédito rural, que será sentido do campo à mesa do consumidor. Para evitar esse cenário, é necessário adotar uma abordagem multifacetada, que envolva maior rigor na análise dos pedidos de recuperação, programas de educação financeira para produtores e a criação de mecanismos alternativos de negociações de dívidas”, conclui.
 

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