Liberar plantio às margens de estradas gera polêmica na Argentina
Na Argentina, o cultivo em acostamentos está proibido desde 2008

A recente autorização do governo de São Paulo para o cultivo de milho, soja e cana-de-açúcar nas margens de rodovias estaduais provocou reações controversas na Argentina. Enquanto a medida brasileira foi apresentada como estratégia para prevenir incêndios e otimizar o uso do solo, especialistas e entidades argentinas veem com preocupação a possibilidade de uso produtivo dessas faixas, tradicionalmente associadas à conservação ambiental.
Na Argentina, o cultivo em acostamentos está proibido desde 2008 por regulamentação nacional. Segundo relatório do Conicet, essas áreas não cultivadas têm papel crucial na manutenção da biodiversidade e na sustentabilidade dos sistemas agrícolas. A entidade científica ressalta que as faixas laterais das estradas funcionam como corredores ecológicos, abrigando espécies benéficas ao controle biológico de pragas, o que pode reduzir a dependência de agroquímicos. Para os pesquisadores, a ocupação dessas áreas compromete serviços ecossistêmicos fundamentais.
Apesar de alguns produtores argentinos verem na medida paulista uma oportunidade de geração de recursos e expansão produtiva, principalmente em regiões onde a terra é escassa, autoridades locais mantêm postura cautelosa. A Agência Provincial de Segurança Rodoviária de Santa Fé (APSV) confirmou que a norma argentina continua em vigor e que os acostamentos devem permanecer livres, reforçando o argumento da segurança viária e ambiental.
A decisão do estado de São Paulo reacende, portanto, um antigo debate no país vizinho: até que ponto a expansão agrícola pode avançar sobre áreas destinadas à proteção ambiental? Em meio à crescente pressão por maior produtividade, o exemplo brasileiro é visto com reservas, destacando as diferenças entre os modelos de gestão territorial adotados pelos dois países.